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A TRAMA DA REDE

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Por:   •  28/11/2014  •  902 Palavras (4 Páginas)  •  692 Visualizações

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A trama da rede

I

Essa é a trama da rede:

o tecido das trocas que fabricam

o pano de uma rede de dormir

enreda o corpo do homem na tarefa

de criar na máquina a rede com a mão.

(o trabalho de tecer a rede é exercido em “casa alheia”, ou seja, no local determinado pelo seu patrão, na manufatura. Ali, são reunidos vários trabalhadores, que, exercendo diferentes trabalhos, transformam os

fios de várias cores em rede. A trama, o desenho da rede, é mostrada como a trama

que enreda, que prende o trabalhador à máquina, que impõe seu movimento ao corpo

do trabalhador.)

A armadilha do trabalho em casa alheia

engole o homem e enovela todo o corpo

no fio no fuso na roda na teia

do maquinário da manufatura

que produz o seu produto: a rede

e reduz o corpo-operário à produção.

[...]

III

O corpo-bailarino que transforma

a coisa bruta em objeto

(a fibra em fio e o fio em pano)

e o objeto na mercadoria

(o pano pronto na rede e sua valia)

transforma o corpo do homem operário

em outro puro objeto de trabalho

pronta a fazer e refazer no fuso

aquilo de que a fábrica faz sua riqueza

de que, quem faz não se apropria.

[...]

(o trabalhador que transforma a matéria-prima – o algodão – em fio, e o fio

em rede, produz uma mercadoria que não pertence a ele, mas, sim, a quem o

contratou. Ou seja, a rede que ele produz com o seu trabalho não pertence a ele, mas, sim, a quem lhe paga o salário.)

VII

Sob a trama do trabalho em tear alheio

o corpo não possui seu próprio tempo

e é inútil que lhe bata um coração.

O relógio interior do operário

é o que existe na oficina, fora dele,

de onde controla o tear e o tecelão.

(tempo ou ritmo de trabalho que, na manufatura, não é mais determinado pelo trabalhador, mas, sim, pelo ritmo da máquina, imposto pelo dono da oficina.)

VIII

De longe o dono zela por quem faz:

pela força do homem que trabalha,

não pela vida do trabalhador.

Aqui não há lugar para o repouso

ainda que o produto do trabalho

seja uma rede de pano, de dormir

e que comprada serve ao sono e ao amor.

(controle exercido pelo dono da manufatura, que não está preocupado com a saúde, a vida do trabalhador, mas, sim, com a produtividade do trabalho.)

IX

Durante a flor da vida inteira

fazendo a mesma coisa e refazendo

uma operação simples de memória

o operário condena o próprio corpo

a ser tão automático e eficaz

que domine o gesto que o destrói.

A reprodução contínua, diária, igual

de um mesmo gesto repetido e limitado

todos os dias, sobre os mesmos passos,

ensina ao artesão regras de maestria

do trabalho que afinal então domina

através de saber sua ciência

com a sabedoria do corpo massacrado.

[...]

(na manufatura, o trabalhador executa movimentos repetitivos, especializando-se apenas em uma atividade de trabalho, automaticamente, seguindo o movimento da máquina, sem nenhuma criatividade, tornando-se um trabalhador limitado em seu conhecimento)

XI

Quem fia e enfia?

Quem carda e corta?

Quem tece e trança?

...

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