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Hospital Colônia de Barbacena: a gênese da estigmatização dos distúrbios psíquicos à análise nacional.

Por:   •  19/11/2023  •  Dissertação  •  1.378 Palavras (6 Páginas)  •  74 Visualizações

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Ante a historiografia, concebeu-se na jurisdição territorial brasileira como o evento de maior notoriedade à marginalização das parcelas populacionais suscetíveis ao desamparo, a tragédia humanitária sucedida no Hospital Colônia de Barbacena, o qual fora, durante o período de 1903, alocado na cidade interiorana do estado de Minas Gerais e alvo da destinação dos subalternos à regulamentação política exterminista. Analogamente, a produção literária “O alienista” do renomado novelista Machado de Assis, exemplifica de modo ilusório a sujeição dos itajaienses aos tratamentos clínicos experimentais do cientista, ainda que estivessem em perfeito gozo de suas faculdades mentais. Sob o mesmo ponto de vista, todavia em um contexto realístico, os habitantes do município montanhês e de cercanias sofreram também com as reiterações de loucura e o seu endereçamento errôneo as dependências do Hospital Colônia, posto que, cerca de 70% dos encaminhados constituíam-se como pessoas sãs. Em suma, ao passo que a configuração basilar nacional dá-se em consonância as matrizes eugênicas (fomentadas pelas concepções europeias) e em conformidade a sistematização exploratória colonial, bem como a gestão coronelística, é possível elucidar a correlatividade da instituição desse recinto terapêutico no Brasil aos agentes motivadores de tal realidade.

Em fundamentação, no capítulo primário do livro-reportagem “Holocausto Brasileiro” cuja autoria é referente a profissional de atividade jornalística Daniela Arbex, deparamo- nos com a consumação dos princípios supremacistas nacionalizados, a exemplo do ideário nazista, equiparado no manuscrito às instalações psiquiátricas de Barbacena pelo agente da saúde Franco Basaglia. Haja vista a aplicação teórico-prática das conceituações supracitadas, essas fazem-se observáveis nos parâmetros adotados a condução dos habitantes com especificidades ao recinto terapêutico, tornando-se inequívoca a constatação do influxo eurocêntrico para com a continência daqueles detentores de fenótipos étnicos malquistos e limitações físico-mentais, em virtude da busca pela padronização dos seres constituintes da sociedade brasileira, à época, idealizados como os pertencentes ao gênero masculino, de coloração clara e desprovidos de imperfeições gênicas. No Brasil, é em simultâneo aplicável o conceito da necropolítica a situação, dado que todos aqueles que demonstrassem impossibilidade servil eram dignos do cárcere privado nas instituições psiquiátricas.

Ademais, não só a teoria eugenista deslinda o envio dos excluídos ao hospício, mas também a tese verificada no documentário “Em nome da razão”, de acesso público na plataforma Youtube, em que se há o seguinte manifesto antimanicomial “através do hospício, a sociedade exclui os que não se adaptam a um sistema baseado na competição.” (2:17’), justificativa ideológica para a supressão dos conjuntos populacionais formados por pessoas deficientes, princípio nomeado capacitismo. Tal preconceito, advém da estruturação econômica capitalista, uma vez que a suposta incapacidade produtiva respaldaria a segregação, como resultado de um sistema em que apenas os mecanismos rentáveis (mão de obra ativa) possuem significância. Além disso, mediante a exposição anteriormente efetuada, explica-se a mercancia das ossadas cadavéricas dos “anormais” para as universidades regionais, pois o óbito assumia o papel de artifício lucrativo aos dirigentes do manicômio. Em conjunto ao eugenismo, vê-se a questão do sexismo, atribuído as mulheres que almejavam a equivalência judiciária aos compositores do sexo oposto e por essa razão eram silenciadas; existe ainda, a opressão dos revoltosos políticos, que por divergirem suas convicções do padrão desejável a elite fundiária, eram encaminhados ao hospital colônia em forma de censura, também por efeito da demarcação temporal, isto é, devido a tomada da governança pelas forças militares (exercício ditatorial).

Outrossim, a tornar ainda mais fatídico, a expositora da barbárie explicita a inauguração inautêntica do manicômio, que se dera por motivações políticas, em concordância a estratégia de atrair operários para as proximidades do polo mineiro, através da fundação de novas ocupações remuneradas. Então, Daniela aponta a prática do voto de cabresto na localidade e o decorrente coronelismo, dado que em troca da eleição de um latifundiário, maior figura de concentração de poder distrital, lhes era fornecido novos ofícios, justamente os desempenhados no hospital. A práxis corrupta mencionada, é inteligível no empreendimento cinematográfico de nomeação “Bicho de sete cabeças”, o qual narra a trajetória manicomial do jovem Neto, condicionado aos recursos de terapia psiquiátrica inumanos, quando seu progenitor encontra-lhe portanto drogas ilícitas. No longa, o sistema manicomial mostra-se corrompível, já que o único médico a disposição, prioriza a chegada de internos a fim de auferir verbas elevadas, mesmo que os acolhidos sejam saudáveis (36:10’). Consequentemente, essa obra também conferiu maior visibilidade ao âmbito dos tratamentos psíquicos, caracterizando-se como um impulsionador da aplicação da Lei 10.216 de 2001, a qual atesta a obrigação estatal em fornecer pluralmente assistência a transtornos psicológicos.

Em acréscimo, a tratar de uma problemática igualmente engendrada, têm-se o colonialismo brasileiro à modelagem explorativa. Valendo-se da banalização da violência étnica praticada contra os advindos do tráfico ultramarino, que advém da padronização lusitana sob o panorama nacional, há a desumanização da comunidade negra, também marginalizada no pós-período regencial português, fato visível com a manutenção das incumbências superexplorativas e o distanciamento aos direitos constitucionais, propiciando, ainda no século XX, a discriminação racial. Portanto, compreende-se que mediante a necropolítica (omissão do Governo Federal quanto a defesa das massas fragilizadas), o Estado brasileiro viabilizou a ocorrência das mais de 60.000 mortes contabilizadas no hospital colônia, mobilizadas pelo juízo de que as inaptidões corpóreas e mentais,

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