A EDUCAÇÃO EM KANT
Por: Ev Eduardo Melo • 13/6/2019 • Artigo • 5.024 Palavras (21 Páginas) • 181 Visualizações
Unidade 1
O desenvolvimento do pensamento filosófico emerge de uma confluência de ideias e questionamentos acerca do conhecimento, buscando uma aproximação com a verdade e a existência humana. A busca incessante por formas de responder às perguntas sobre as relações que envolvem a sabedoria e o indivíduo demonstram uma constante preocupação com a compreensão do universo e do próprio pensamento. Sendo assim, esta unidade fornecerá as bases para que você reflita sobre o desvelamento do pensamento filosófico, trazendo à tona as relações estabelecidas entre a influência do mito e o princípio da razão. Para tanto, abordaremos os primórdios da filosofia antiga, demonstrando a busca do homem pelo conhecimento de si próprio, da moral, da ética e dos preceitos filosóficos marcados pelo diálogo, fortemente utilizado como método nos processos de formação. O pensamento medieval e as contraposições à razão pela fé trazem, ainda nesta unidade, uma forte tendência filosófica enraizada nos costumes divinos, os quais eram utilizados para responder aos mais diversos questionamentos também sobre o conhecimento humano, porém com um novo viés. Esses contrapontos entre fé e razão nos convidam a um debate sobre diferentes aspectos e contextos que levaram a Filosofia da Educação a grandes rupturas, enfatizando a característica mutável do pensamento filosófico em decorrência do contexto histórico vivenciado. Por isso, queremos convidá-lo a uma viagem às origens do pensamento filosófico, resgatando conceitos e contribuições que serviram como estrutura para o surgimento da filosofia, bem como de sua aproximação com a educação.Quais seriam, então, as bases que configuraram o pensamento filosófico? Como se deu o processo de elaboração dos debates sobre conhecimento, mito e razão? Como a fé adentrou essas reflexões? Esses questionamentos o conduzirão a um início dos estudos sobre os desdobramentos da Filosofia da Educação, dando margem a dúvidas, reflexões e abertura para novos pensamentos, incitando uma análise para além do aspecto superficial da existência humana, pautada nas tradições e contradições do pensamento filosófico.
Diálogo aberto
Conhecer a origem do pensamento filosófico requer um olhar para os pensadores que se preocuparam com as relações entre conhecimento e verdade e, com isso, se dedicaram a pensar o ser humano e sua relação com o mundo. A filosofia, enquanto ciência, aproximou-se da educação à medida que seus pensadores teceram contribuições acerca de métodos e problemáticas oriundas do processo formativo. Foi Pitágoras que primeiramente utilizou o termo “filósofo” enquanto aquele que é “amigo do conhecimento”. Embora tenha sido o primeiro a usar a designação “filósofo”, Pitágoras não foi o primeiro pensador a contribuir com a origem do pensamento filosófico, cuja atribuição é dada a Tales de Mileto, que se destacou por buscar uma distinção entre a mitologia e a origem das coisas. Pensando nesses pressupostos, mobilizados por uma reflexão filosófica, e levando em consideração que até nossos dias atuais o homem ainda se mantém numa constante busca pela dominação dos saberes e da natureza, como podemos compreender a origem do pensamento filosófico a partir da relação entre a influência do mito e a necessidade humana de conhecer as causas primeiras dos fenômenos da natureza? Quem foram os pensadores – chamados de pré-socráticos – que marcaram esse desvelamento do pensamento filosófico? De onde surgiu o termo filosofia? Como se deu essa passagem do mito para a razão? Esta seção permitirá que você reflita sobre esses questionamentos, compreendendo os elementos que marcaram o surgimento da filosofia e que, posteriormente, darão embasamento para o desenvolvimento do pensamento filosófico. Com isso, encontrará elementos para pensar também a educação e os processos formativos na sociedade atual, bem como a forte influência da razão.
