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Ensaio Não Somente Pelas Escrituras Incompleto

Por:   •  3/11/2022  •  Artigo  •  2.692 Palavras (11 Páginas)  •  78 Visualizações

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A história da humanidade é marcada por uma série de rupturas e dissenções de múltiplos aspectos, sendo eles culturais, políticos, sociais e, logicamente, religiosos. Durante o auge do Império Romano, por volta do ano 35 d.C, emergia uma das maiores (senão a maior) instituições que a humanidade já viu surgir ao longo de toda a sua existência pensante e até o presente momento. Com o advento das hordas bárbaras sobre o Império Romano, levando à sua decadência gradual ao longo dos séculos II, III, IV e V, a única instituição que permaneceu e auxiliou na regulação da vida, da moral e da religião das populações foi a Igreja Católica.

Essa função de organizadora da sociedade em tão variados aspectos coube única e exclusivamente ao braço espiritual da realidade, a Igreja Católica. Ao longo de dez séculos foi ela quem organizou tanto a cultura (preservando, copiando e traduzindo as obras dos grandes escritos de todos os tempos: Aristóteles, Platão, Horácio, Hesíodo, Homero, Plotino, etc), quanto a política (os epíscopos[1] tomando por base as divisões territoriais do I.R, constituíram as dioceses e passaram a organizá-las, catequizando e evangelizando os novos povos surgidos da “unificação” dos povos “bárbaros” e romanos), quanto a sociedade (estabelecimento de uma ordem hierárquica que garantia a fraternidade entre as diversas camadas sociais).

Foi no século XI, que surgiram as primeiras universidades, sob a guarda, também, da Igreja Católica. A partir da criação das universidades foi possível a discussão de temas mais aprofundados da fé, da filosofia, do direito e da economia. O ápice da filosofia se dá nesse contexto, juntamente com o desenvolvimento mais profundo da teologia e dos elementos sacros firmados pela Igreja Católica.

Foi no ápice desse auge que a filosofia e a teologia encontraram, mais uma vez, suas dissidencias fundamentais e a emergencia de novas correntes de pensamento que, novamente na história, mudariam e rachariam o véu da unidade e da consonância.

Por volta do século XV um filósofo se destacou, seu nome era Guilherme de Ockham, foi aluno de Duns Scott, grande expoente da filosofia e teologia franciscana. Ockham determinou uma nova corrente da filosofia, o Nominalismo. Essa vertente filosófica da escolástica cria que apenas existiam os nomes puros das coisas e não as coisas em si. Do ponto de vista de Ockham o conceito é um signo capaz de ser derivado/predicado de várias coisas, como já havia sido definido por Abelardo[2].

Juntamente nesse contexto filosófico, emergiu também Martinho Lutero, frade agostiniano, que guiado pela filosofia nominalista estabeleceu o mais profundo e significativo racha na história eclesiástica ocidental. Lutero, em uma viagem a Roma, observou ali alguns acontecimentos que o fizeram discordar de doutrinas essenciais da Igreja Católica. Seu ponto de ataque inicial foram as indulgências. Lutero observou que alguns padres exigiam dinheiro dos fiéis para que estes pudessem comprar indulgências, que no entendimento dele naquele contexto, seriam lugares no paraíso, quase como se fossem terrenos.

O problema no entanto foram dois: 1) Esse caso de venda de indulgências como a venda de “terrenos” no paraíso, não constava no escopo doutrinário da Igreja, ou seja, não era uma doutrina da Igreja proprimente dita, mas a ação individual de alguns maus padres que usavam do desconhecimento das pessoas acerca do assunto e também da dificuldade de fiscalização por parte da Sé Romana nesse contexto; 2) Eric Voeglin[3], acerca desse assunto, analisa o seguinte: “A prática de indulgências como tal era antiga na igreja. Servia como uma remissão da punição temporal que é imposta pela autoridade da igreja como um sinal visível de contrição verdadeira. [...] O costume foi suplementado pela doutrina do thesaurus meritorum, primeiro desenvolvida por Alexandre de Hales, no século XIII, que é a doutrina de uma acumulação de expiação “superflua” através de santos no “Tesouro da Igreja”. Até esse ponto, o sistema de indulgências não era mais do que uma concessão da igreja a um ambiente civilizacional que dificilmente poderia ter sido cristianizado nas massas amplas, caso mantivesse os rigores de punição da igreja inicial. O abuso começou com o equívoco popular em considerar as indulgências como uma remissão não apenas da punição temporal, mas também da culpa; e em particular com o equívoco das indulgências plenárias como uma remissão da culpa futura. Indulgências, especialmente quando provindas de Roma, podiam ser entendidas popularmente como bilhetes de entrada para o Céu.”[4] A análise de Voegelin traz a tona o que eram, de fato, as indulgências e o que Lutero cria que fossem. Ou seja, havia uma distância entre o elemento e seu significado. No fim das contas, Lutero brigava para que as indulgências fossem o que essencialmente elas eram, um sinal da remissão diante da comunidade eclesiástica.

As indulgências foram um estopim para toda uma discussão muito mais aprofundada a respeito das doutrinas e de alguns dogmas da fé Católica. O documento básico comum daquele período foram as “95 Teses” publicadas em 31/10/1517 na abadia de Wittenburg. A partir desse documento foram erigidas as principais doutrinas protestantes, as chamadas “Cinco Solas”[5].

Essas doutrinas orientam, de certo modo, as principais correntes clássicas do protestantismo, não sendo possível averiguar as demais derivações denominativas, tendo em vista o princípio da “livre-interpretação” das escrituras, tomando por base a ação do Espirito Santo no indivíduo.

Um dos “Cinco Solas” é o Sola Scriptura que trata do seguinte ponto em contradição com a fé Católica: Somente as escrituras são contedoras da revelação total de Deus para a humanidade. Seguindo as palavras originais da CFW, o sola seria: “Todo o conselho de Deus concernente a todas as coisas necessárias para a glória dEle e para a salvação, fé e vida do homem, ou é expressamente declarado na Escritura ou pode ser lógica e claramente deduzido dela. À Escritura nada se acrescentará em tempo algum, nem por novas revelações do Espírito, nem por tradições dos homens...”(1: 6); “Na Escritura não são todas as coisas igualmente claras em si, nem do mesmo modo evidentes a todos; contudo, as coisas que precisam ser obedecidas, cridas e observadas para a salvação, em um outro passo da Escritura são tão claramente expostas e explicadas, que não só os doutos, mas ainda os indoutos, no devido uso dos meios ordinários, podem alcançar uma suficiente compreensão delas.” (1: 7).

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