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A FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO

Por:   •  27/3/2019  •  Trabalho acadêmico  •  15.737 Palavras (63 Páginas)  •  119 Visualizações

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FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO

11-Os Pais da Igreja e o uso da Filosofia no combate ao gnosticismo

Objetivo

Compreender a influência da cultura helênica na ascensão do cristianismo, bem como o papel da Filosofia a partir de Orígenes e Tertuliano no embate com o gnosticismo.

 

Caro aluno, na unidade anterior vimos que o helenismo levou a cultura grega aos territórios conquistados que se estendiam da Macedônia à Índia. Esse imperialismo militar e cultural não apenas disseminou a cultura grega, mas trouxe também em sua bagagem a cultura dos povos conquistados. Esse período de grande efervescência cultural e intelectual abriu fronteiras entre Ocidente e Oriente. Nesta unidade, vamos compreender a influência da cultura helênica na ascensão do cristianismo, bem como o papel da Filosofia a partir de Orígenes e Tertuliano no embate com o gnosticismo.

Nos três primeiros séculos da nossa era, se configurou e estruturou um movimento que alteraria profundamente a história da humanidade, a ponto de dividir as eras entre antes e depois do evento inicial dele. O evento inicial foi mais extraordinário que as conquistas de Alexandre e de qualquer outro imperador, pois partiu de uma crença espetacular, a crença de que Deus fez-se carne, viveu entre nós, foi morto, venceu a morte e ressuscitou. O simbolismo dessa crença é profundo, pois se Deus tornou-se homem e venceu a morte, o mal pode ser vencido e estão abertas as portas da imortalidade; o homem já pode adentrar na vida eterna. Dessa forma, o cristianismo, assim como a democracia grega, trouxe a divindade para a terra e colocou o homem na condição de deus.

Os Pais da Igreja, distribuídos nesses três primeiros séculos, alimentaram-se desse acontecimento; tudo o que pensaram, ensinaram, anunciaram e repudiaram parte do pressuposto que Jesus de Nazaré existiu. Esses bravos intelectuais lançaram as bases doutrinárias nas quais se assentou o cristianismo – tudo o que o cristianismo prega hoje foi delimitado pelos Pais da Igreja, pois estes foram os guardiões da fé e os protetores das bases cristãs, legando à posteridade uma defesa autêntica e apaixonada do cristianismo.

O cristianismo nasce em um terreno fértil: se por um lado os deuses greco-romanos já não seduziam as multidões, a formação multiétnica do império e a pax romana possibilitavam o surgimento de novas religiões, aproveitando-se da diáspora judaica. O cristianismo, nos primeiros anos, cresceu rapidamente entre os judeus espalhados por todo o império romano. Dessa forma, a primeira batalha travada pelo cristianismo foi com o judaísmo – o rompimento do cristianismo com o judaísmo é expresso no livro “Atos dos Apóstolos” e nas “Cartas de Paulo”, publicadas no livro sagrado dos cristãos, a Bíblia.

Conforme descreve Chauí (1996), além do judaísmo, o cristianismo enfrentou muitos outros adversários, porém, fazendo jus à ideologia cristã, os embates fortaleceram e purificaram mais as doutrinas cristãs. Desde o seu nascimento, o cristianismo foi imbuído pelo helenismo: Paulo, o grande apóstolo dos gentios, responsável por levar o cristianismo por toda a costa do mediterrâneo, era um judeu de cidadania romana, formado a partir da cultura helênica, fruto desse ambiente cosmopolita. Paulo encontra na Filosofia grega o adversário e o aliado na propagação do cristianismo.

Os Pais da Igreja intentaram conciliar a nova religião nascente com o pensamento greco-romano, pois, somente dessa forma, poderiam convencer os pagãos da nova verdade e convertê-los à nova religião. O diálogo com o helenismo foi árduo; o cristianismo apresentava conceitos considerados absurdos pela Filosofia clássica. Chauí (1996) argumenta que a patrística foi obrigada a introduzir a ideia de criação do mundo a partir do nada, de pecado original do homem, de Deus como trindade una, de encarnação e morte de Jesus, de juízo final ou de fim dos tempos e ressurreição dos mortos etc. – ideias até então desconhecidas para os filósofos greco-romanos. Além disso, precisou ainda explicar como o mal pode existir em um mundo que foi criado por Deus.

A herança helênica era muito presente nos grandes centros do primeiro século e, dessa forma, influenciado pela filosofia grega e pelo Estado romano, o cristianismo se estruturou até tornar-se religião oficial do império no século IV. Esse processo aconteceu de forma gradual e a partir de muitos embates intelectuais. Um deles, especificamente o embate do cristianismo com o gnosticismo a partir de Orígenes e Tertuliano.

Segundo Chauí (1996), Orígenes (185 d.C., Alexandria – 254 d.C., Tiro) era filho de uma família cristã, mas vivendo em uma das cidades mais cosmopolitas da sua época ampliou a sua formação intelectual cristã a partir das tradições judaicas, romanas e gregas, tendo inclusive estudado com Amônio Saccas, o fundador do Neoplatonismo.

Orígenes realizou uma vasta produção intelectual e, apesar de muitas das suas obras terem sido destruídas pelos seus opositores, algumas delas chegaram até nós, como a sua famosa obra “Contra Celso”. Nessa obra, o filósofo-teólogo demonstra todo o seu conhecimento das escrituras e das tradições clássicas ao refutar as acusações de Celso contra o Cristianismo.

Celso teria escrito duras críticas ao cristianismo em uma obra intitulada “Discurso verdadeiro contra os cristãos”, escrita por volta de 170-185 d.C. Nela, Celso acusa o cristianismo de ser a maior ameaça ao império romano, julgando ser ilegal perante as leis romanas, além de uma série de acusações vulgares sobre a pessoa de Cristo, especificamente sobre o seu nascimento, dizendo que Jesus nasceu de um adultério de Maria com um soldado romano.

Para Chauí (1996), Orígenes responde a Celso argumentando que as leis romanas não são universais, mas que refletem a cultura de um povo, sendo que a única lei universal se resumiria no amor de Cristo. Contra as acusações vulgares à pessoa de Cristo, Orígenes, usando Platão, argumenta: “Não pertencem as ideias mais excelsas aos filósofos? Não são estes os homens mais puros? Há, portanto, um parentesco entre corpo e alma, a alma pura possui um corpo também puro”. Dessa forma, não poderia uma doutrina tão pura e excelsa como o cristianismo ter se originado de uma pessoa nascida de adultério, pois a alma pura que criou o cristianismo também necessita de um corpo puro. Por meio do raciocínio lógico, Orígenes destrói as premissas e demonstra a falsidade das conclusões de Celso, defendendo o cristianismo, e lança as bases da doutrina cristã.

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