O FREUD, ALEM DA ALMA AS PRIMÍCIAS DA PSICANÁLISE
Por: ZeRego • 19/10/2022 • Resenha • 1.881 Palavras (8 Páginas) • 94 Visualizações
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“FREUD, ALEM DA ALMA”, AS PRIMÍCIAS DA PSICANÁLISE.
Primeiras alusões aos conceitos psicanalíticos.
José Antônio Gomes Rego
Código do aluno: 2900
Psicanálise clínica, EAD 1
Módulo 1 – Introdução à psicanálise 1
Bahia, Maio de 2022
Em 1962, Jonh Huston, conceituado mestre do cinema mundial, oferece aos amantes da sétima arte e da psicanálise uma história de coragem, resistência e persistência onde se resumem os primeiros cinco anos da carreira do neurologista e psiquiatra Austríaco, Sigmund Freud, o criador da psicanálise. Além da alma, que se desenrola em Paris e em Viena, entre os anos 1885 e 1890, é romanceado e instigante, suas cenas são ricas em dramaticidade e na sua maioria recheadas de significados; um prato cheio de conceitos e imagens que nos ajudam a percepcionar com mais clareza a origem dos primeiros passos na teoria psicanalítica.
Huston nos retrata etapas importantes da vida do neurologista, a ida de Freud para a França, o seu casamento e a elaboração das primeiras teorias a respeito da estrutura da mente humana, do inconsciente, da sexualidade e das técnicas experimentais testadas em terapia.
O filme mostra as resistências e estigmas contra a Psicanálise, as quais, na leitura de Freud, devem-se à terceira ferida narcísica da humanidade e a Psicanálise faz o ser humano repensar sobre si mesmo e remove do indivíduo o caráter do domínio total da mente, do “dominus te” e meramente racional.
O filme Freud, Além da alma é efetivamente, uma obra à frente do seu tempo, com um dúplice propósito, por um lado uma biografia, por outro uma análise de estudos.
Este trabalho, objetiva, primordialmente, trazer ao legente uma apreciação didática dos principais fundamentos Freudianos, encontrados na cinebiografia do pai da psicanálise.
A história começa em Vienna e se desenrola a partir do tratamento de uma paciente com histeria, visto que a maioria dos colegas de Freud se recusa a tratar a histeria (supondo ser simulação), este faz avanços que permitem desmistificar e investigar as causas dos incômodos físicos da histeria a partir de questionamentos psicológicos e simbólicos (representações), e não físicos. Essa introdução dá o tom do filme todo: a busca de Freud por respostas a questões não resolvidas pela medicina tradicional.
A medicina ortodoxa da época ignorava por completo o que ocorria na escuridão da mente humana. Em conjunto com Breuer, Freud fez descobertas interessantes para desmistificar isso e trazer mais clareza sobre o problema: os sintomas da histeria fazem sentido, de modo que não se deve apontar fingimento por parte dos pacientes; um trauma teria causado a doença, se ligando a impulsos que acabaram reprimidos; quanto à lembrança do trauma, e assim através da libertação de sentimentos e/ou emoções se entraria no caminho para chegar a uma possível cura. Apesar da trama ter muitas representações metafóricas dos conceitos estudados pelo próprio Freud, ela é acima de tudo um relato o mais fidedigno possível, dos fatos ocorridos naqueles importantíssimos cinco anos, por isso o autor da obra realça, de forma bem clara, o interesse de Freud pelo trabalho que Charcot, médico francês que alcançou fama no terreno da psiquiatria e neurologia, vinha desenvolvendo na cura da histeria através da hipnose, o que rapidamente despertou o interesse de Sigmund, ao ponto de puder assistir ao trabalho, ainda em fase de testes, em duas pessoas sofrendo de histeria. Nestas passagens com Chacrot, absorvemos o quão foi e é importante a hipnose no tratamento de transtornos e traumas do aparelho psíquico, porém Freud constata que o método não é de todo eficaz e compreende existirem alguns entraves à sua aplicação constante: havia uma parcela de pacientes que não podiam ser hipnotizados com a mesma facilidade; enquanto cuidava de alguns sintomas, fazia com que outros problemas relacionados surgissem e as ordens que eram dadas apenas enquanto estavam sob hipnose, fazia com que não se lembrassem do que externaram e revivessem a histeria depois de um tempo.
O negacionismo, tão em voga nos dias de hoje, também tem momentos de realce no filme, e através do contato de Freud com Meynert, diretor e professor do hospital onde Freud trabalha, vemos num primeiro momento o professor banindo totalmente os métodos utilizados por Freud, para Meynert, seus escorpiões presos na escuridão da caixa simbolizam “os maus espíritos” que deveriam ser deixados na escuridão para que não tomem conta do mundo. Para ele, lançar luz sobre as questões que Freud buscava elucidar seria um erro, devendo “deixar para a noite o que a ela pertence”. Uma representação lúdica do que seria o inconsciente, o lugar onde adormecem os desejos ocultos, os traumas e as experiências passadas, e que eventualmente emergem da escuridão para assombrar os indivíduos à plena luz do dia através dos sintomas das neuroses. Em Freud mora a atitude investigativa e analista da busca pelo que está além da ciência dogmática. Em Meynert a atitude preguiçosa e comodista de não querer sair da “zona de conforto” dando respostas fáceis porem descompromissadas ao problema da histeria. Interessante podermos constatar posteriormente pelas cenas entre os dois que o próprio Meynert possuía sintomas de histeria, o que nos leva a entender que ele estava vivenciando um mecanismo de defesa: a negação. É, então a partir das primeiras experiências clínicas com seus pacientes, que Freud começa suas suspeitas de que haveria “um mecanismo psíquico que defende a mente de lembranças intoleráveis” – o mecanismo de defesa do ego.
O complexo de Édipo é também de evidente representação. O Sr. Von Schlosser, personagem acusado de loucura, por ter agredido seu pai em um surto, é levado até Freud que, através da hipnose, desvenda o ciúme do paciente por sua mãe num evidente indício de complexo de édipo mal resolvido. Depois é o próprio Freud que, como num processo de contratransferência, se vê em sonhos envolvido com a situação do paciente, nesse sonho aparece uma porta do recinto da casa onde estava Schlosser, que Freud teima em fechar, numa representação das nossas dificuldades em lidar com os impulsos ocultos no inconsciente, tão aversivos para a consciência – as nossas barreiras de censura.
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