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Cultura As meninas-lobo

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Por:   •  9/9/2013  •  Tese  •  3.621 Palavras (15 Páginas)  •  2.306 Visualizações

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A CULTURA

As meninas-lobo

Na Índia, onde os casos de meninos-lobo foram relativamente numerosos, descobriram-se, em 1920, duas crianças, Amala e Kamala, vivendo no meio de uma familia de lobos. A primeira tinha um ano e meio e veio a morrer um ano mais tarde. Kamala, de oito anos de idade, viveu até 1929. Não tinham nada de humano e seu comportamento era exatamente semelhante àquele de seus irmãos lobos.

Elas caminhavam de quatro patas apoiando-se sobre os joelhos e cotovelos para os pequenos trajetos e sobre as mãos e os pés para os trajetos longos e rápidos.

Eram incapazes de permanecer de pé. Só se alimentavam de carne crua ou podre, comiam e bebiam como os animais, lançando a cabeça para a frente e lambendo os líquidos. Na instituição onde foram recolhidas, passavam o dia acabrunhadas e prostradas numa sombra; eram ativas e ruidosas durante a noite, procurando fugir e uivando como lobos. Nunca choraram ou riram.

Kamala viveu durante oito anos na instituição que a acolheu, humanizando-se lentamente. Ela necessitou de seis anos para aprender a andar e pouco antes de morrer só tinha um vocabulário de cinqüenta palavras. Atitudes afetivas foram aparecendo aos poucos.

Ela chorou pela primeira vez por ocasião da morte de Amala e se apegou lentamente às pessoas que cuidaram dela e às outras crianças com as quais conviveu.

A sua inteligência permitiu-lhe comunicar-se com outros por gestos, inicialmente, e depois por palavras de um vocabulário rudimentar, aprendendo a executar ordens simples.

(B. Reymond, Le développement social de l'enfant et de 1'adolescent, Bruxelas, Dessart,1965, p.12-14, apud C. Capalbo, Fenomenologia e ciências humanas, Rio de Janeiro, J. Ozon Ed., p. 25-26.)

1. Introdução

O relato desse fato verídico nos leva discussão à respeito das diferenças entre homem e o animal. As crianças encontradas humanizar enquanto viveram com os lobos permanecendo, portanto, "animais". Não possuiam nenhuma das características humanas: ação instintiva não choravam, não riam e, sobretudo, não falavam. O processo de humanização só foi iniciado quando começaram a participar do convívio humano e foram introduzidas no mundo do símbolo pela aprendizagem da linguagem.

Fato semelhante ocorreu nos Estados Unidos com a menina Helen Keller, nascida cega, surda e muda. Era como um animal até a idade de sete anos, quando seus pais contrataram a professora Anne Sullivan, que, a partir do sentido do tato, conseguiu conduzi-la ao mundo humano das significações.

Esses estranhos casos nos propõem uma questão inicial: Quais são as diferenças entre o homem e o animal?

2. A atividade animal

Ação institiva

Os animais que se situam nos níveis mais baixos da escala zoológica de desenvolvimento, como, por exemplo, os insetos, têm a ação caracterizada sobretudo por reflexos e instintos. A ação instintiva é regida por leis biológicas, idênticas na espécie e invariáveis de indivíduo para indivíduo. A rigidez dá a ilusão da perfeição quando o animal, especializado em determinados atos, os executa com extrema habilidade. Não há quem não tenha ainda observado com atenção e pasmo o "trabalho" paciente da aranha tecendo a teia.

Mas esses atos não têm história, não se renovam e são os mesmos em todos os tempos, salvo as modificações determinadas pela evolução das espécies e as decorrentes de mutações genéticas. E mesmo quando há tais modificações, elas continuam valendo para todos os indivíduos da espécie e não permitem inovações, passando a ser transmitidas hereditariamente.

Em certas aves chamadas tentilhões, o hábito de fazer ninhos típicos da espécie é tão fixo que após cinco gerações em que essas aves eram criadas por canários, ainda continuavam a construí-los como antes.

O psicólogo Paul Guillaume explica que um ato inato não precisa surgir desde o início da vida, pois muitas vezes aparece apenas mais tarde, no decorrer do desenvolvimento: andorinhas novas, impedidas de voar até certa idade, realizam o primeiro vôo sem grande hesitação; gatinhos não esboçam qualquer reação diante de um rato, mas após o segundo mês de vida aparecem reações típicas da espécie, como perseguição, captura, brincadeira com a presa, ronco, matança etc.

Na verdade os instintos são "cegos", ou seja, são uma atividade que ignora a finalidade da própria ação. A vespa "fabrica" uma célula onde deposita o ovo junto ao qual coloca aranhas para que a larva, ao nascer, encontre alimento suficiente. Ora, se retirarmos as aranhas e o ovo, mesmo assim o inseto continuará realizando todas as operações, terminando pelo fechamento adequado da célula, ainda que vazia. Esse comportamento é "cego" porque não leva em conta o sentido principal que deveria determinar a "fabricação" da célula, ou seja, a preservação do ovo e da futura larva.

O ato humano voluntário, em contrapartida, é consciente da finalidade, isto é, o ato existe antes como pensamento, como uma possibilidade, e a execução é o resultado da escolha dos meios necessários para atingir os fins propostos. Quando há interferências externas no processo, os planos também são modificados para se adequarem à nova situação.

A inteligência concreta

Nos níveis mais altos da escala zoológica, por exemplo com os mamíferos, as ações deixam de ser exclusivamente resultado de reflexos e instintos e apresentam uma plasticidade maior, carácterística dos atos inteligentes. Ao contrário da rigidez dos instintos, a resposta ao problema, ou à situação é nova para os quais não há uma programação biológica, é uma resposta inteligente, e como tal é improvisada, pessoal e criativa.

A jovem e o macaco, de Trémois. Por que o comportamento dos simios sempre nos provoca um olhar intrigante? Talvez porque, se os gestos do macaco o fazem assemelhar-se aos homens, ao mesmo tempo percebemos o abismo que separa os animais dos seres humanos, os únicos capazes de consciência de si.

Experiências interessantes foram realizadas pelo psicólogo gestaltista Kõhler nas ilhas Canárias, onde instalou uma colônia de chimpanzés. Um dos experimentos consiste em colocar o animal faminto numa jaula onde são penduradas bananas que o animal não consegue alcançar. O chimpanzé resolve o problema quando puxa um caixote e o coloca sob a fruta a fim de pegá-la.

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