CONCEPÇÕES ÉTICO-FILOSÓFICAS ACERCA DO VALOR DA AMIZADE EM PLATÃO E CÍCERO
Por: Ifiteme Filosofia • 16/5/2017 • Artigo • 5.726 Palavras (23 Páginas) • 250 Visualizações
INSTITUTO DE FILOSOFIA E TEOLOGIA MATER ECCLESIAE
CONCEPÇÕES ÉTICO-FILOSÓFICAS ACERCA DO VALOR DA AMIZADE EM PLATÃO E CÍCERO
EVERTON LUCAS DE OLIVEIRA[1]
VALDEMAR HNYDA[2]
RESUMO
Em Platão a moral-ética manifesta-se através da alma racional; através da razão se alcança a sabedoria e também se vive moralmente. Para isso é necessário libertar-se das amarras dos prazeres do corpo, pois isso é barreira para o conhecimento. Platão sistematiza a sociedade, que também faz com a alma, em três partes: rei-filósofo, guerreiros e artesãos e camponeses. A vivência de cada um, naquilo que lhe compete, gera conhecimento e os ajuda a perceber a verdade e a procurar o Sumo Bem, que é a contemplação do mundo das idéias. Contemplar o Bem é descobrir o primeiro amigo, que gera todos os outros, para juntos buscar chegar até ele. Cícero propõe uma ética criada e manifesta na natureza, que vem na busca da virtude, a qual, leva à identificação de si mesmo com a própria natureza. Para Cícero, a moral acontece sendo necessário respeitar a grande mãe-natureza e a natureza de si próprio. Em relação à amizade, ele também a coloca sob a vivência moral-ética, com regramentos que levam a descobrir a amizade e a mantê-la, fazendo da amizade algo que une várias almas em uma só e levando os homens à busca da virtude.
Palavras-chave: Amizade. Ética. Alma. Virtude.
- INTRODUÇÃO
Desde os tempos antigos o homem tem a necessidade de se relacionar com outro igual. Platão, em sua obra Lísis, vem fazer uma investigação acerca da palavra amizade, do seu surgimento e como ela se dá nos indivíduos. O texto traz uma investigação de sua filosofia com um olhar sobre a ética para buscar tais respostas. O diálogo entre Sócrates, Lísis e Menexemo gera grandes questionamentos, fazendo maiêutica, ou seja, trazendo o conhecimento de dentro para fora. Mas ainda, é preciso buscar dentro da filosofia platônica a saída da caverna para sair da ignorância da contemplação das sombras e se chegar à luz do conhecimento. Ao se chegar a essa luz o homem sente-se impulsionado a uma volta até a caverna. Essa volta torna-se possível por conta da ética trazida pela sabedoria, que rege também os âmbitos da política. A amizade em Platão é de grande valor, mas é preciso investigá-la, dando, assim, origem a este trabalho.
Mas, em tempos passados, um grande orador, político, difundidor da filosofia grega e filósofo, questiona-se também acerca do tema amizade. Marcos Túlio Cícero traz uma amizade que respeita o corpo, numa relação também com o logos, que é a razão e que é manifesto na natureza. Mas, para entender seu pensamento sobre tal tema, é necessário olhar como se manifesta a ética em seu pensamento. Em primeiro lugar, e como ponto de partida, vem a mãe-natureza, geradora de tudo que dá origem a uma virtude, que vem reger a amizade ciceroniana e traz questionamentos e regramentos sobre a amizade que, ao final, vem para ajudar indivíduos que queiram vivê-la.
Por fim, grande é o pensamento por traz da palavra amizade e grandes foram os filósofos que se questionaram sobre ela. Este trabalho traz a procura de importante tema, que se dá na relação entre indivíduos e é chamada de amizade. A pesquisa é feita com um olhar sobre as éticas platônica e ciceroniana, que trazem valorosos resultados.
- A AMIZADE NA ÉTICA PLATÔNICA
A ética platônica traz em si a felicidade, e a contemplação do Sumo Bem, tudo isso através da razão, que transcorre por toda sua filosofia. Platão julga apsykhé, que é a alma, como eterna, e, ainda, estabelece a supremacia e autonomia da razão sobre as emoções e os impulsos.[3] A alma, que é suprassensível, se distingue do corpo, que é sensível, gerando entre eles uma oposição. Pois o corpo sente os prazeres, que, para a alma, tornam-se barreira para a razão:
A alma do verdadeiro filósofo, abstém-se, o mais possível, de prazeres, de desejos e de medos, considerando que aquele que se deixa cativar além da medida pelos prazeres, não recebe um mal tão grande como se ficasse enfermo ou gastasse parte de suas riquezas para satisfazer às suas paixões, mas recebe o mal maior que imaginar se possa e não aí na conta disso.[4]
A psykhé sendo estreitamente racional nos dá a possibilidade de chegar ao conhecimento das coisas. E o corpo, já que é sensível, acaba por sentir prazeres, o que é um mal, pois barra o conhecimento e impede o reto agir do homem; por esse motivo a alma de um verdadeiro filósofo precisa abster-se dos prazeres.
Essa oposição entre corpo e alma, gera uma dualidade. Para compreender a alma Platão a divide em três partes: a alma racional que é superior as outras duas almas – irascível e concupiscível –, localizando-se na cabeça e tendo como virtude asabedoria, que é a alma do filósofo. Depois, a alma irascível, que vem associada à vontade e dá ao homem o ânimo que necessita para enfrentar problemas e conflitos; fica localizada no peito e traz a virtude da força e da coragem, sendo a alma do guerreiro. Por último, está a alma concupiscível, constituída pelos desejos e necessidades básicas do homem. É localizada no ventre, tendo por virtude a moderação, e por isso, é a alma dos artesãos e camponeses.[5]
Platão divide o corpo em três partes - cabeça, tronco e pernas, como faz com a alma, trazendo para a sociedade um ideal de governante, que é o rei-filósofo, sendo este a primeira divisão do corpo, seguido pelo guerreiro e depois os artesãos e camponeses.
Na sociedade de Platão, dividida em classes, cada um deve saber seu lugar e fazer aquilo que é de sua competência. Pois, fazendo isso, tem-se o bom andamento de toda a pólis, alcançando, assim, a justiça. Mediante a vivência da ética-moral, a sociedade pode caminhar para o conhecimento e a felicidade.[6]
As pessoas cuja senhoria se exercesse pela razão poderiam ser filósofas; elas teriam tudo o que é necessário para participar do conselho de governantes e até mesmo para chegar a ser rei. As pessoas cujo espírito fosse o motor principal seriam homens de ação e, uma vez educados, formariam o grupo dos guerreiros, defensores armados da cidade. Por fim, os que caíssem sob o domínio dos apetites [...] estariam destinadas a trabalhar com as mãos, no artesanato e afins, servindo na cidade para o estamento dos operários e artesãos.[7]
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