Analise Sociológica Senhor das Moscas
Por: Gabriella Reis • 21/10/2020 • Trabalho acadêmico • 1.530 Palavras (7 Páginas) • 456 Visualizações
Analise sociológica - Senhor das Moscas.
Todo o enredo se passa numa ilha deserta nos Trópicos. Um avião que levava um grupo de crianças cai no mar, forçando crianças e comandante, a se refugiarem numa ilha próxima ao acidente. O comandante muito ferido devido à queda, acaba morrendo, condenando as crianças à liberdade total e obrigando-as a sobreviverem por conta própria. Toda criança sonha com isso, um mundo sem adultos, escola, professores, sem regras, onde podem ser crianças a todo o tempo sem se preocuparem com dever de casa, arrumar o quarto, comer verduras e legumes, entre outras suas obrigações; não é preciso ir longe para ver como isso é verídico, pois inclusive a literatura aborda esta temática com o clássico infantil – Peter Pan – que narra a história de uma criança que não queria crescer e, vivia numa terra que tudo podia fazer sem interferência de ninguém, na hora e como quisesse. Quimera!
Santo Agostinho nas Confissões aborda a existência do mal e sua origem. Num dado momento, usando de todas as artimanhas literárias que não cabem aqui expor, trata com maestria a ideia de que já recém-nascidos apresentam vícios em suas almas, ora, já olham com inveja e ira os seus irmãos que também se amamentam dos mesmos seios de sua mãe, com desejo egoísta de tê-los só para si. Fruto do Pecado original ou inatismo do mal no homem, teorias que não ousaram se dogmatizar pela complexidade e delicadeza de sua temática. Hobbes, filósofo contemporâneo, afirma ser o homem o seu próprio lobo. Agora, como se explica o fato de crianças, seres tão inocentes, ingênuos, já no berço com olhares raivosos, e provocando ira nos seus pais com choros tendenciosos mais do que por motivo sério, senão como crueldade e maldade.
Na história há alguns pontos capitais que merecem destaque, como por exemplo, o espírito de liderança presente em Ralph, que tenta organizar o grupo segundo o modelo britânico em que viviam seus pais. Maturidade, liderança e autoridade, mas lhe falta o carisma necessário conveniente a qualquer líder. Outro não menos importante é o Piggy, representando com sua sabedoria e inteligência, o papel do cientista no grupo; um garoto gordo, asmático, de óculos, não é aceito como membro de um grupo, pois não se adéqua aos padrões estereotipados tomados como corretos. Se a este segundo comparamos a perspicá
cia científica, o primeiro às instituições, capazes de gerir o comportamento do grupo. Todo o esforço dos dois garotos foi em vão. Um líder e meios para manter a ordem na ilha eram essenciais, mas infelizmente outro personagem com gênio não menos forte que Ralph não se submete às regras impostas pelo líder que fora eleito numa democracia, mas não o contesta. A princípio muito maduras, as crianças são dignas de todo o orgulho de seus pais; conseguiram manter-se firmes e perseverantes às tradições inglesas de ordem e organização, mas era uma questão de tempo para que a democracia estabelecida viesse a desmoronar.
Toda a estrutura perfeita, cheia de regras rui, quando estas mesmas regras vão de encontro ao princípio de liberdade latente em todos os seres vivos. Fazer acampamento, se comportar, respeitar, tudo isso era comportamento adulto que não permitia as brincadeiras e a diversão. Todas aquelas crianças estavam vivendo o sonho que sempre tiveram. Não demora muito para que Jack queira se separar do grupo de Ralph e se tornar caçador naquela ilha, priorizando o lazer e a comida levando consigo muitas das crianças. É neste momento crítico que a pequena sociedade criada pelas crianças se desmorona. Nasce a segregação de pessoas, os diferentes, que não pensam igual, são relegados ao isolamento e ridicularização. Todo ser humano longe de sua sociedade e dos seus comportamentos não tarda em se bestializar! A sede por sangue que tinham os integrantes do grupo de Jack é assustadora, crianças que
sentem prazer, como se fosse algo normal, em derramar sangue de um porco; a necessidade de alimentar-se; não se contentam com poucas frutas e ervas, mas querem carne, e a comem selvaticamente como se toda a sua felicidade viesse do estômago e do lazer, lembrando a triste máxima: “pão e circo”. O homem humano não precisa apenas de alimento e entretenimento, mas de dignidade, esta não é conseguida por meio de repreção, mas por uma política livre e limpa que favoreça a vida em toda a sua totalidade.
As regras não são o princípio e nem o fim de uma comunidade, de nada valem se mecanismos de controle social não forem estabelecidos. Pobre Ralph, não tinha meios suficientes nem mesmo forças para aplicar sansões aos desordeiros. Saindo de um contexto imaginativo e idílico, nossas ruas estão repletas de grupos adolescentes que se tornaram seus próprios pais, vivendo a margem da sociedade, sentem-se como a escória da sociedade e são obrigados a se agruparem, muitas vezes carregados de violência, para garantirem a sua segurança, e sua atuação na sociedade. Infelizmente muitos jovens encontraram na violência e vandalismo o meio pelo qual eles são notados pelo grupo. A falência da família na era e pós-moderna levou a uma perda de referências morais, religiosas, políticas. Todos se corromperam! As crianças crescem vendo pais fracassados, assalariados, espectadores de suas próprias vidas, oprimidos pelo sistema, incapazes de ter voz ou vez na sociedade, onde vivem como se vivessem de favor, gerando nelas, que veem nas ruas o cadafalso ideal onde podem chamar a atenção de todos para sua existência, toda espécie de rebeldia e revolta, sem mencionar a força que os pais exercem, com seu despreparo na criação e educação, para a formação de pequenos delinquentes.
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