Ideologia Karl Marx e Terry Eagleton
Por: Diegornt • 8/11/2018 • Trabalho acadêmico • 3.772 Palavras (16 Páginas) • 390 Visualizações
Resumo:
Os pressupostos nas teorias de Karl Marx e Terry Eagleton são avaliados, visando destrinchar em ambos o conceito de ideologia. Partindo da discordância de Marx em relação a Hegel e chegando em Eagleton para entender como ele destrincha o que é e como se dá a ideologia na contemporaneidade, revisitando as categorias por ele apresentadas e também firmando sua contribuição ao conceito em toda sua amplitude.
Palavras-chave: Marx, Eagleton, ideologia, proletariado, burguesia, luta de classes, discurso.
Introdução
Veremos um pouco dos aspectos primários da teoria de Karl Marx, com ênfase para sua conceituação de ideologia e citando errôneos entendimentos que sua vasta contribuição sofreu ao longo da história. Partindo de sua discordância em relação a Hegel, uma espécie de “virar seu precursor de cabeça para baixo”, e caminhando para a contribuição contemporânea dada por Terry Eagleton e suas definições pertinentes sobre o que é e qual o contexto da ideologia. A justificativa para tal trabalho é a importância de se definir claramente a conceituação de ideologia, entendendo assim seu mecanismo de atuação e possibilitando uma melhor abordagem futura de qualquer trabalho referente às especificidades estéticas, sociais e filosóficas que podem ser abordadas dentro da teoria crítica, que tem sua fonte na escola de Frankfurt. Teoria essa que podemos dizer que é “filha” dos conceitos marxistas e “mãe” das análises de Terry Eagleton, além de contribuição obrigatória para se exercer o materialismo dialético hoje.
Karl Marx, inversão das premissas hegelianas e conceito de ideologia.
Karl Marx visava identificar/elaborar um conhecimento real da sociedade burguesa como totalidade. Importante ressaltar desde já o termo “totalidade”, não apenas pelas errôneas interpretações que colocam o alemão como pedestalizador do fator econômico em detrimento dos demais fatores que compõem o corpo social, como também para um melhor compreensão do termo ideologia em sua filosofia.
Marx discordava de Hegel no que diz respeito à concepção da teoria onde todos os escritos e concepções dos pensadores acerca da realidade parecem criar a mesma e não o contrário. Entendendo justamente o oposto, identifica essa tendência a uma primazia da teoria. Decorre de tal entendimento a escolha da dialética como método de análise da sociedade. Com ela, a prática torna-se peça chave para a construção do conhecimento, pois esse não apenas parte do real, do concreto, das relações fáticas, como também exige que o sujeito que busca tal compreensão exerça um papel ativo, já que deverá debruçar-se sobre a história com atenção as suas minúcias, partindo criticamente de todo conhecimento. Ou seja, exige não apenas uma busca pelo conhecimento acumulado historicamente como também que se parta dele criticamente, buscando trazê-lo ao exame racional e sempre verificando tais conteúdos a partir de processos históricos reais.
Meu método dialético, por seu fundamento, difere do método hegeliano, sendo a ele inteiramente oposto. Para Hegel, o processo do pensamento é o criador do real, e o real é apenas sua manifestação externa. Para mim, ao contrário, o ideal não é mais do que o material trasposto para a cabeça do ser humano e por ele interpretado (MARX, 1968, p. 16)
Essa citação mostra bem que é no mundo real que está a “verdade”, os fatos concretos. Cabe ao pesquisador transferir tais objetos para a teoria. O objeto de pesquisa na teoria marxiana é a sociedade burguesa que, independente da postura do pesquisador, possui existência objetiva. Não há nenhuma pretensão de neutralidade, pois trata-se de análise de relações entre os homens (que mesmo dotados de subjetividade e sendo agentes da história não eliminam dela seu caráter concreto, sendo nela onde se concretizam enquanto ou como sujeitos). Entretanto, a análise de práticas sociais e históricas visa, sim, uma objetividade do conhecimento teórico. Sendo teoria a reprodução intelectual do movimento real do objeto, é necessário que o sujeito que a elabora ou identifica assuma uma postura crítica e disponha-se a análise crítica detalhada e profunda do máximo de conhecimentos possíveis. Nesse constante movimento teoria-prática está evidente a ideia hegeliana de um mundo inacabado, de um mundo como um conjunto de processos que formam uma totalidade sempre “em formação”.
Marx vê então que o modo como são produzidas as riquezas na sociedade burguesa é o fundamento necessário para analisá-la. Nada mais concreto para compreender a sociedade acumuladora de excedente, do que a produção do que circulará na sociedade. Por produção entendem-se também suas consequências: distribuição, troca, consumo. Nas relações de produção está a mais forte e central contradição do capitalismo: a diferença entre trabalho e capital, proletariado e burguesia.
A contradição mostra-se evidente, a lógica formal trata-a como um defeito, Marx percebe que na “lógica das relações da vida real” ela é uma condição insuprimível. Por mais que algumas contradições desapareçam sempre há aquelas que ficam e também que surgem. Herança hegeliana: os seres e as coisas existem em constante e permanente mudança e interligados uns com os outros, só sendo possível entendê-los se considera-se desde o começo a reciprocidade de suas ligações. Dialética!
É no trabalho que está o fundamento do valor e é o proletário que vive no centro de todo processo, é ele que age na produção, pagando em pouco tempo seu próprio salário com o que produz, não detendo a posse de sua própria energia produtiva, recebendo por ela seu salário que é um falso valor, um valor de troca. O proletário é uma mercadoria, realiza sua atividade criadora em um espaço que gera e é fruto de uma sociedade dividida em classes, alienando-se de suas livres possibilidades criativas, de sua própria relação com suas necessidades, de sua humanidade.
Marx percebe toda uma tendência, não apenas de seus colegas hegelianos como também de toda uma tradição no pensamento alemão (e da filosofia também), de “romantizar” o mundo, idealizando-o, crendo (ou apenas corroborando) que a realidade deriva da abstração, da teoria, e não o contrário.
Há pouco tempo, um homem de bom senso imaginava que as pessoas se afogavam unicamente porque eram possuídas pela ideia de gravidade. Tão logo tirassem da cabeça essa representação, declarando, por exemplo, ser uma representação religiosa, supersticiosa, estariam a salvo de qualquer risco de afogamento. Durante toda sua vida, ele lutou contra a ilusão da gravidade, cujas consequências nocivas as estatísticas lhe mostravam, através de numerosas e repetidas provas. Esse bom homem era o protótipo dos modernos filósofos revolucionários alemães (MARX, 1998, p.4)
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