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Antropologia e Saúde

Por:   •  9/11/2015  •  Resenha  •  2.376 Palavras (10 Páginas)  •  272 Visualizações

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Marcella Tessele Bordin

  1. TEXTO 10: ESPIRITUALIDADE, RELIGIÃO E SOBRENATURAL
  • Papel da religião e da espiritualidade:

        Entre os povos de todas as culturas, as crenças e práticas religiosas e espirituais atendem a várias necessidades psicológicas e sociais, como a redução da ansiedade através da visão organizada do universo e respostas para perguntas existenciais. Uma religião tradicional reforça normas do grupo, estabelece sanções morais para a conduta dos indivíduos e fornece a ideologia de objetivos e valores comuns que apoiam a solidariedade social e o bem-estar da comunidade.

        A crença do sobrenatural é universal talvez porque religião e espiritualidade atendem essas e outras necessidades sociais e psicológicas, compartilhadas pelo ser humano em todas as culturas. Apesar de nem todos os indivíduos acreditem em uma força ou entidade sobrenatural, os antropólogos não tem conhecimento de algum grupo que não apresente nenhuma manifestação de espiritualidade ou religião.

        Embora tradicionais, as principais religiões cristãs apresentam certo declínio; a espiritualidade não confessional está em alta. Também em destaque se encontram as religiões fundamentalistas que em geral possuem uma posição firme contra a ciência.

  • Abordagem antropológica da religião

Religião é um sistema organizado de ideais sobre a esfera espiritual ou sobrenatural, associadas a práticas cerimoniais pelas quais as pessoas tentam interpretar ou influenciar aspectos do universo que estão fora de seu controle.

Espiritualidade também se refere ao sagrado, distinto das questões materiais, geralmente individual, em vez de coletivo, e não requer formato próprio ou organização tradicional. Tanto a religião quanto a espiritualidade são indicadores de que se acredita que muitos aspectos da experiência humana estão além da explicação científica.

Os povos coletores, cuja habilidade tecnológica para manipular o meio ambiente é limitada, pois eles geralmente se consideram parte da natureza, não donos dela, o que pode ser chamado de visão de mundo naturalista. Já em outra extremidade está a civilização ocidental, com seu comportamento ideológico para superar problemas, por meio da tecnologia cada vez mais sofisticada e habilidades organizacionais complexas. Além do que a religião não faz parte das atividades diárias com tanta intensidade e está restrita a ocasiões mais específicas.

  • Mito

Os membros de uma religião normalmente compartilham determinadas crenças sagradas e participam das mesmas práticas rituais. Além da função explicativa, os mitos fornecem as bases racionais para as crenças e práticas religiosas e estabelecem os padrões culturais para o comportamento “correto”.

Pode-se dizer que tal mito, na medida que é admitido, aceito e perpetuado em uma cultura, expressa parte da visão de mundo tradicional de um povo.

  • Seres e poderes sobrenaturais

A crença em seres sobrenaturais é uma característica óbvia da religião. Para tentar controlar por meios religiosos o que não pode ser controlado de outras formas, os seres humanos fazem orações, sacrifícios e outros rituais religiosos ou espirituais. Esse aspecto pressupõe a existência de forças espirituais a que se pode ocorrer, ou seres espirituais interessados nos assuntos humanos e dispostos a ajudar. Em muitas culturas estão associados a lugares singulares, como rochas extraordinárias, lagos, nascentes de água, cachoeiras ou outros lugares considerados sagrados.

Começando com os seres espirituais, podemos dividi-los em três categorias: divindades principais (deuses e deusas), espíritos ancestrais e outros tipos de seres espirituais.

