HOSPITAL MATARAZZO

A intervenção sensorial realizada pela artista plástica brasileira Cinthia Marcelle é instigante, pois, ao trabalhar com a relação entre a conservação de todo o pó de 25 anos de fechamento do Hospital Matarazzo e a limpeza das margens das paredes, ela une, de maneira simultânea, o passado (anda-se no passado da enfermaria do Hospital) e o futuro. O fato de a intervenção poder ser visitada por apenas uma pessoa por vez já é impactante: o mistério, o ambiente sombrio e a reflexão despertam a curiosidade. Mas não é uma curiosidade qualquer, ela é uma mistura de sensações que abrange o medo, por simplesmente desconhecer o que encontrar, e a reflexão, por estar inserido num meio chocante de metanoia (cuidado com o enfermo) e hades (proximidade com a morte). Ao tomar a vida como parâmetro, é possível questionar a expressiva forma em que o medo é limitador das oportunidades do homem.

Realmente, os passos (etapas) de nossas vidas tentam ser rigidamente calculados para que não haja instabilidade. A instabilidade é vista como um momento de crise, e não como uma possibilidade de aprendizado, de avanço intelectual. O que deixamos de fazer por decidir pela atitude oposta tem consequência?! Filtramos aquilo que, muitas vezes, é mais fácil de ser alcançado pela angústia de não saber o que vem em seguida, em uma atitude complexa. A entrada significativa de luz na travessia do corredor faz referência à vida, simbolizando a pureza e a simplicidade. Os quartos são análogos às etapas de nossas vidas, episódios memoráveis, em que foi preciso capacidade de decisão. A volta, pela redução da luz, retoma a morte, o apagamento dos enfretamentos, das conquistas, o que gera um incômodo profundo. O ciclo da vida: uma combinação de beleza e repúdio. A tecnologia que está presente na exposição também permite a ideia de que, se retornássemos ao tempo, ela seria primordial para impedir a morte de um indivíduo, uma fragilidade que seria minimizada pelos aparatos modernos. Tal pensamento não anula a veracidade em que esteve o indivíduo que atravessou o corredor. A realidade do antigo assusta por desprover de recursos, no caso, recursos de ajuda. Mas é impressionante o quanto é valiosa para aqueles que não puderam presenciar essa época.

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