Reflexão sobre o livro: Eu e Tu de Martin Buber
Por: João Mendes • 15/1/2018 • Trabalho acadêmico • 1.709 Palavras (7 Páginas) • 2.019 Visualizações
[pic 1] | UNIVERSIDADE CATÓLICA PORTUGUESA FACULDADE DE TEOLOGIA Mestrado Integrado em Teologia (1.º grau canónico) |
JOÃO DIOGO MARTINS MENDES
Reflexão sobre o livro “Eu e Tu” de Martin Buber
Trabalho realizado no âmbito da Unidade Curricular de Antropologia Filosófica
sob orientação de:
Prof. Doutor José Miguel Dias Costa
Braga 2017 |
Martin Buber era filósofo, escritor e pedagogo, judeu de origem austríaca. A compreensão do momento sócio histórico revela a análise da questão antropológica “ O Que é o homem?” e aqui destaca-se Martin Buber, que propõe um tratamento dos problemas reais da existência humana acabando por ligar o problema antropológico ao compromisso ético e é deste elo que surgem duas orientações do estar- aí- do- homem- no-mundo: a orientação dialógica relação Eu-Tu (afirma o diálogo, abertura, encontro, amor); e a orientação monológica relação Eu-Isso (coisa, experiência, conhecimento, utilização). Estas duas orientações representam a diferença entre a alteridade (Eu-Tu) e a utilidade (Eu Isso). Analisa-se a educação para além do aspeto institucional como processo de auto- constituição do individuo social. A educação é a descoberta do Eu na e para a comunidade. Buber ocupa-se com problemas reais da existência humana o Eu e Tu apresenta-nos: O que é o homem? ; Homem em relação à linguagem; homem em relação à história e homem em relação a Deus. Para Buber a linguagem é muito importante pois a palavra é portadora do ser. O homem possui uma dupla atitude em relação ao mundo expressando-a através dos pares de palavras princípio: Eu-Tu ou Eu-Isso. De acordo com este autor, só se compreende o Tu por relação ao Eu. E só compreendemos o Isso por relação ao Eu-Isso: A linguagem assume uma grande importância pois é ela que introduz o homem na sua existência e a determinar o seu modo como existente.
A relação Eu-Isso (não existe diálogo, representa o trabalho, o divertimento, o conhecimento, a cultura, etc.). Não se pode ficar só nesta relação com o Isso pois deixaria de ser homem porque o mundo do Isso é necessário para a nossa existência mas não é eficiente. O homem assume uma dupla atitude do mundo, pois tem o poder de instaurar uma atitude objetiva da verdade ou uma atitude de engajamento, conforme a palavra princípio que pronuncia Eu-Tu, Eu-Isso. O mundo do homem mostra-se concretamente através da ralação Eu-Isso. O mundo é algo de imanente ao homem, serve-me de estrutura e permite-me diante o diálogo a perceção do outro como sujeito. Na palavra princípio Eu-Isso realiza-se o princípio do não-diálogo do ser do homem, a relação objetivante e por vezes alienante. Para Buber o homem não pode viver sem o Isso mas aquele que vive unicamente no Isso não é um homem. Reduzida a categoria do Isso, o mundo não participa da experiência, simplesmente se deixa experimentar, há um processo de separação: o Eu que experimenta e o objeto que é experimentado. Se o mundo visto na categoria do Tu, ele acrescenta e pode ser acrescido, uma vez que o Eu-Tu pode haver diálogo, relação. O homem que souber tomar o mundo como seu Tu, faz o mundo merecer a sua confiança. O mundo do Isso é necessário, porém insuficiente, o Homem traz em si o a priori da relação, signo da sua constituição própria e ontológica: o Tu inato, antes mesmo do sujeito viver o mundo como Isso já o viveu como Tu.
A descoberta do Eu é algo muito importante. É o que faz a criança, o Eu procura delinear a sua identidade. É obviamente importante descobrir uma singularidade própria que não deve, porém ser confirmada com egoísmo. O Eu-Tu é o princípio dialógico, o princípio por onde há diálogo, o sentido verdadeiro da existência está na relação dialógica, na atitude de engajamento entre o Eu e o Tu.
Contraposto ao princípio monológico (Eu-Isso) de representação. A relação originária é o Eu-Tu, a relação Eu-Isso é degenerada. O importante em Buber é ter despertado para a necessidade de abertura ao diálogo. O Eu e o Tu estão em intercâmbio. O homem sente-se contemplador e contemplado, conhecedor e conhecido, amante e amado. Por isso se diz que há um conhecedor e um conhecido no mesmo sujeito, e o ser conhecido é amante e amado e que deixa transparecer a profundidade. As coisas podem tornar-se um Tu do mesmo modo que os homens se podem tornar coisas, quando encarnados na relação Eu- Isso. A presença do outro como elemento da relação supõe uma vivência, onde o outro é apreendido como fenómeno e Tu como sujeito destacado. Na Relação Eu-Tu não percebemos as partes constituintes do Tu, mas do todo. Eu só sou conhecido realmente, se me deixar conhecer e se me der a conhecer ao entrar no diálogo. O homem buberiano somente pode ser admitido em relação, com a sua constituição própria originária “Tu Inato.” Buber afirma no homem uma constituição ontológica do “Ser com”. O homem não precisa buscar o Tu, o encontro é gratuito. O Eu não forma a relação, encontra-se implícito, de forma não consciente. É uma consciência gradual, do que vai em direção ao Tu sem ser o Tu. Toda a vida verdadeira é encontro, que só se faz no diálogo do Eu com o Tu.
Embora Buber reconheça a primazia da relação Eu-Tu como reveladora da existência do humano, isso não significa que a atitude Eu-Isso seja negativa ou inferior. Ela é também uma atitude fundamental, pois devido a ela o homem pode conhecer, interferir na realidade e constituir-se enquanto homem. É também uma atitude autenticamente humana. Em si ela não é um mal. Ela só se transforma num malefício quando se torna absoluta para o homem, quando o homem é tomado por ela e pauta seus valores pela sua doutrina. Ao converter-se aos valores do Isso, o homem perde a sua humanidade, o seu fundamento ontológico de onde brota a vitalidade da sua existência. A esse respeito, diz Buber: "Se o homem não pode viver sem o Isso, não se pode esquecer que aquele que vive só com o Isso não é homem". O homem não pode permanecer no Eu-Isso pois o homem faz parte de um mundo e este faz parte de um outro. É o Tu-inato que permite passar para o Eu-Tu. É um a priori. O que é específico do homem é o deixar transparecer nas suas relações o Tu-Inato. Na relação Eu – Isso existe apenas uma relação experimental. Só se deixa contemplar, amar, não contempla não ama.
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