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A Educação em Durkheim

Por:   •  9/6/2018  •  Ensaio  •  1.640 Palavras (7 Páginas)  •  150 Visualizações

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A construção subjetiva da educação moral (Durkheim)

Agora pode tomar banho

Agora pode sentar pra comer

Agora pode escovar os dentes

Agora pega o livro , pode ler...

...É sinal de educação

Fazer sua obrigação

Para ter o seu direito de pequeno cidadão

 [Trecho da música Pequeno Cidadão de Arnaldo Antunes – 2009]

        O trecho da música acima nos mostra como as ações mais simples que praticamos no dia a dia tem relação com um ordenamento coercitivo que é construído pela ideia de educação na sociedade. Práticas e normas reguladoras que precisamos assentir e praticar para que sejamos aceitos como pertencentes aos grupos sociais e que possuem como sua maior aliada na disseminação e internalização de práticas educacionais a escola, considerada pela sociedade como a instituição responsável pela prática de movimentos sociais reguladores.

Todos os movimentos reguladores exercidos pela escola estão criando na subjetividade de cada indivíduo um ideal que não foi escolhido por ele, mas admitido por ele, constituindo representações individuais ou compartilhadas de uma sociedade na cabeça dos homens que eles reforçam e reproduzem no seu tempo, acarretando em costumes, normas e regras as gerações posteriores.

Isso significa dizer que a nossa subjetividade não parte apenas do que idealizamos individualmente, mas é uma subjetividade que se relaciona com todas as outras subjetividades, criando em nós um ser particular que é ao mesmo tempo um ser social, aonde trafegam os valores, os ideais, os costumes e as crenças sociais a qual somos inseridos.

Tais considerações partem da concepção de fatos sociais, desenvolvido pelo idealizador da sociologia como ciência, o pensador Émile Durkheim (1858-1917).  Segundo o sociólogo, fatos sociais são elementos sociais coercitivos que faz com que os indivíduos pensem, ajam e sintam de forma semelhante a contribuir para o bem social, acreditando ser uma escolha pessoal, mas que, no entanto foi construído com práticas de disciplinamento ao longo do tempo para produzir aceitação.

Tosi (2011) ao enunciar a ideia de fatos sociais em Durkheim, explica: “E fatos sociais são justamente aqueles modos de agir que exercem sobre o indivíduo uma coerção exterior, e que apresentam uma existência própria, independente das manifestações individuais que possam ter”.

Tomando por base o pensamento de fatos sociais de Durkheim, podemos entender que essas normas reguladoras adicionadas às subjetividades são fragmentos integrantes do meio moral do tempo histórico em que vivemos e que por isso são externados como naturais à vivência individual ou coletiva.

Segundo ele, o meio moral recebe relações de cooperação na teia de normatização. Desta configuração de compartilhamento e interação é que Durkheim pensou sobre a divisão social do trabalho, que está relacionada ao que chamou de sociedade orgânica por compará-la com um organismo vivo onde cada órgão possui sua função e que se porta de acordo com a vida moral de cada época determinada.

 Na sociedade orgânica, que se dá principalmente a partir da sociedade industrial o compartilhamento se faz com a especificidade e especialização de cada indivíduo na sociedade, fazendo com que as pessoas vivam em coletividade por necessitarem umas das outras pelo que cada um pode oferecer para formar o todo.

Em meio aos mecanismos de integração e regulação transmitidos pela escola, ele destaca a importância da educação moral (a educação fundada na razão e não somente nos ideais intelectuais que considere religião ou ideologias).

Sem a solidariedade orgânica a sociedade entraria num estado de caos, onde cada um buscaria apenas por sua particularidade, ao que o sociólogo deu o nome de anomia social. Para Durkheim, a anomia social apenas não ocorre porque a solidariedade orgânica dá consistência à consciência coletiva que é a base da moral. E é a moral que compete à educação.

A vida moral que se faz através dos compartilhamentos, crenças e costumes é que são transmitidos pela educação que é ensinada através do processo de escolarização. Educação em Durkheim seria, portanto, o processo de socialização da moral para a solidariedade orgânica e a escola seria a principal reprodutora dos ideais coletivos, transformando o ser individual em ser social.

“Na escola existe todo um sistema de regras que determina a conduta da criança. Ela deve comparecer à classe com regularidade, num horário estabelecido, mantendo uma postura adequada; enquanto permanece na sala de aula, não pode perturbar a ordem; deve aprender suas lições, fazer os deveres de casa com suficiente dedicação, etc. Há um grande número de obrigações às quais a criança deve submeter-se. O conjunto dessas obrigações constitui o que chamamos de disciplina escolar. É com a prática da disciplina escolar que se torna possível inculcar na criança o espírito de disciplina”. (Durkheim, 2012, p.149)

Não significa dizer que a escola seja a única instituição com a responsabilidade de transmissão dos interesses sociais, outras instituições como a família, a igreja e o próprio meio social constituem grupos transmissores das regras sociais vigentes em determinada época, colaborando mesmo que inconscientemente para a sobrevivência desta sociedade. No entanto, na escola que os saberes são oficialmente selecionados e transmitidos, caracterizando um fato social que leva a educação escolarizada a condição de ciência social.

Para que seja eficaz ao que se propõe, ele considera a educação como construtora de três condições: Assim, três “elementos da moralidade” definem, em suas formas e seus conteúdos, as metas que a sociologia da educação fixa para a escola, ou seja, o aprendizado do “espírito de disciplina”, o da “vinculação aos grupos” e o da “autonomia da vontade”. (Durkheim, 2012).

 São essas condições que segundo Durkheim irão frear os impulsos de anomia (caos) natural na criança não instruída, que se espalharia por toda a sociedade (anomia social).

 “A educação perpetua e reforça essa homogeneidade, fixando, antecipadamente, na alma da criança as alianças fundamentais exigidas pela vida coletiva.” A escola seria a principal reprodutora dos ideais coletivos, transformando o ser individual em ser social. Tem por objeto suscitar e desenvolver na criança certo número de estados físicos, intelectuais e morais, que requerem dela, tanto a sociedade política em seu conjunto, quanto o meio especial ao qual ela é mais particularmente destinada... Resulta da definição acima que a educação consiste em uma socialização metódica da jovem geração” (Educação e sociologia, p. 51).

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