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O ser-no-mundo e mundo circundante na filosofia de Heidegger

Por:   •  9/7/2019  •  Trabalho acadêmico  •  3.272 Palavras (14 Páginas)  •  557 Visualizações

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA

INICIAÇÃO CIENTIFICA – Março/2019

Orientadora: Drª. Caroline Vasconcelos Ribeiro

Orientanda: Maricélia Mendes da Silva Ito

O ser-no-mundo e mundo circundante na filosofia de Heidegger

          Para o filosofo alemão Martin Heidegger (1889-1976), o homem em sua indeterminação original sempre conquista sua determinação no interior do mundo histórico, desde sempre já aberto, e na compreensão do seu ser.  O ser humano é denominado por Heidegger de Dasein (ser-aí) [1], que o entende como o ente que compreende seu ser e o horizonte de sentidos que a ele se abre. Portanto, para este autor, o ser do Dasein tem uma constituição ontológica própria e não possui nenhuma determinação originária, sendo assim, toda e qualquer determinação que ele alcança a respeito de si se constrói em um campo de possibilidades historicamente constituídas. Sobre a escolha do termo Dasein (literalmente, ser-aí), convém destacar:

Para reunir, ao mesmo tempo, numa palavra, tanto a relação do ser com a essência do homem, como também a referência fundamental do homem à abertura (“aí”) do ser enquanto tal foi escolhido para o âmbito essencial, em que se situa o homem enquanto homem, o nome “ser-aí [Dasein]”. (HEIDEGGER, 1973, p. 58).

          Dasein, expressão que permeia toda a obra Ser e Tempo (2004), é um termo que nomeia a constituição ontológica do ente que nós mesmos somos, deste ente que questiona o ser em seus diversos modos de poder-ser. Na visão heideggeriana ser-aí é o ente aberto que só é, sendo, e que se diferencia de outros entes por ser o ente que compreende o seu ser.  A compreensão é entendida aqui como a abertura de um campo de possibilidades, no interior do qual, algumas se mostram como passíveis de atualização. A compreensão de ser, constitutiva do Dasein, orienta seu modo de ser no mundo; tal orientação não é intelectiva ou racional, mas ancora-se na doação de sentido ao que se encontra no campo de possibilidades que compõe o seu cotidiano.

          Sob a perspectiva heideggeriana, Dasein é cada homem singular, que se diferencia dos outros entes por ser o único ente que compreende e que pode se questionar pelo ser.  Para capturar de que modo o sentido do ser aparece é preciso encaminhar a analítica para compreensão prévia que guia os modos de ser deste ente que nós mesmos somos. Por ser aberto, ter que doar sentido e ter sempre que escolher esta ou aquela possibilidade logo, Heidegger afirma que só o Dasein existe. As coisas apenas são, enquanto só o homem existe.  

O ente que é ao modo da existência é o homem. Somente o homem existe. O rochedo é, mas não existe. A árvore é, mas não existe. Deus é, mas não existe. A frase: somente o homem ‘existe’ significa: o homem é aquele ente cujo ser é assinalado pela insistência ex-sistente no desvelamento do ser a partir do ser e no ser. (...) A palavra designa um modo de ser e, sem dúvida, do ser do ente que está aberto para a abertura do ser, na qual se situa, enquanto a sustenta. (Heidegger, 1973, p. 59.)

          Heidegger utiliza a palavra existência[2] no sentido de ser para fora, ser direcionada às diversas possibilidades abertas para Dasein, sua compreensão e a opção de escolher. (INWOOD, 2002). Portanto, para Heidegger (2004), o conceito de existência é o fio condutor de sua fenomenologia[3] da existência. O homem é um ente aberto e lançado para as possibilidades, esse campo de possibilidades é o mundo. Conceito que trataremos logo abaixo. Antes, vale ressaltar que, esse ex-aluno de Edmund Husserl (1859-1938), constrói o seu pensamento baseado em uma forma diferente de conduzir a fenomenologia. Como afirma Inwood (2002, p.67), Heidegger “questiona os conceitos básicos da fenomenologia husserliana: eu, ego, consciência, objeto”. A analítica dos modos de ser do Dasein é um passo necessário de sua fenomenologia e lança luz sobre elementos como a abertura de compreensão, a lida cotidiana e nossos modos de sermos no mundo e não na consciência e nas relações de objeto. O que nos faculta dizer, ancorados em Inwood, que fenomenologia heideggeriana, rompe com o paradigma da tradição e muda a perspectiva de analise do ser humano e da experiência humana a partir da práxis e não da relação sujeito/objeto.

          Em sua análise da filosofia heideggeriana, Casanova (2013), refere-se ao termo Dasein, traduzido por ele de forma literal (ser-aí), como o que nomeia os modos de ser que são possíveis ao ente que nós mesmos somos. Não há, portanto, como determinar os modos de ser deste ente.  

O ser-aí [Dasein] é, em outras palavras, um termo que surge da impossibilidade de se fixar o homem em uma figura especifica, de interpelar discursivamente essa figura com vistas às suas determinações essenciais e sintetizar essas determinações em uma definição que contenha em si o que esse ente propriamente é alijando por principio todas as suas determinações acidentais.” (CASANOVA, 2013. p. 90).

           A questão fundamental, para Heidegger (2004), consiste em pensar mundo na perspectiva de uma ontologia fundamental. Nesse sentido, destaca modos diferentes de relação dos entes com o mundo. O autor nomeia os entes que estão dentro do mundo para uso ou apreensão objetiva, de entes intramundanos. Mas nós, humanos, não estamos no mundo nessa modalidade, mundo é um campo de manifestação de sentidos e significados historicamente sedimentados e já abertos. Então o Dasein é “junto-a” um-mundo, ou seja, um “ser-em” um mundo, não um dentro como se nós, e também o mundo, fossemos entes simplesmente dados, ocorrendo uma justaposição de entes simplesmente dados. O ser “junto à”, só é possível ao ente com o caráter de Dasein; isto porque somente Dasein possui mundo.

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