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O Homem E O Trabalho

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Por:   •  6/12/2014  •  2.195 Palavras (9 Páginas)  •  288 Visualizações

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O HOMEM E O TRABALHO

Mário Freire

A repercussão do trabalho no processo de desenvolvimento do ser humano determinou a criação da sua cultura e sua busca do sucesso e felicidade. Desde os seus primeiros atos ( segundo Freud em “O Mal Estar na Civilização”, a utilização de instrumentos, a obtenção do controle sobre o fogo e a construção de habitações), o homem encontrou nesse conjunto (atividades) maneiras para melhor utilizar a terra e se proteger.

Nossa intenção é verificar o caminho que o Ser humano trilhou nessa busca, assim como, registrar observações sobre o que estamos vivenciando hoje no mundo das organizações, visando alertar e ampliar nossa visão sobre a influência do trabalho na qualidade de vida e no processo de evolução da nossa civilização.

O trabalho na nossa sociedade atual é considerado como fonte de poder, sucesso, riqueza e felicidade; sendo, portanto, o responsável pela existência, sobrevivência e evolução dos indivíduos e da sociedade. Determinando as relações políticas, sociais e econômicas, preenchendo o campo moral e religioso, tornando a condição humana atrelada a si de maneira indissociável.

Tal concepção sobre o trabalho, é recente, se contarmos o tempo que temos de registro da presença do Ser humano na terra; esse posicionamento atinge seu apogeu no séc. XIX, com o homem assumindo uma dimensão de senhor da natureza, apoiado por princípios materialistas positivos. Porém, o seu início está ligado a derrocada do Império Romano, por volta do séc. III, quando a sociedade vê o culto do corpo e do prazer, conduzir a um estado de pecados, dor, doenças, miséria, fome, crimes e morte. Tal cenário de epidemias e decadência favoreceu a ascensão do cristianismo que conduzia a valores espirituais, que positivava o sofrimento, a fome e a doença como elementos de salvação. No séc. IV, com os primeiros cristãos instalados nos desertos, onde era possível viver longe das tentações da vida mundana das cidades, o cristianismo passa a ser considerado a religião oficial do Império Romano.

Com desertos cheios de praticantes do ascetismo ( moral fundada no desprezo do corpo e das sensações físicas - contemplativo, devoto, místico; que tem relação com a vida espiritual) Pacônio, mais tarde São Pacônio, ergue o mosteiro, instituindo a vida monástica e impondo a disciplina como base do aprendizado, da obediência e da humildade. Contudo, por mais severos que fossem os exercícios, não eram o bastante para eliminar a lembrança dos prazeres da carne. Para tanto foi instituído o trabalho ( dispêndio de energia ), para se conseguir a exaustão e portanto eliminar qualquer

desejo e força do corpo, possibilitando o domínio completo do espírito sobre a carne.

Com isso, surge o trabalho como um grande número de atividades, a serem desenvolvidas em espaço próprio e num período de tempo, instituindo-se e agrupando profissões ( monges sapateiros, tecelões, marceneiros, serralheiros, etc.). Dessa forma, a disciplina, a obediência, a humildade, as atividades agrupadas, o local determinado, a profissão qualificada e principalmente a nova dimensão de tempo, instrumento para dar as horas intervalos determinados, faz do trabalho uma quantidade de medida num certo número de horas, disciplinando as ações do homem.

Com o sucesso, dessa forma de disciplina, o soar dos sinos vai trazendo uma regularidade à vida das cidades, estabelecidas nas vizinhanças dos mosteiros, e, os monges passam a acreditar que a sua missão é retornar e oferecer aos pecadores urbanos um caminho para a salvação.

A desintegração do Império Romano cria o cenário adequado, pois o período de terror e violência, devido às invasões bárbaras, após o séc. VI, faz a vida nas cidades descer a um nível de subsistência, onde a necessidade de proteção passa a ocupar um lugar de destaque diante das outras preocupações.

Com a construção de muralhas, as cidades se tornavam fortalezas, atraindo gente de diferentes origens, para essas ilhas de segurança. Formava-se uma comunidade cujo sentimento de pertencimento comum era o de viver uma vida cristã, cujo propósito maior não era o de comercialização e sim o de cultuar e glorificar a Deus, mas ao mesmo tempo, o trabalho passa a ter um enfoque de produção, visando promover a reconstrução das cidades.

A vida nas comunidades medievais passa a ser dirigida pela igreja, que valoriza o trabalho e o preconiza como salvação. Assim homens livres passam a trabalhar e a se agruparem por profissão, transpondo as práticas da vida monástica para o dia-a-dia urbano. Passam também, a produzir através de técnicas, destinadas a eliminar o trabalho desnecessário, visando ampliar o tempo de estudo, meditação e oração, com a utilização de mecânica; outrossim, passam a criar instituições e edifícios, cuja finalidade é de acolher doentes e enjeitados.

Com tudo isso, não é difícil imaginar que o poder da igreja estava em expansão. Porém, ao considerar o trabalho, a mecanização e a disciplina como fins para a glorificação de Deus, conduziu a vida medieval para um período de grande prosperidade, o que determinou, também, a sua queda, pois com o acúmulo de riquezas surge uma nova classe social - os burgueses - que pouco a pouco sobrepujaram as exigências de eternidade cristã, substituindo a fé pelo crédito, os sistemas de proteção pela livre circulação de dinheiro.

A máquina capitalista precisava de um poder menos fixo e estático, por outro lado, a fé e os dogmas eram obstáculos para a expansão do comércio e da indústria , assim como, para a realização dos ideais da classe burguesa. Longe de ter sido brusco, esse processo, foi gradativo e teve seu marco na revolução Francesa, porém só no séc. .XIX é que o trabalho deixa de ser uma finalidade extra-humana, não possuindo mais qualquer propósito de culto, nem tampouco de salvação, deixa de ser meio para alguma coisa e torna-se ligado irremediavelmente ao homem, como se fizesse parte da própria natureza humana.

Assim, “o homem torna-se agora senhor da natureza, fundamento da moral, base de uma nova sociedade autorizada pela razão e construída sobre princípios materialistas positivos. Trata-se de um imenso giro de caleidoscópio, trazendo consigo uma configuração totalmente diversa das ações humanas: o que anteriormente servia para a glorificação de Deus, encontra agora no próprio homem o seu propósito” ( Josaida Gondar - O Trabalho como Objeto Histórico); agora sem Deus, o homem segue seu caminho atrelado ao trabalho, numa

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