  • Deuses e deusas: São os seres mais relevantes e mais distantes. Geralmente são vistos como aqueles que controlam o universo. Quando vários deuses são reconhecidos, cada um deles é responsável por uma parte específica do universo, era o caso da Grécia Antiga: Zeus era o senhor do céu, Poseidon governava o mar e Hades era o senhor do mundo subterrâneo e soberano dos mortos.
  • Espíritos ancestrais: a crença em espíritos ancestrais é consistente com a noção comum de que o ser humano é formado de duas partes estreitamente ligadas: o corpo físico e um componente mental ou espiritual. A crença nos espíritos ancestrais, de uma forma ou de outra, encontra-se em muitas partes do mundo, especialmente entre os povos que possuem sistemas de descendência unilinear, com orientação voltada para os ancestrais. Elas são particularmente apropriadas em uma sociedade de grupos com base em descendência e orientação voltada para os ancestrais. Entretanto, essas crenças oferecem um forte senso de continuidade que liga passado, presente e futuro.
  • Animismo: é a crença de que a natureza é animada por distintos espíritos personalizados, separáveis dos corpos. Acredita-se que espíritos, assim como almas e fantasmas, vivam em seres humanos, animais e também em artefatos feitos pelo homem, plantas, pedras, montanhas e outros elementos naturais. Ele é típico daqueles que se veem como parte da natureza, não como seres superiores a ela.
  • Animatismo: é a crença de que a natureza é animada ou energizada por uma força espiritual impessoal ou energia sobrenatural, que pode se manifestar em qualquer lugar, objeto ou pessoa especial.
  • Lugares sagrados: além de reverenciar figuras específicas, como divindades, espíritos ancestrais e outros seres especiais, algumas tradições religiosas consideram certos locais espiritualmente significativos, ou mesmo sagrados. Normalmente esses lugares são rios, lagos, cachoeiras, linhas, florestas, cavernas e, em especial, montanhas. Certas montanhas são locais de culto, como os santuários, ou destinos sagrados para jornadas espirituais ou peregrinações.

  • Praticantes da religião e da espiritualidade
  • Especialistas religiosos: todas as sociedades humanas possuem indivíduos que dirigem e suprem as práticas religiosas, os quais são considerados altamente habilidosos para entrar em contato com os seres sobrenaturais, influenciá-los e manipular as forças de outros planos. Sua qualificação inclui treinamento especial em geral.
  • Sacerdotes e sacerdotistas: sua função é dirigir as práticas religiosas e influenciar o sobrenatural. São os membros socialmente iniciados e formalizados em uma cerimônia de uma organização religiosa reconhecida, com classificação e função que lhe pertence, pois passa a ocupar uma posição que já pertenceu a outros anteriormente. O sacerdote, quando não sacerdotista, é uma figura familiar nas sociedades ocidentais; é o padre, pastor, ministro, lama, rabino ou qualquer que seja o título oficial adotado por uma religião organizada. E não é surpresa que nas religiões judaica, cristã e islâmica as posições mais importantes tenham sido ocupadas por homens.
  • Xamãs: as sociedades que não apresentam especialização ocupacional de período integral existem há muito mais tempo e sempre incluíram indivíduos com poderes e habilidades especiais que permitem que se conectem e manipulem seres e forças sobrenaturais. Tais poderes surgiram de alguma experiência pessoal, geralmente em momentos de solidão.  Um xamã é um homem ou mulher que entra em estado alterado da consciência, por vontade própria, para contatar e utilizar uma realidade comumente oculta, a fim de adquirir conhecimento e poder, com a finalidade de ajudar outras pessoas.

O xamã possui ao menos um espírito a seu serviço pessoal, e pode ser comparado com o sacerdote ou sacerdotista, cujos clientes são as divindades, pois o sacerdote ou sacerdotista de modo frequente dizem as pessoas o que fazer; o xamã diz ao sobrenatural o que fazer.

A importância do xammamismo em uma sociedade não deve ser subestimada. Ele promove um sentimento de transe e a liberação das tensões, e oferece a garantia psicológica de que consegue provocar invulnerabilidade a ataques, sucesso no amor ou a recuperação da saúde.

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