Resenha O Que é Ideologia Terry Eagleton
Por: Karollyne Sarmento • 28/7/2021 • Resenha • 2.384 Palavras (10 Páginas) • 705 Visualizações
Universidade Federal do Sul da Bahia[pic 1]
Campus Sosígenes Costa
Analise livros: CHAUI, Marilena. Cultura e Democracia: o discurso competente e outras falas. São Paulo: Cortez, 2011, "Crítica e Ideologia", p.15-38.
EAGLETON, Terry. Ideologia: uma introdução. São Paulo: Boitempo, 1997, “O que é ideologia?”, p. 15-40.
O que é ideologia
Terry Eagleton é um filosofo e professor britânico, crítico literário e autor de mais de 40 livros, entre os mais famosos estão “Teoria da literatura: uma introdução”, “O problema dos desconhecidos: um estudo da ética”, “Depois da teoria: um olhar sobre os estudos culturais e o pós-modernismo” e “Ideologia: uma introdução”, este último será analisado neste primeiro momento o seu capítulo um, “O que é ideologia”.
Nele Terry analisa criticamente os diversos conceitos que o termo ideologia possui, mostrando suas incompatibilidades e congruências para então definir ideologia de seis maneiras diferentes. Consiste em um convite para entendermos as limitações dos conceitos de ideologia, citando as definições mais comuns aplicadas ao termo, por uma busca pelo que é valioso em cada um, e o que pode ser descartado. Dessa forma abordarei aspectos que considero relevantes a minha reflexão diante do conceito interiorizado que possuo quanto a ideologia.
Ele reflete que se a ideologia for considerada uma estrutura de ideias preconcebidas que distorce a compreensão, ela estaria presente em toda parte à medida que a preconcepção daria sentido as coisas, porém a ideologia não pode ser considerada qualquer crença sistemática pois está atrelada a questões de poder. Mas qual poder? o poder que uma classe exerce sobre a outra e de alguma forma precisa ser justificado, legitimado, naturalizado e universalizado. Pois encarar o termo como argumenta o filosofo Martin Seliger como conjuntos de ideias pelas quais os homens explicam e justificam ações sociais e politicas em prol de uma certa ordem social, ampliaria demais o termo que perderia sua força e estaria minimizando a sua forte ligação com o poder.
Associamos assim o termo a algo ruim, que camufla a realidade em favor de uns, para legitimar posições de privilégios na sociedade. Porém o autor nos propõe refletir que sempre apontaremos o discurso ideológico ao outro, a final ninguém se reconhece em um discurso pejorativo, dessa forma o pensamento seria que eu “vejo as coisas como elas realmente são; você as vê de maneira tendenciosa, através de um filtro imposto por algum sistema doutrinário externo”. Sendo um sistema de crenças atrelado a um poder político dominante é normal não reconhecer seu próprio discurso como ideológico pois isso o colocaria em contestação, além de assumir que não possui pensamento próprio social, mas creio que estamos a desnudar nossos olhos e a perceber as ideologias que moldam nossa vida, nossa maneira de pensar e agir, e antes que apontar discursos ideológicos reproduzidos pelos outros, precisamos fazer essa análise pessoal e imparcial primeiro. (p.16)
A ideologia pode ser considerada uma “função da relação de uma elocução com seu contexto social”, ou seja, a ideologia tem haver com seu contexto discursivo não somente com o discurso em si, mas quem está falando o que, com quem e com que finalidade. Seria observar a natureza interessada do discurso, centrais a uma ordem social, atrelados ao poder, o discurso das instituições do poder político que é legitimador da ideologia. (p.22)
Porém considerar que um grupo social está sob uma “falsa consciência”, é dizer segundo o autor que homens e mulheres viveriam em função de ideias absolutamente vazias, uma forma de depreciação dessas pessoas, as considerando ingênuas e incapazes de pensar sua vida. Assim é preciso entender que a ideologia de alguma maneira dá sentido a experiência e realidade social da pessoa, nesse ponto Terry utiliza das ideias de Jon Elster para endossar que as ideologias dominantes podem moldar as necessidades e os desejos dos submetidos a ela, tonando-se ideologias plausíveis e atraentes. (p.26)
Então podemos concluir junto as reflexões do autor que a ideologia ultrapassa a ideia de “ilusões impostas”, podendo se passar por uma versão em parte verdadeira da realidade social, tornando-se dotada de sentido para seus sujeitos, por exemplo verdadeira no que declaram e falsas no que negam. (p.27)
A final a ideologia tem que se passar como verdade e se utiliza dela para formular seus discursos, mas é claro deixando lacunas para camuflar suposições subjacentes, de caráter subjetivos e universais ao mesmo tempo. Poderia assim refletir segundo Terry que a ideologia é construída menos por uma representação da realidade e mais por relações sociais, e por produzir efeitos na sociedade não pode ser considerada como uma ilusão apenas. Ela gera uma falsa consciência ligada a essa funcionalidade de se passar como verdade, em prol da manutenção de um poder opressivo ignorada por aqueles que a defendem. Dessa forma as crenças que norteiam o discurso opressor são dotadas de coerência, ou seja, falso mais racional, o que garante sua aceitação.
Já no final do capítulo o autor propõe seis definições de ideologia diferentes entre si. Primeiramente de uma maneira mais ampla refletindo um processo de produção de valores e ações sociais, assemelhando a cultura englobando também a política, economia etc. O segundo um pouco mais restrito compreendem crenças e ideias sejam elas falsas ou não de um grupo ou classe social significativos dentro da sociedade. O terceiro conceito se aproxima mais da ideia que possuímos quanto a legitimação de interesses de determinados grupos sociais em face de interesses opostos; aqui o autor pontua que ideologia tem caráter persuasivo e retorico, preocupado com a sua eficácia política. O quarto conceito está atrelado a ideia de unificação de uma formação social de maneira conveniente aos seus governantes, ou seja, ideais que garantam a cumplicidade das classes e grupos subordinados pela sua falsa ideia de neutralidade. Abrindo espaço para a quinta definição na qual a ideologia atuaria para a manutenção do modelo ideológico baseado na distorção e na simulação de determinado fato social. (p.38)
A sexta e última definição para ideologia a atrela a crenças falsas e ilusórias, porém agora oriundas da estrutura material do conjunto da sociedade como um todo, não de uma classe dominante, e agora o autor menciona como exemplo a teoria de Marx sobre o fetichismo das mercadorias, ou seja, relações sociais mediadas por coisas, relações econômicas no qual o capital ganha força e a mercadoria passa ser uma coisa que existe em si e por si.
Crítica e Ideologia
Nessa segunda parte será abordado o livro “Cultura e Democracia: um discurso do dominante” escrito pela Marilena Chauí, uma filosofa e professora brasileira, que já publicou cerca de 30 livros. Analisarei o seu segundo capítulo “Uma crítica a ideologia” no qual a autora aborda o conceito de ideologia, e uma critica ao seu discurso pelo contradiscurso.
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