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TRABALHO SOCIOLOGIA - ANÁLISE ELES NÃO USAM BLACK TIE

Trabalho Universitário: TRABALHO SOCIOLOGIA - ANÁLISE ELES NÃO USAM BLACK TIE. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicos

Por:   •  20/5/2014  •  4.408 Palavras (18 Páginas)  •  2.140 Visualizações

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É dentro da perspectiva acima que procuramos analisar o filme Eles não usam Black-Tie, produção nacional de 1981, sob a direção de Leon Hirszman, com adaptação e roteiro de Giafrancesco Guarnieri, ambos militantes ligados à esquerda comunista nos anos 60 e 70, e que utilizavam a arte que produziam como uma forma de engajamento político, acreditando que estavam colaborando para a conscientização da população.

O filme é uma adaptação de uma peça teatral encenada pela primeira vez em 1958. De Guarnieri, Eles não usam Black-Tie, escrita quando o artista tinha ainda 24 anos de idade, representa uma inovação no mundo do teatro por dois motivos: primeiro, porque promoveu a recuperação do Teatro de Arena de São Paulo e, segundo, porque foi a primeira peça a introduzir uma temática popular. A história encenada em 1958 apresentava o movimento operário e o cotidiano das favelas do Rio de Janeiro na década de 50. A transposição de tal temática para o cinema, vinte anos depois, exigiu efetiva intervenção no roteiro, o que foi feito pelo próprio autor. Eles não usam Black-Tie do filme é representado na São Paulo do final dos anos 70, destacando o movimento operário e a sua relação com a luta pela redemocratização do país.

Inicialmente o filme foi proibido no Brasil, mas, depois de receber inúmeros prêmios como, o Leão de Ouro do Festival de Veneza, dentre outros, o governo brasileiro foi obrigado a liberar a sua exibição. Desta forma, dentro e fora do Brasil, Eles não usam Black-Tie ganhou grande repercussão. Os militantes Hirszman e Guarnieri conseguiram atingir boa parte do público que desejavam e se lançaram no cenário artístico nacional em grande parte devido ao sucesso do filme. Recentemente, a história foi encenada nos palcos de São Paulo, em 2001, e do Rio de Janeiro, em 2007, o que demonstra que uma história que procurava ser uma crítica da sociedade na década de 50 ainda é atual. Constatação desestimulante, pois nos faz perceber que, em quase cinquenta anos ainda não conseguimos resolver muitos problemas da nossa sociedade.

Análise historiográfica do filme

Nossa análise do filme Eles não usam Black-Tie foi organizada em eixos temáticos. O agrupamento foi escolhido como forma metodológica de discutir o maior número de temas suscitados pelo filme, procurando evitar a dispersão da análise.

Os eixos temáticos escolhidos são: o cotidiano da classe trabalhadora e o mundo do trabalho; o movimento operário e a crítica à sociedade perpassam os eixos.

O cotidiano da classe trabalhadora.

As imagens do filme, juntamente com os diálogos e as músicas escolhidas nos permitem fazer uma leitura de um cotidiano sofrido, repleto de tensões e conflitos de todos os tipos. O cenário apresentado, desperta uma sensação de aridez e desconforto, sugestionando as dificuldades da vida do trabalhador brasileiro.

A própria organização da casa das personagens centrais – Otávio e Tião -, espelha a dinâmica do grupo. Moradia pequena, sem muitos móveis, com o filho mais novo da família dormindo na sala, mal acomodado. Também a privacidade é destacada, visto que o sono do jovem não é motivo para a família deixar de se reunir na sala muito tarde da noite.

As reuniões familiares ocorrem geralmente em horários que acabam diminuindo a duração do contato, visto que ocorrem à noite, antes de dormir cedo, “pois amanhã é dia de trabalho”, frase que é repetida frequentemente no filme. As refeições matinais acontecem sempre com alguns membros da família em pé ao redor da mesa, sempre com pressa. Estas duas observações nos remetem à ideia de que o trabalho, que ditava os horários para os trabalhadores. Ratificando tal ideia, destacamos a relação entre o pai, Otávio, e o filho, Tião, que trabalham na mesma fábrica, mas que nem sempre conseguem se encontrar. Assim, além confirmar a ideia do tempo da fábrica, observamos que o trabalho acaba se interpondo nas relações sociais.

As relações sociais entre as pessoas, nos poucos momentos em que não estão trabalhando, geralmente ocorrem em um bar, no qual os operários sem encontram constantemente para conversar, sempre compartilhando a bebida. A constante recorrência à bebida, como uma forma de amenizar o sofrimento, ou, como aparece na fala de Otávio, “calibrar”, reforça a ideia do cotidiano sofrido que só pode ser suportado se tiver alguma compensação: no caso, a bebida. A única personagem que foge desses espaços de sociabilização é Tião, no início do filme, que aparece saindo do cinema, junto com a namorada. Tião é o operário que procura outros padrões de vida, padrões burgueses, e o fato de ser o único que rompe com o circuito casa-fábrica-bar, sugere a sua desvinculação da classe.

A violência familiar também é sugerida quando as cenas estão voltadas para o núcleo da família de Maria. Num primeiro momento, ao chegar a casa, ela ouve gritos de socorro de uma mulher, que apanhava do marido. Mas, ninguém ajudou a personagem, da qual só temos a voz. Uma referência à violência contra a mulher perante a qual a sociedade se omitia. Também, dentro da família de Maria aparece o mesmo assunto, quando o irmão dela sugere que o pai bêbado iria bater na mãe deles, que iria “começar de novo”. Por fim, na cena do confronto final entre Maria e Tião, ele chega a bater nela, mais uma demonstração da sociedade machista praticante da violência familiar, principalmente contra mulheres e crianças.

Outra questão muito sutil que aparece é a vida das pessoas marcadas pela programação da televisão. Nas cenas em que o aparelho aparece, geralmente são cenas do programa da TV Globo, Fantástico. O fato de todos assistirem aos mesmos programas nos sugere o controle exercido sobre a população por aquela emissora naquele momento.

Apesar de Eles não usam Black-Tie ser uma obra datada, com um discurso político muito claro, as questões do cotidiano dos trabalhadores não parecem ter sido superadas totalmente. Se hoje uma boa parte da população tem acesso às linhas de crédito para consumirem cada vez mais os produtos eletrodomésticos, o que oferece uma falsa sensação de ascensão social, um grande número de pessoas continua vivendo com seus aparelhos em moradias em péssimas condições, em bairros sem a infraestrutura necessária. A TV Globo continua tendo alcance, ainda maior na vida das pessoas, formatando o comportamento de gerações inteiras. E, a recorrência às bebidas continua existindo. As permanências históricas se fazendo presente, muito mais que as rupturas, tão necessárias nesses casos.

O mundo do trabalho

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