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Fichamento: SARTE: O PROBLEMA DO NADA Capítulo I A ORIGEM DA NEGAÇÃO I A INTERROGAÇÃO

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Por:   •  23/10/2014  •  10.511 Palavras (43 Páginas)  •  625 Visualizações

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Primeira Parte O PROBLEMA DO NADA Capítulo I A ORIGEM DA NEGAÇÃO I A INTERROGAÇÃO

Nossas investigações nos levaram ao seio do ser. Mas esbarraram também em um impasse, pois não foi possível estabelecer um liame entre as duas regiões de ser descobertas. Sem dúvida, isso decorre do fato de termos escolhido má perspectiva para conduzir nossa indagação. (SARTRE, 2007, P.43)

Husserl também pensa assim: para ele, o vermelho é uma abstração, porque a cor não pode existir sem a figura. Ao contrário, a "coisa" espaço-temporal, com suas determinações todas, é um concreto. Neste ponto de vista, a consciência é abstrata, pois esconde uma origem ontológica no Em-si, e, reciprocamente, o fenômeno é também abstrato, já que precisa "aparecer" à consciência. O concreto só pode ser a totalidade sintética da qual tanto a consciência como o fenômeno são apenas momentos. É o homem no mundo, com essa união específica do homem com o mundo que Heidegger, por exemplo, chama "ser-no-mundo". (SARTRE, 2007, P.43)

A relação entre as regiões de ser nasce de uma fonte primitiva, parte da própria estrutura desses seres e que já descobrimos em nossa primeira investigação. Basta abrir os olhos e interrogar com toda ingenuidade a totalidade homem-no-mundo. Descrevendo-a, podemos responder a estas duas perguntas: 1 º) Qual é a relação sintética que chamamos de ser-no-mundo? 2º) Que devem ser o homem e o mundo para que seja possível a relação entre eles? Na verdade, as duas perguntas invadem uma à outra e não podem ser respondidas separadamente.(SARTRE, 2007, P.44)

Mas cada uma das condutas humanas, sendo conduta do homem no mundo, pode nos revelar ao mesmo tempo o homem, o mundo e a relação que os une […]. Convém escolher uma conduta primeira, capaz de servir de fio condutor da nossa investigação. Ora, a própria investigação nos oferece a conduta desejada: o homem que eu sou, se o apreendo tal qual é neste momento no mundo, descubro que se mantém frente ao ser em uma atitude interrogativa.(SARTRE, 2007, P.44)

Em toda interrogação ficamos ante o ser que interrogamos. Toda interrogação presume, pois, um ser que interroga e outro ao qual se interroga. Não é a relação primitiva do homem com o ser-Em-si, mas, ao oposto, fica nos limites dessa relação e a pressupõe. Por outro lado, interrogamos o ser interrogado sobre alguma coisa. Esse sobre o que faz parte da transcendência do ser: interrogo o ser sobre suas maneiras de ser ou seu ser. Neste ponto de vista, a interrogação corresponde à espera: espero uma resposta do ser interrogado. Ou seja, sobre o fundo de uma familiaridade pré-interrogativa com o ser, espero uma revelação de seu ser ou maneira de ser. A resposta será sim ou não. A existência de duas possibilidades igualmente objetivas e contraditórias distingue por princípio a interrogação da afirmação ou negação. (SARTRE, 2007, P.45)

Há interrogações que, aparentemente, não comportam resposta negativa [...] Portanto, quando indago "há uma conduta capaz de revelar a relação do homem com o mundo?", admito por princípio a possibilidade de resposta negativa, como: "Não, tal conduta não existe". Significa aceitarmos o fato transcendente da não-existência dessa conduta. Mas talvez sejamos levados a não crer na existência objetiva de um não-ser; pode-se dizer apenas que, neste caso, o fato remete à minha subjetividade: o ser transcendente iria ensinar-me que a conduta procurada é pura ficção. (SARTRE, 2007, P.45)

Mas, em primeiro lugar, chamar essa conduta de pura ficção equivale a mascarar a negação sem suprimi-la. "Ser pura ficção" corresponde aqui a "não ser mais que ficção". Além disso, destruir a realidade da negação é o mesmo que fazer desvanecer a realidade da resposta. Esta, com efeito, é dada pelo próprio ser; logo, é ele que me revela a negação. Para o investigador existe, portanto, a possibilidade permanente e objetiva de uma resposta negativa. (SARTRE, 2007, P.45)

A pergunta encerra a existência de uma verdade […]. Eis que uma olhada na própria interrogação, quando supúnhamos alcançar nossa meta, nos revela de repente estarmos rodeados de nada. A possibilidade permanente do não-ser, fora de nós e em nós, condiciona nossas perguntas sobre o ser. E é ainda o não-ser que vai circunscrever a resposta: aquilo que o ser será vai se recortar necessariamente sobre o fundo daquilo que não é. Qualquer que seja a resposta, pode ser formulada assim: "O ser é isso, e, fora disso, nada". (SARTRE, 2007, P.46)

Portanto, acaba de surgir novo componente do real: o não-ser. Nosso problema se complica, porque já não temos de tratar só das relações entre ser humano e ser-Em-si, mas também entre ser e não-ser e não-ser humano e não-ser transcendente. (SARTRE, 2007, P.46)

A negação seria simplesmente uma qualidade do juízo, e a espera do investigador uma espera do juízo-resposta. Quanto ao Nada, teria sua origem nos juízos negativos, tal como um conceito a estabelecer a unidade transcendente desses juízos, função proposicional do tipo "X não é". (SARTRE, 2007, P.46)

Por outro lado, esse juízo negativo, a título de ato subjetivo, é rigorosamente identificado ao juízo afirmativo. […] A negação estaria "no final" do ato judicativo, sem estar por isso "dentro" do ser. Tal como um irreal encerrado entre duas realidades plenas, nenhuma das quais o requer como sua: o ser-Em-si, interrogado sobre a negação, remeteria ao juízo, já que não é senão aquilo que é - e o juízo, plena positividade psíquica, remeteria ao ser, já que formula uma negação concernente a este, logo transcendente. (SARTRE, 2007, P.47)

A negação, resultado de operações psíquicas concretas, sustentada na existência por essas mesmas operações, incapaz de existir por si, possuiria a existência de um correlato noemático: seu esse residiria exatamente no seu percipi. E o Nada, unidade conceitual dos juízos negativos, não teria a menor realidade salvo a que os estóicos conferiam a seu lecton. (SARTRE, 2007, P.47)

É evidente que o não-ser surge sempre nos limites de uma espera humana. [...] Seria portanto inútil contestar que a negação aparece sobre o fundo primitivo de uma relação entre o homem e o mundo; o mundo não revela seus não-seres a quem não os colocou previamente como possibilidades [...] É falso que a negação seja somente qualidade do juízo: a questão se formula por um juízo interrogativo, mas não se trata. (SARTRE, 2007, P.47-48)

Deve-se entender que a interrogação dialogada, ao contrário, é uma espécie particular do gênero "interrogação" e que o ser interrogado

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