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Ensaio Sobre A Cegueira

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Por:   •  7/10/2014  •  1.720 Palavras (7 Páginas)  •  296 Visualizações

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CRÍTICA DO LIVRO: “ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA”

O Ensaio sobre a Cegueira de José Saramago, fala sobre uma população de uma cidade se vê acometida por uma epidemia que ocasiona “cegueira branca”. A população é infectada aos poucos e todos aqueles atingidos pela cegueira são isolados em um sanatório desativado, sob a alegação governamental de que tal ação seria tratada como medida de segurança. No local, as condições são sub-humanas. O caos é total, a sujeira se alastra por todo o ambiente e a alimentação é insuficiente.

Porém, existe na área de isolamento uma mulher que consegue enxergar. Ela é esposa de um oftalmologista que foi infectado, presente na segunda parte do livro, pela doença. O médico e sua esposa que enxerga ajudam as outras pessoas em favor da coletividade seja cuidando da higiene alheia, seja guiando as pessoas, ou ainda, realizando outras atividades em benefício do grupo. No início ninguém sabe que a mulher enxerga, pois ao perceber que o marido seria encaminhado à área de isolamento, ela mentiu e afirmou as autoridades que também não enxergava.

Quem detém o controle sobre a população isolada são soldados que ainda enxergam. Estes fornecem a alimentação, que é dividida no começo de forma até justa entre todos os integrantes. Ocorre que uma das alas resolve controlar o racionamento através de imposição do medo e da força, estabelecendo pagamento pela comida. Quando esgotam-se as joias, relógios e outros bens, os integrantes da ala dominante exigem as mulheres como forma de pagamento.

Após um episódio de violência sexual, a mulher que enxerga decide matar o líder da ala exploradora, gerando uma guerra interna no local. Depois de algum tempo todos conseguem sair do sanatório, guiados pela mulher, que percebe um estado de total desordem nas ruas. Pessoas disputam alimentos como animais e seres humanos mortos nas ruas são devorados por cães.

Ao final, o primeiro homem a ficar cego consegue recuperar sua visão. Surge, com isso, a esperança de que todos consigam também voltar a enxergar.

Existe no Ensaio sobre a Cegueira, de Saramago uma diferença sutil entre as atitudes de olhar e de ver. O olhar no sentido de percepção visual, uma consequência física do sentido humano da visão. O ver como uma possibilidade de observação atenciosa, de exame daquilo que nos aparece à vista.

Nesse sentido, a narrativa em questão promove um jogo entre desumanização e humanização ao trazer passagens, em que se desce aos mais baixos extremos da barbárie, mas, sempre atentando para momentos de solidariedade e de compaixão, ou seja, para momentos em que o reparar se torna fundamental. Assim como destacar alguns momentos e personagens da narrativa que atentam para a necessidade de humanização frente ao processo de cegueira e de caos vivenciados pelos personagens do Ensaio.

Torna-se necessária a análise do tipo de cegueira. Não é uma cegueira usual, em que os cegos tem apenas a percepção da escuridão, mas sim uma cegueira “branca”. O branco representa a existência total de luz e, no entanto, ninguém consegue ver diante de um excesso de claridade. É possível fazer uma interpretação que o excesso de luz cega as pessoas. Dessa maneira procede a sociedade: as pessoas possuem acesso a diversas informações, o saber está em toda parte, mas isso não é suficiente: se o saber é intenso mas não há reflexão sobre ele, ocorre uma cegueira social, ou alienação. Ou seja, pode-se dizer que o saber apenas colocado à disposição mas não utilizado funciona como excesso de luz, que ao invés de iluminar, cega.

Tal manicômio pode ser visto como um espaço de poder da narrativa, na medida em que ele é utilizado como controlador e regulador do comportamento dos cegos. Os que foram enviados ao manicômio são postos ao esquecimento, sendo, vez ou outra, interrompidos pelo som de um alto-falante instalado no manicômio, que ditava as ordens do Governo, o que nos revela como, em estados de crise, sempre andam juntos a violência e o esquecimento. Nesse sentido, o vínculo entre verdade e poder pode gerar cegueira social se os indivíduos não contestaram este vínculo. Dessa maneira, a narrativa em questão gera reflexões a respeito da falta de consciência humana em relação à ligação entre a verdade e os mecanismos de poder.

O velho da venda preta é um personagem que, simbolicamente, representa aquele que possui sabedoria e poder de análise, ao refletir a respeito da cegueira e do caos instalado. Além da velhice, que lhe acumula experiência, o personagem usa uma venda, carregada de significação, pois, por ser um símbolo de cegueira, é também uma forma de mostrar que o personagem está imune à superficialidade das aparências físicas.

O médico de Saramago é um homem fraco e sem ação. Fragilizado pela cegueira, recorre ao adultério como reflexo de seu orgulho ferido ao se tornar dependente dos cuidados de sua mulher. O corpo da prostituta foi o último refúgio de sua potência masculina, já subjugada pela força dos cegos que comandavam.

Ao colocar a mulher na função de protagonista, isto é, quem realiza as ações determinantes no desenvolvimento do enredo, Saramago representa, no plano da ficção as ascensão da mulher no plano histórico.

Ao salientar vários pontos violentos dos humanos quando postos em condições sub humanas, Saramago evidencia que todos os seres humanos são violentos. O que muda é o proposito desta violência, se é pelo bem do coletivo ou interesses individuais.

A ideia de alienação vem sendo perpetuada há muito tempo pelas classes dominantes, ou seja, a alienação possui uma construção histórica. Isso faz com que o poder seja mantido por apenas um pequeno grupo de pessoas, enquanto a maioria permanece alienada para servi-lo. É a falta de reflexão e de conhecimento, que leva populações a serem dominadas por líderes tiranos e corruptos, inclusive nas sociedades contemporâneas.

Evidenciam-se na obra valores sociais extremamente frágeis, assim como nas reais sociedades. Onde ninguém pode ver, os problemas sociais não aparecem. Na história algumas pessoas chegam a andar nuas porque o pudor não mais existe – se ninguém é capaz de ver uma pessoa nua, não há porque existir pudor. Da mesma maneira ocorre com a falta de higiene e com os valores sociais e morais. As pessoas se habituam a viver nesses moldes em razão

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