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Etnografia, Ilha das Flores e Bruno Latour

Por:   •  20/10/2016  •  Trabalho acadêmico  •  1.466 Palavras (6 Páginas)  •  429 Visualizações

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UENF – UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE FLUMINENSE DARCY RIBEIRO

CURSO DE LICENCIATURA EM MATEMÁTICA

MARIANA SILVÉRIO FRANÇA

CIÊNCIA E SOCIEDADE

Campos dos Goytacazes, 14 de outubro de 2016

MARIANA SILVÉRIO FRANÇA

CIÊNCIA E SOCIEDADE

Trabalho apresentado à disciplina de Ciência e Sociedade do curso de

Licenciatura em Matemática da Universidade Estadual do Norte Fluminense

Darcy Ribeiro – UENF, para obtenção de nota parcial.

Campos dos Goytacazes, 14 de outubro de 2016.


Etnografia, do grego ethos (cultura) + grafe (escrita), é o estudo descritivo da cultura dos povos, sua língua, raça, religião, hábitos, etc., como também das manifestações materiais de suas atividades. Esses “povos” não precisam, necessariamente, ser parte de uma nação, delimitada por um espaço territorial físico, eles apenas precisam ser munidos de cultura (o que é inerente a qualquer ser humano que vive em sociedade), sendo esta cultura o objeto de pesquisa do etnógrafo.

O método etnográfico tem a finalidade de desvendar a realidade através de uma perspectiva cultural (SEGOVIA HERRERA, 1988) e baseia-se, principalmente, no trabalho de campo. O etnógrafo entra em contato intenso com a cultura do grupo em estudo, vivenciando suas experiências, de modo a descobrir como está organizado seu sistema de significados culturais. O método etnográfico consiste num mergulho profundo e prolongado na vida cotidiana desses Outros que queremos apreender e compreender. (MONTOYA URIARTE, 2012)

As etapas do método etnográfico são:

  • Formação teórica: é imprescindível para realização de uma etnografia. Deve-se estar a par dos valores e critérios a respeito da etnografia, ou seja, conhecer profundamente a teoria. Segundo DA MATTA (1992) nem todos podem ser etnógrafos. Há de haver uma formação em antropologia, essa ciência que se dedica a “testemunhar outras humanidades”.
  • Exploração: são definidos os problemas que serão etnografados, o que são e porque são relevantes, bem como onde será o local de estudo. Nessa etapa são feitos os contatos para imersão e as observações iniciais.
  • Decisão: é feita uma busca sistemática de dados para compreender e interpretar o problema em questão. Na verdade, o campo não nos fornece dados, mas informações, chamadas pelos antropólogos-etnógrafos de dados. Tais informações se transformam em dados a partir do processo reflexivo do etnógrafo, após sua coleta (GUBER, 2005). Durante essa etapa as informações são coletadas e descritas em detalhes através da descrição dos depoimentos cedidos pelos interlocutores que estão sendo estudados. Esses depoimentos não seguem um padrão, ou seja, não são moldados. O interlocutor fala aquilo que lhe convém, não o que espera ser ouvido. Montoya Uriarte (2012) diz que:

A relação dialógica só é possível de ser estabelecida no meio de uma posição do antropólogo entre os nativos: a de observador-participante, que cria familiaridade e possibilita a “fusão de horizontes” da qual falam os hermeneutas, condição indispensável para um verdadeiro diálogo.

  • Descoberta: acontece a explicação da realidade por meio do desenvolvimento das teorias. Nesse momento o etnógrafo começa a enxergar ordem nas coisas ditas pelo interlocutor, ou seja, as informações passam a ter um signicado importante para a pesquisa etnográfica. A descoberta não é um processo rápido, ele leva tempo até que o pesquisador seja capaz de relativizar sua sociedade ao mesmo tempo que consegue perceber a coerência contida na cultura do Outro. Em palavras de Roberto Da Matta, o tempo possibilita que o antropólogo torne exótico (distante, estranho) o que é familiar e familiar (conhecido, próximo) o que é exótico (DA MATTA, 1981).
  • Escrita: após ter descoberto a ordem das coisas, o etnógrafo tem de colocar em palavras o que fora estudado e descoberto sobre o problema em questão, para pessoas que não estiveram lá durante a sua experiência de campo. A etnografia é uma experiência, uma experiência do Outro para captar e compreender, depois interpretar, a sua alteridade (MONTOYA URIARTE, 2012). A narrativa etnográfica deve ser impessoal e retratar a verdade da maneira mais fiel possível, a partir da visão dos Outros, viventes da cultura em questão. O etnógrafo não pode deixar que suas experiências pessoais, sejam elas dentro ou fora do campo, intefiram em sua escrita. A voz do antropólogo não é a voz do nativo porque uma coisa é o que o nativo pensa e outra, o que o antropólogo pensa que o nativo pensa (VIVEIROS DE CASTRO, 2002).

Agora vamos analisar e comparar entre si o curta-metragem de Jorge Furtado “Ilha das Flores” (1989), a reportagem feita pelo Editorial J “Ilha das Flores: depois que a sessão acabou” (2011) e o texto de Bruno Latour e Steve Woolgar “A Vida de Laboratório: A produção dos fatos científicos” (1979).

  1. Quanto à formação teórica do pesquisador:

O curta-metragem fora escrito e dirigido pelo cineasta Jorge Furtado, tem formação parcialmente autodidata, entretanto cursou medicina, psicologia, jornalismo e artes plásticas mas não concluiu nenhum dos cursos. A reportagem fora feita pelo Editoial J, o laboratório de jornalismo da Famecos/PUCRS. O livro, por sua vez, fora escrito por Bruno Latour, um antropólogosociólogo e filósofo da ciência e Steve Woolgar, sociologista. Partindo-se de tais considerações, podemos evidenciar que Latour (juntamente com Woolgar) apresenta uma capacidade teórica maior que a de Jorge Furtado e dos estudantes de jornalismo para a produção de uma etnografia.

  1. Quanto à exploração contida na obra:

Em Ilha das Flores, o problema a ser questionado seria, de certa forma, a mecânica da sociedade de consumo e a desigualdade social gerada a partir da mesma. A reportagem, por sua vez, busca problematizar a falta de veracidade nos dados contidos no curta-metragem citado anteriormente e na repercussão que este teve na vida dos moradores da suposta “Ilha da Flores”. Em A Vida de Laboratório, Bruno Latour busca questionar a ideia de que as ciências são fatos adquiridos e, por isso, não permitem estudos a respeito de como suas práticas se dão, impulsionado pela questão sobre o por que é tão difícil encontrar profissionais costa-marfinenses competentes para substituir profissionais franceses de uma empresa francesa situada na Costa do Marfim.

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