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Relato Filosofia Korczak - Korczak, de um canário ao cenário. Da cruz à estrela

Por:   •  14/1/2016  •  Artigo  •  539 Palavras (3 Páginas)  •  388 Visualizações

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Um judeu atípico. Talvez seu canário o tenha feito assim. Do holocausto queimado, nada tinha de semelhante. Já não acreditava em sacrifícios, tampouco fazia isso por outros. Era para si, dizia Korczak; ou quem sabe por seu canário.

O filme, as 200 crianças do dr. Korczak, começa assim: um homem esguio e firme, colérico na defesa de suas convicções e principalmente de suas crianças, com seus olhos profundamente azuis, e uma penugem loura quase avermelhada, que o pouco da cabeça pendia para barba, fazendo sua última locução, na mais sublime convicção: não existem sacrifícios! Sacrificar é mentira! Não faço isso pelas crianças. Talvez faço isso por mim.

"Existe uma história. Aos seis anos de idade, ele quis enterrar seu canário com uma cruz, e foi avisado pelo filho do porteiro, um polonês, de que deveria enterrá-lo com uma Estrela de David" (Szpiczkowski, Ana. Os órfãos de Korczak: vivências de uma educação transformadora. São Paulo: Ed. Comenius, 2013, pág. 121).

A sinceridade do coração daquela criança foi arrancada. Sua simplicidade enterrada. Nada fazia mais sentido para aquele menino. Cresceu talvez assim, pensando em poder resgatar... O que era dele não mais, mas quem sabe de outros.

Janusz Korczak foi um pediatra, que dedicou um momento de sua vida a lutar pela dignidade das crianças. Impulsivo, ameaçador, audacioso, Korczak não abrandava quando precisava se impor perante quem fosse, para defender o que para muitos, no contexto atual que se encerrava diante dos judeus, parecia indefensável. Não aceitava uma ordem, simplesmente por que tinha que ser, daí o porquê de chamá-lo audacioso. Cresceu com o estigma da Estrela de David, por conta do episódio ocorrido em sua infância. Não aceitava ser julgado, nem manipulado, usado, ou mandado. A Estrela representava a fraqueza, a ralé, aqueles que caminham para a morte. Uma morte de cruz; a mesma cruz que ele queria hastear no túmulo de seu canário, porém não lhe fora permitido.

Acredito que esse fato foi determinante para a postura audaciosa do doutor de duzentas crianças.

Fiquei chocada quando ouvi no filme, e principalmente, como uma das primeiras frases, Korczak bradar que sacrifícios são mentiras. Como assim? E tudo que ele fez? E os cuspes, escarros, porradas, humilhações? O que seria isso então? E para que seria isso então, senão pelo outro?

Lembrei-me da oração de uma mãe, que diz: "Sim, eu queria ajudar tanto de vez em quando, aliviar um pouco, te deixar alegre." (Korczak, Janusz. A sós com Deus - orações dos que não oram: São Paulo: Ed. Comenius, 2007, pág. 26).

A voz de Korczak ecoa por estas palavras. Creio que era esse o motivo dele ter feito o que fez, se dedicado ao que se dedicou. Amor? Não. Caridade? Não. Esperança? Não.

A mim parece que o velho homem queria alegrar um pouco a Deus.

- Judeu sujo! Escória! Tu não és digno de usar essa cruz. Foi você quem pendurou Deus na cruz. Use a Estrela, carregue sua letra escarlate. A letra que mostrará o que você fez com Deus.

Isso ecoava em sua cabeça. Se sentia culpado, mas queria fazer algo de vez em quando, para aliviar esse fardo, para alegrar

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