Relação entre Feminismo e Democracia
Por: Al'suhr Kurone • 12/3/2021 • Exam • 1.337 Palavras (6 Páginas) • 141 Visualizações
O modelo de estrutura da democracia não é exatamente uma construção sólida e intransponível. Na realidade, assemelha-se mais a uma parede de tijolos, sem cimento, que precisa ser constantemente vigiada e concertada. Contudo, não é como se fosse viável se livrar dessa parede; na verdade, o benefício que ela proporciona compensa o esforço. Garantir dignidade e liberdade das pessoas requer um sistema que lhes permita contestar quando algo confronta seus interesses, sobretudo aqueles que dizem respeito ao seu bem-estar. Tais interesses como um todo geralmente conflitam com as figuras de poder que se formam conforme a sociedade se compõe, sejam estas figuras responsáveis pela manutenção do bem-estar geral ou não, algo que ocasiona um conflito que talvez se possa conciliar, mas é certamente inevitável. O ponto é: A democracia não é dada, mas exercida. Trata-se de um conjunto de pequenas e grandes conquistas ao redor do tempo que visam dar uma voz às pessoas, de modo que possam buscar direitos. Contudo, a luta política não pode se resumir a vitórias individuais, mas da interrelação entre elas, uma vez que cada luta representa uma realidade, uma voz.
Quando se diz que a democracia é frágil, é porque seu modo de funcionamento, de certo modo, abre portas para eventos que minam a sua integridade. Uma das suas premissas diz respeito à liberdade de expressão. Aos indivíduos de uma sociedade num Estado democrático de direito é permitido que possam externalizar suas visões de mundo, suas ideias, sem represálias. Se por um lado isso garante uma proteção contra uma possível censura, por outro permite a legitimidade até mesmo de discursos antidemocráticos, tendo estes uma espécie de escudo contra quaisquer represálias. Somado a isso, abre-se espaço para que sejam apropriadas as lutas de grupos, de acordo com suas identidades. O próprio jogo político, ao tentar legitimar um regime democrático, tropeça em sua burocracia, demorando-se demais em apresentar soluções aos problemas sociais, o que incita a população a ver com bons olhos uma posição mais autoritária. Grupos identitários correm um severo risco de isolamento em relação aos outros, mantendo-se presos em suas “bolhas” sociais, dando oportunidade para que círculos, em especial, aqueles antidemocráticos, ganhem voz em suas lutas. Em suma, manter a democracia é um desafio simplesmente porque há diferentes interesses, que muitas vezes se chocam, mesmo entre os grupos que, em teoria, apoiam tal modelo de administração. Deste ponto, vem a questão: como evitar a ruína de uma sociedade democrática com as divergências de objetivos dos grupos?
Quando se observa a luta política do feminismo, podem-se observar alguns pontos importantes que podem ser relacionados. O primeiro deles diz respeito ao fato de que não existe apenas um feminismo, mas vários. A primeira onda vinha de uma classe social específica de mulheres brancas, burguesas que buscavam o direito de votar, rumo a uma igualdade de direitos. A segunda reconhecia a impossibilidade de uma igualdade ser fundada num sistema patriarcal. A terceira onda traz a questão da autonomização da sexualidade feminina, incluindo-se nela a possibilidade de não-maternidade, assim como o reconhecimento de uma multitude de realidades vividas. Já se fala sobre uma quarta onda, que envolve a luta por elementos mais persistentes e talvez menos óbvios, como a noção de cultura do estupro. A luta feminista tem um histórico de mudanças no foco e no sentido do que é feminismo, abrangendo diferentes grupos e causas. É nisto que se pode apontar que o feminismo deu um passo importantíssimo rumo à compreensão da importância e dos meios de efetivação da luta política. Reconhecendo a relevância dos diferentes grupos que compõem o feminismo e outros lutas sociais, as vivências, as realidades, os diferentes graus de opressão e como eles atuam, torna-se viável pensar num direcionamento. Judith Butler aponta para a questão da interseccionalidade, de enxergar os diferentes grupos que são oprimidos e buscam direitos como uma classe que, de modo a efetivar uma luta política, precisa ter um reconhecimento de união. Não se trata, no entanto, de diminuir outras lutas, mas de integralizar o engajamento; reconhecer que os efeitos e táticas de um feminismo branco e burguês não necessariamente atendem a mulheres negras, a pessoas trans, a qualquer pessoa de sexualidade não normativa. Conceber que os graus de dificuldade que diferentes classes sociais têm relevância e não precisam depender exclusivamente de indivíduos serem da comunidade diretamente afetada para se engajarem na luta destes. Compreender que não se pode pensar em uma real emancipação feminina dentro do sistema capitalista, uma vez que este mantém um modelo socio-cultural-econômico que impede tal emancipação pois se beneficia de sua ausência. Em resumo, trata-se de enxergar as problemáticas que afetam o espaço individual em uma escala macro.
Outro ponto importante é a noção de do uso das mídias sociais (e da mídia em si) como forma de busca de reconhecimento,
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