Não pode faltar
A origem da filosofia Caro aluno, nesta primeira seção vamos estudar como se deu a origem da filosofia, levantando os aspectos mais marcantes no surgimento do pensamento racional e nos questionamentos do mito enquanto verdade suprema. Para facilitar sua compreensão, é importante ressaltar que a filosofia se constitui em um constante movimento de aproximar e afastar tendências e ideias que enriquecem as diferentes perspectivas filosóficas. Entrelaçando aspectos relacionados ao contexto social, à religião, à política e às artes, a filosofia surgiu no cenário da Grécia antiga como uma forma de busca pelo conhecimento racional para explicar a natureza e a existência humana. O pensamento filosófico se desenvolveu à medida que o indivíduo tentava compreender as raízes das coisas, tomando como ponto de partida a razão, distinguindo-a das influências mitológicas que marcaram tão fortemente o pensamento grego até então. Reale e Antiseri (2003) apontam que, antes do surgimento da filosofia, havia um amparo para as dúvidas nas divindades e na fantasia, o que justifica uma apropriação das respostas encontradas nos poemas da Ilíada e da Odisseia, escritos por Homero, como uma forma de “alimento espiritual”. De certa forma, Homero já indicava uma preocupação com a origem das coisas, mesmo que relacionadas aos aspectos míticos – para ele tudo podia ser explicado por intervenção das divindades –, daí o estímulo avançado sobre a gênese do conhecimento ainda não presente em outras civilizações. Podemos dizer que Homero, Hesíodo e outros poetas da época contribuíram muito com o processo educacional e a formação do homem grego, principalmente no aspecto espiritual. O contexto social, político e religioso da Grécia contribuiu para o desvelamento do pensamento filosófico, levando em consideração ainda a liberdade que os gregos possuíam por não estarem atados a grandes dogmas da igreja e às castas sacerdotais:
Essa inexistência de dogmas e de guardiões dos mesmos deixou ampla liberdade para o pensamento filosófico, que não se deparou com obstáculos que teria encontrado em países orientais, onde a livre especulação enfrentaria resistência e restrições dificilmente superáveis. Por esse motivo, os estudiosos destacam com razão essa circunstância favorável ao nascimento da filosofia que se verificou entre os gregos, a qual não tem paralelos na antiguidade. (REALE; ANTISERI, 2003, p. 10)
Reale e Antiseri (2003) ressaltam ainda o aspecto social e político no que se refere à consolidação das pólis – as cidades-Estados –, momento em que os gregos passaram a sentir e apreciar a condição de cidadão, cuja liberdade era um mérito. Para os autores, tudo isso contribui para se compreender, principalmente, a ética, a política e, com isso, a filosofia grega. No entanto, embora não se possa eliminar repentinamente o poeta e a magia existentes até então, a filosofia ganha espaço à medida que se dirige para todos, em um movimento de pensar de maneira racional a verdade necessária para explicar o mundo. O termo “filosofia” advém da junção dos termos gregos, filo (do grego philía – “amor”, “amigo”) e sofia (do grego sophia – “sabedoria”, “conhecimento”), atribuído por Pitágoras para nomear o filósofo como o “amigo do conhecimento”, ou ainda aquele que tem “amor pela sabedoria”, preocupando-se, assim, com a origem do conhecimento. Para Reale e Antiseri (2003), o nascimento da filosofia apresenta três perspectivas que requerem atenção: o conteúdo, o método e o seu objetivo. No que se refere ao conteúdo, a filosofia se caracteriza por buscar a explicação da “totalidade das coisas”, distinguindo-se das demais ciências que possuem um único objeto de estudo – ressaltando que aqui o objeto centra-se na totalidade e no ser como um todo. Com relação ao método, dá ênfase ao aspecto racional, o logos (“lógica”, “razão”). A busca pelas causas da natureza se dá pelo predomínio da razão e “[...] é justamente este o caráter que confere 'cientificidade a filosofia” (REALE; ANTISERI, 2003, p. 11). E os objetivos enfatizam que se trata de um desejo de conhecer e explicar as coisas de maneira descompromissada, ou seja, “puro desejo de conhecer e contemplar a verdade” (REALE; ANTISERI, 2003, p. 12). Assim, você pode notar que a origem da filosofia se dá em meio a essa passagem do mito para a razão, na busca de explicar a origem do universo a partir de argumentos e investigações, desvinculando-se da fantasia e apropriando-se da razão.
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