EPISTEMOLOGIA PASCALIANA: O CORAÇÃO DA RAZÃO E AS RAZÕES DO CORAÇÃO
Por: Patrick Vaz • 22/6/2017 • Resenha • 6.733 Palavras (27 Páginas) • 358 Visualizações
FACULDADE VICENTINA – FAVI
BACHARELADO EM FILOSOFIA
PATRICK HENRIQUE VAZ
EPISTEMOLOGIA PASCALIANA: O CORAÇÃO DA RAZÃO E AS RAZÕES DO CORAÇÃO
CURITIBA
2017
PATRICK HENRIQUE VAZ
EPISTEMOLOGIA PASCALIANA: O CORAÇÃO DA RAZÃO E AS RAZÕES DO CORAÇÃO
Fichamento e introdução apresentados ao curso de Bacharelado em Filosofia da Faculdade Vicentina, como parte dos requisitos para obtenção de nota bimestral.
Orientadora: Fátima Raquel Szinwelski de Oliveira
CURITIBA
2017
INTRODUÇÃO
Blaise Pascal (1623- 1662) ínclito físico e matemático, deixou um inegável legado, reconhecido até nossos dias. No tocante de suas obras Pascal abrangeu desde problemas geométricos, teológicos a complexidade das calorosas disputas filosóficas do século XVII.
Em sua mais notória obra, “Pensamentos”, está contida a suma de sua reflexão antropológica. Esta, demarcada por seu pensamento cristão, expõe desde a queda da natureza Adâmica o “teatro da vida”, onde o homem sem máscaras comtempla ao drama de suas misérias. Sendo tal reflexão emergida de sua própria história de vida demarcada por sua conversão ao catolicismo, por isso, ao nome de “Pensamentos” Pascal faz as suas “Confissões” como o fez Santo Agostinho, filósofo base para o entendimento pascaliano.
A luz de tal cenário, este artigo tem por central o objetivo de responder: como a epistemologia pascaliana inaugura uma nova concepção antropológica? Sendo que para tal percurso explicitaremos o contexto histórico filosófico de Pascal demarcado pelas filosofias céticas e estoicas, sobre a miséria e a grandeza humana.
Esta é sua atualidade, pois na exposição de sua epistemologia Pascal visa expor que o verdadeiro conhecimento humano se dá no coração, e, por tal motivo, ele faz o coração de sua epistemologia a antropologia humana e sua dramática existência, antecipando o drama da filosofia moderna notoriamente existencialista. Mas não apenas expondo os limites epistemológicos, mas também avaliando e apresentando três séculos antes o grande problema da modernidade.
Página 43
Diferença entre o espírito de geometria e o espirito de finura[1]- Num os princípios são palpáveis[2], mas afastados do uso comum; de maneira que, por falta de hábito, custa-nos virar a cabeça para esse lado: por pouco, porém, que nos viremos vemos em cheio os princípios[3]; e seria preciso ter o espírito inteiramente falso para raciocinar mal sobre os princípios tão grandes que é quase impossível nos escaparem[...].
Mas no espírito de finura, os princípios são de uso comum, aos olhos de todo mundo [...].
O que faz, portanto, que certos espíritos sutis não sejam geômetras é que eles não podem de todo voltar-se para os princípios da geometria[4]; mas o que faz com que alguns geômetras não sejam sutis é que não vêem o que está em frente deles, e que, estando acostumados aos princípios nítidos e grosseiros da geometria e a só raciocinar depois de terem visto bem e bem manejado os seus princípios, perdem-se nas coisas da finura[5] [...].
Página. 42
Os geômetras que são apenas geômetras têm o espírito reto, mas desde que se lhes expliquem bem toas as coisas por definições e princípios [...]. E os sutis, que são apenas sutis, não podem ter a paciência de descer até os primeiros princípios das coisas especulativas.
Página 43
Há, pois, duas espécies de espíritos: uma, que penetra viva e profundamente as consequências dos princípios, e é no que consiste o espírito de retidão; outra, que compreende grande número de princípios sem os confundir, e é no que consiste o espírito de geometria.
Os que que estão acostumados a julgar pelo sentimento nada compreendem das coisas do raciocínio, pois querem logo chegar a perceber com um golpe de vista e não têm o hábito de procurar os princípios. E os outros, pelo contrário, que estão habituados a raciocinar por princípios, nada compreendem das coisas do sentimento.
Página 44
O homem se convence, em geral, melhor com os argumentos que ele mesmo encontra do que com os que ocorrem ao espírito dos outros, [...] a doença principal do homem é a curiosidade inquieta das coisas que não pode saber; e não é pior para ele permanecer no erro do que nessa curiosidade inútil.
Página 45
Quando não se conhece a verdade de uma coisa, é útil que haja um erro comum suscetível de fixar o espírito[6] dos homens [...].
Página 46
A natureza pôs todas as suas verdades cada uma em si mesma[7]; nossa arte encerra-as umas nas outas, mas isto não é natural: cada qual ocupa seu lugar.
Página 48
Há certo modelo de satisfação e beleza que consiste em certa relação entre nossa natureza, fraca ou forte, tal qual é, e a coisa que nos agrada[8]. Apreciamos tudo o que se forma de acordo com esse modelo: casa, canção, discurso, verso ou prosa, mulher, pássaros, rios, árvores, quartos, roupas e etc. Tudo o que não se faz de conformidade com esse modelo desagrada [...].
Página 53
Miséria do homem sem Deus [...], felicidade do homem com Deus. Ou em outras palavras: [...] A natureza está corrompida pela própria natureza[9].
Página 54
É preciso conhecer-se a si mesmo; se isso não servisse para encontrar a verdade, serviria ao menos para regular a vida e não há nada mais justo.
Página 55
Eis aonde nos conduzem os conhecimentos naturais. Se estes não são verdadeiros, não há verdade no homem; e, se uma vez que não pode subsistir sem crer neles, [...] observe também a si mesmo e julgue se tem alguma proporção com eles[...].
Que o homem, voltado para si próprio, considere o que é diante do que existe; que se encare como um ser extraviado neste canto afastado da natureza, e que, da pequena cela onde se acha preso, isto é, do universo, aprenda a avaliar em seu valor exato a terra, os reinos, as cidades e ele próprio. Que é um homem dentro do infinito?
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