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Apologia De Socrates

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Por:   •  16/3/2015  •  1.751 Palavras (8 Páginas)  •  630 Visualizações

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APOLOGIA DE SÓCRATES

O papel do filósofo

Começamos com a Apologia, um dos primeiros, se não o primeiro dos diálogos de Platão, escrito ainda sob o forte impacto do julgamento e da condenação de Sócrates. Com efeito, a Apologia, ou Defesa, consiste no discurso de Sócrates perante o júri ateniense que o condenou. Acusado de desrespeitar as leis da cidade e os deuses tradicionais e de corromper a juventude ateniense, Sócrates é levado a julgamento. Recusa-se a apresentar uma defesa tradicional, o que poderia, dada sua habilidade, tê-lo livrado da condenação, mas defende sua liberdade de pensamento e o caráter crítico da filosofia em um verdadeiro desafio ao júri, que acaba por considerá-lo culpado. Na passagem que se segue, a parte final do diálogo, Sócrates rejeita a alternativa do exílio, mantendo-se coerente com seu estilo de vida e de filosofar, afirmando que “a vida sem reflexão não vale a pena ser vivida”.

[…] Talvez alguém diga: “Sócrates, será que você não pode ir embora, nos deixar em paz e ficar quieto, calado?” Ora, eis a coisa mais difícil de convencer alguns de vocês. Pois se eu disser que tal conduta seria desobediência ao deus e que por isso não posso ficar quieto, vocês acharão que estou zombando e não acreditarão. E se disser que falar diariamente da virtude e das outras coisas sobre as quais me ouvem falar e questionar a mim e a outros é o bem maior do homem e que a vida que não se questiona não vale a pena viver, vão me acreditar menos ainda. E assim é, senhores, mas não é fácil convencê-los. Além do mais, não estou acostumado a pensar que mereço punição alguma. Se tivesse dinheiro, proporia uma multa, a maior que pudesse pagar, pois isso não me causaria nenhum dano. Mas o fato é que não tenho dinheiro, a não ser que queiram impor uma multa que eu possa pagar. Talvez eu possa pagar uma mina de prata [100 dracmas]. De modo que proponho essa penalidade. Mas Platão aqui presente, atenienses, e Críton, Critóbulo e Apolodoro aconselham-me a propor trinta minas, oferecendo-se como fiadores. Então proponho uma multa nesse valor e estes homens serão meus fiadores mais que suficientes.

Não passará muito tempo, atenienses, e serão conhecidos e acusados pelos detratores do Estado como assassinos de Sócrates, um sábio; pois sabem que quem quiser difamá-los dirá que fui sábio, embora não o seja. Agora, se tivessem esperado um pouco, o que desejam teria ocorrido espontaneamente: pois veem como estou velho, quão avançado em anos e próximo da morte. Digo isso não a todos, mas àqueles que votaram pela minha morte. E a eles também tenho algo mais a dizer. Talvez pensem, senhores, que fui condenado por me faltarem as palavras que os teriam feito absolver-me caso achasse correto fazer e dizer tudo para conseguir a absolvição. Longe disso. E no entanto foi por uma falta que me condenaram, não todavia uma falta de palavras, mas de cinismo e descaramento, além da falta de vontade de dizer-lhes as coisas que vocês mais gostariam de ouvir. Vocês gostariam de me ouvir gemer e lamentar e dizer e fazer coisas que, insisto, são indignas de mim — coisas que vocês estão acostumados a ouvir de outros. Mas não achei que devesse, ante o perigo em que me encontrava, fazer coisa alguma indigna de um homem livre, nem me arrependo agora de ter feito minha defesa como fiz, mas prefiro morrer depois de uma defesa dessas do que viver depois de uma defesa do outro tipo. Pois nem no tribunal nem na guerra devemos, eu ou qualquer outro homem, tentar escapar da morte seja qual for o preço. Nas batalhas é muito comum um homem evitar a morte depondo as armas e implorando misericórdia aos perseguidores; e há muitas outras maneiras de escapar à morte ante perigos diversos quando se aceita fazer e dizer qualquer coisa. Mas, senhores, não é difícil escapar à morte; muito mais difícil é escapar à iniquidade, pois essa corre mais do que a morte. E agora, que sou velho e lento, me alcança a mais vagarosa das duas, enquanto meus acusadores, espertos e rápidos, são alcançados pela mais veloz. Ora, pois, irei embora, condenado por vocês e sentenciado à morte, e eles serão condenados pela verdade, por vilania e erro. Espero a minha pena; eles, a deles. Talvez as coisas tivessem que ser assim e acho que estão bem.

E agora desejo fazer uma profecia a vocês que me condenaram; pois me encontro agora no momento em que os homens mais profetizam, que é pouco antes da morte. Digo-lhes, homens que me executam, que o castigo recairá sobre vocês logo após a minha morte, muito mais atroz que o

castigo que me impõem. Porque fazem isso comigo na esperança de não ter que prestar contas de suas vidas, mas lhes digo que o resultado será bem diferente. Aqueles que irão forçá-los a prestar contas serão em número bem maior do que o foram até aqui — homens a quem refreei, embora vocês não soubessem disso — e muito mais duros, na medida mesma em que mais jovens, e vocês ficarão mais ofendidos. Porque se pensam que condenando homens à morte evitam a reprovação dos seus atos errôneos, estão enganados. Essa escapatória de modo algum é possível nem honrosa; a saída mais fácil e digna não é eliminar os outros, mas tornar-se bom ao máximo. E com essa profecia para os que me condenaram, retiro-me.

Mas aos que votaram pela minha absolvição gostaria de falar sobre o que me aconteceu, enquanto as autoridades estão ocupadas e antes que chegue a hora de ir para o lugar onde devo morrer. Esperem comigo até lá, meus amigos, pois nada impede que conversemos enquanto ainda há tempo. Sinto que vocês são meus amigos e quero lhes mostrar o significado disso que me sucedeu. Pois, juízes — e chamando-os assim dou-lhes o nome correto —, uma coisa maravilhosa aconteceu comigo. Pois até aqui o oráculo costumeiro me falou com frequência, opondo-se a mim até nas menores questões se acaso eu pretendesse fazer algo que não devia; mas agora, como veem, recaiu sobre mim esse que deve ser e é geralmente considerado

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