Filosofia
Por: dienifercmp • 14/2/2017 • Artigo • 3.192 Palavras (13 Páginas) • 820 Visualizações
UNIDADE I: Gênese, natureza e desenvolvimento da Filosofia
1.1.Filosofia: Etimologia do termo
. A palavra filosofia é formada pela junção de dois vocábulos gregos: phílos (amor) e sophía (sabedoria). Para os gregos filosofia é amor à sabedoria.
..Phílos deriva de philía, que significa amizade, amor fraterno, respeito entre iguais. Sophía quer dizer sabedoria e dela vem a palavra sophós, sábio. É bom notar que a própria etimologia do termo mostra que a filosofia não é puro lógos, pura razão: ela é a procura amorosa da verdade. Filosofia indica um estado de espírito, o da pessoa que ama, isto é, que deseja o conhecimento, o estima, o procura e o respeita.
. O filósofo será aquele que é amigo do saber. Filósofo = sophós = sábio.
. Pitágoras de Samos (século VI A. C.) é tido como o inventor da palavra filosofia. “ Pitágoras teria afirmado que a sabedoria plena e completa pertence aos deuses, mas que os homens podem desejá-la ou amá-la, tornando-se filósofos. Dizia Pitágoras que três tipos de pessoas compareciam aos jogos olímpicos ( a festa pública mais importante da Grécia): as que iam para comerciar durante os jogos, ali estando apenas para satisfazer a própria cobiça, sem se interessar pelas disputas e os torneios; as que iam para competir e brilhar, isto é, os atletas e artistas (pois, durante os jogos também havia competições artísticas de dança, poesia, música, teatro); e as que iam para assistir aos jogos e torneios, para avaliar o desempenho e julgar o valor dos que ali se apresentavam. Esse terceiro tipo de pessoa, dizia Pitágoras, é o Filósofo.
Com isso, Pitágoras queria dizer que o filósofo não é movido por interesses comerciais – não coloca o saber como propriedade sua, como uma coisa para ser comprada e vendida no mercado; também não é movido pelo desejo de competir – não é um “atleta intelectual” , não faz das idéias e dos conhecimentos uma habilidade para vencer competidores ; e, sim, é movido pelo desejo de observar, contemplar, julgar e avaliar as coisas, as ações, as pessoas, os acontecimentos, a vida; em resumo, é movido pelo desejo de saber. A verdade não pertence a ninguém(para ser comerciada) nem é um prêmio conquistado por competição. Ela está diante de todos nós como algo a ser procurado e é encontrada por todos aqueles que a desejarem, que tiverem olhos para vê-la e coragem para buscá-la.”(CHAUI, Marilena.Convite à Filosofia. 2003, p.25)
1.2.Introdução: a problemática filosófica
O que é a Filosofia?
. Heráclito (século VI a. C.) : “...é necessário que os homens filósofos sejam bons pesquisadores de muitas coisas.”
. Sócrates (século V a.C.): mostra que a filosofia é busca; que está por vir; é tardia; é saber produzido e elaborado pelo homem. “Só sei que nada sei”
. Platão( século IV a.C.) : “A filosofia é o uso do saber em proveito do homem”
. Descartes (século XVII d.C.): “...esta palavra significa o estudo da sabedoria , e por sabedoria não se entende somente a prudência nas coisas, mas um perfeito conhecimento de todas as coisas que o homem pode saber, tanto para a conduta de sua vida quanto para a conservação de sua saúde e a invenção de todas as artes...”
. Thomas Hobbes ( Século XVII d.C.) : “...Filosofia é, por um lado, o conhecimento causal e, por outro, a utilização desse conhecimento em benefício do homem...”
. Kant ( Século XVIII D.C.): “Não há filosofia que se possa aprender, só se aprende a filosofar.”
. Merleau-Ponty (Século XX): “A verdadeira filosofia é reaprender a ver o mundo.”
. Husserl (Século XX) : “O que pretendo sob o título de filosofia, como fim e campo das minhas elaborações, sei-o, naturalmente. E contudo, não o sei...Qual o pensador para quem, na sua vida de filósofo, a filosofia deixou de ser um enigma?... Só os pensadores secundários que na verdade, não se podem chamar filósofos, estão contentes com as suas definições.”
. Karl Marx (Século XIX) : “Os filósofos até agora só fizeram interpretar o mundo de diversas maneiras: trata-se agora de transformá-lo.”
. Gilles Deleuze e Félix Guattari (séc. XX): A Filosofia é a arte de criar, fabricar e inventar conceitos. Para eles a própria interpretação, ou seja, a criação de conceitos já é uma intervenção no mundo. O conceito é um reaprendizado do vivido, uma resignificação do mundo.
. Hannah Arendt (séc XX) – Para Arendt, filosofar é assumir uma lucidez desesperada, colocar em dúvida qualquer verdade, afrontar–se com o novo.” Segundo Arendt, a “dominação totalitária rompeu o fio da continuidade histórica e, estilhaçando a própria idéia de humanidade, nos obriga a imaginar novas categorias políticas.[...] A partir de então, a filosofia não pode mais ser uma visão de mundo. Ela não detém mais o poder de revelação. As idéias se tornaram, no melhor dos casos, simples valores, sendo submetidas a uma reavaliação constante. Até mesmo o conceito de verdade se torna duvidoso. Mas a filosofia nem por isso está morta numa sociedade onde o céu das idéias, outrora claro e límpido, escurece a cada dia.” ( Laure Adler, Nos Passos de Hannah Arendt, p. 372 e p.381)
. Karl Jaspers (séc XX) – “...filosofar é dar esperança e tentar reunir os fragmentos de um mundo pós-catástrofe.” (Laure Adler, Nos Passos de Hannah Arendt, p.372)
.De uma maneira geral, a Filosofia está relacionada com reflexão em torno dos elementos da realidade, com busca e questionamento e sua função é beneficiar a vida do homem.
. Características da reflexão filosófica: ser radical, rigorosa e de conjunto.
A reflexão filosófica difere de outras formas de pensar. Reflexão deriva do termo latim reflectere que significa fazer retroceder, voltar atrás. Refletir é retomar o próprio pensamento, pensar o já pensado, voltar para si mesmo e colocar em questão o que já se conhece. Por isso a Filosofia não é um pensar qualquer, é uma reflexão . Quando vemos nossa imagem refletida no espelho, há um “ desdobramento” da nossa figura, pois estamos aqui e estamos lá; no reflexo da luz, ela vai até o espelho e retorna. Mas ela também não é qualquer reflexão. A reflexão precisa ser radical, rigorosa, e de conjunto. O professor Dermeval Saviani explica: Radical: é quando exige-se que o problema seja colocado em termos radicais, entendida esta palavra no seu sentido mais próprio e imediato. Quer dizer, é preciso que se vá as raízes da questão , até seus fundamentos. Em outras palavras, exige-se que se opere uma reflexão em profundidade. Rigorosa: Em segundo lugar e como que para garantir a primeira exigência, deve-se proceder com rigor, ou seja, criticamente, segundo métodos determinados, colocando-se em questão as conclusões da sabedoria popular e as generalizações que a ciência pode ensejar. De conjunto: Em terceiro lugar, o problema não pode ser examinado de modo parcial, mas numa perspectiva de conjunto, relacionando-se o aspecto em questão com os demais aspectos do contexto em que está inserido. É neste ponto que a filosofia se distingue da ciência de um modo mais marcante. A maneira pela qual se faz rigorosamente essa reflexão varia conforme a orientação do filósofo. (Dermeval Saviani)
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