A Linguagem, Limiar Do Humano
Artigo: A Linguagem, Limiar Do Humano. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: jerusaalmeida • 13/5/2014 • 393 Palavras (2 Páginas) • 6.113 Visualizações
Poderíamos dizer, porém, que os animais também têm linguagem. A natureza dessa comunicação, entretanto, não se compara à revolução que a linguagem humana provoca na relação do ser humano com o mundo. É interessante o estudo da “linguagem” das abelhas, ao apontar que, dançando, umas “comunicam” às outras onde acharam pólen. Ninguém pode negar que o cachorro expressa emoção por sons que nos permitem identificar medo, dor, prazer. Quando abana o rabo ou rosna, o cão nos diz coisas; e, quando lhe dizemos “vamos passear”, ele nos aguarda alegremente junto à porta.
No exemplo das abelhas, estamos diante de uma linguagem programada biologicamente, idêntica em todos os indivíduos da espécie. No segundo exemplo, a reação do cachorro não se separa da experiência vivida; ao contrário, esgota-se nela mesma, não havendo uso dos “gestos vocais” independentemente daquela situação. Quando a entender o que o dono diz, isso se deve ao adestramento, e os resultados são sempre medíocres, porque mecânicos, rígidos, geralmente obtidos mediante aprendizagem por reflexo condicionado.
A linguagem animal não conhece o símbolo, mas somente o índice. O índice está relacionado de forma fixa e única com a coisa a que se refere. Por exemplo, as frase com que adestramos o cachorro devem ser sempre as mesmas, pois são índices, isto é, indicam alguma coisa muito específica. Por outro lado, a linguagem humana se utiliza do símbolo, que é universal, convencional, versátil e flexível.
A linguagem animal visa a adaptação à situação concreta, enquanto a linguagem humana intervém como forma abstrata que nos distancia da experiência vivida e nos torna capazes de reorganizá-la em outro contexto, dando-lhe novo sentido. É pela palavra que somos capazes de nos situar no tempo, para lembrar o que ocorreu no passado e antecipar o futuro pelo pensamento.
Se a linguagem, por meio da representação simbólica e abstrata, permite que nos distanciemos do mundo, também é o que nos possibilitará o retorno a ele para transformá-lo. Portanto, se não tivermos oportunidade de desenvolver e enriquecer a linguagem, enfraqueceremos a capacidade de compreender e agir sobre o mundo que nos cerca. Na literatura, é singela, e triste, a história de Fabiano, que Graciliano Ramos nos conta em Vidas Secas. A pobreza de vocabulário do protagonista prejudica a tomada de consciência da exploração a que é submetido, e a intuição da situação vivida não é suficiente para ajudá-lo a reagir de outro modo
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