O Pensamento e o pensante, René
Por: Anderson Guidotti • 9/6/2017 • Seminário • 1.501 Palavras (7 Páginas) • 234 Visualizações
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS
DEPARTAMENTO DE FILOSOFIA E METODOLOGIA DA CIÊNCIA
HISTÓRIA DA FILOSOFIA MODERNA 1
PROFESSOR JOSÉ EDUARDO MARQUE BAIONI
O pensamento e o pensante.
Anderson Guidotti de Souza (633658)
SÃO CARLOS
2017
“Não estou seguro se deva falar-vos... Contudo, para que seja possível julgar se os fundamentos que escolhi são suficientemente firmes, vejo-me, de alguma forma, obrigado a falar-vos delas[1]”. Antes mesmo de, supor que a quarta parte venha como um firmamento do método, deve-se notar seu maior papel como juíza do que advogada.
Descartes, em sua busca da verdade pelo inteligível, compreende uma necessidade de desapegar-se a tudo aquilo “ que sabemos serem muito duvidosas, como se não admitissem dúvidas[2]”. Aos poucos, todos os processos do exterior e interior iam sendo postos em cheque. Os sentidos – de uma miragem desértica até o paladar alterado pelo resfriado – não garantiam a dúvida hiperbólica uma validade sentencial e, em consequência, todos os outros sentidos não podiam firmar a verdade em si; “quis presumir que não existia nada que fosse tal como eles nos fazem imaginar[3]”. E o bom senso, por mais que tido como a coisa mais bem distribuída[4], pode não ser bem aplicado ao espirito e assim o raciocínio perde-se a caminhos duvidosos – como o descuido atento de um matemático ao apenas observar os três lados de um triangulo, mas desconsiderar a possibilidade de suas pontas em movimento nos presentearem com um instável circulo de área também jamais variável, porém de território inconstante.
“E, enfim, considerando que quaisquer pensamentos que nos ocorrem quando estamos acordados nos podem também ocorrer enquanto dormimos (...)decidi fazer de conta que todas as coisas que até então haviam entrado no meu espirito não eram mais corretas do que as ilusões de meus sonhos.” Discurso do método, p. 62.
Descartes, nessa batalha mental de ignorar todos os sentidos exteriores a verdade, abrindo mão aos poucos de todo o mundo sensível, provoca uma reviravolta a dúvida hiperbólica ao torna-se uma certeza. “percebi que, ao mesmo tempo que eu queria pensar que tudo era falso, fazia-se necessário que eu, que pensava, fosse alguma coisa[5]”. E, como se em uma sala vazia fossem tirados todas as coisas ditas como falsas, até que se olhe para dentro do salão – também dito como falso – e perceber que, se o tira-lo, nada mais se é movido ou não. Ao afastar do ser que pensa toda validade da verdade do pensamento, a dúvida passa a ter uma única evidência: ela própria, que se existe é exclusivamente porque alguém a concebe; “...juguei que podia considera-la, sem escrúpulo algum, o primeiro principio da filosofia que eu procurava[6]”. Não teria nada mais disposto, em uma filosofia cuja dúvida aniquilou todo o outro, do que um principio que seja um eu – pois nada mais o restará em sua desconfiança.
“...pelo fato mesmo de eu pensar em duvidar da verdade das outras coisas, resultava com bastante evidência e certeza que eu existia; ao passo que, se somente tivesse parado de pensar, apesar de que tudo o mais que alguma vez imaginara fosse verdadeiro, já não teria razão alguma de acreditar que eu estivesse existido.” Discurso do método, p. 62.
Deixa-se evidente então que a essência do eu é pensante. O ser duvidante, a alma do filósofo, “é completamente distinta do corpo (...) e que, para ser, não necessita de lugar algum, nem depende de qualquer coisa material[7]”. Tal preposição não é somente um enunciado simplório, sem algum peso a filosofia cartesiana, mas sim condição de natureza do eu. A ausência de um corpo garante a dúvida hiperbólica toda sua questão aos sentidos, onde sua possibilidade de inexistência é tão covalente a possibilidade da inverdade de fora[8], quanto à subordinação da substancia ao pensamento – livre de uma dependência com a matéria – alcançada, por nada mais, nada menos, do que o intelecto. “Depois disso, considerei o que é necessário a uma preposição para ser verdadeira e correta[9]”, tendo em vista a primeira certeza – da qual somos pensando – René, um filosofo matemático em sua cadeia de ideias, procurou sua continuidade através dos atributos que garantiram tal compreensão – a unidade de padrões na sequencia matemática universal.
“E, ao perceber que nada há no eu penso, logo existo, que me dê a certeza de que digo a verdade, salvo que vejo muito claramente que, para pensa, é preciso existir, conclui que poderia tomar por regra gera as coisas que concebemos muito clara e distintamente são todas verdadeiras.” Discurso do método, p. 63.
O limite da dúvida é a verdade e o filosofo só acreditará naquilo que já não é capaz de questionar.
Os pensamentos exteriores – como os astros, fenômenos da luz, a organicidade da natureza – poderiam vir, caso verdadeiros, do próprio ser pensante pois não haveria indícios da natura – fauna e flora – mais perfeitos do que Descartes – se e pensamento – e , caso estive iludido a tudo isto, tais pensamentos seriam fruto do que se teria de imperfeito; “a partir do nada[10]”.
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