Uma tentativa de identificar as idéias básicas usadas na construção do pensamento neoembírico com uma visão mecânica no mundo e o hipotético método dedutivo de Descartes
Pesquisas Acadêmicas: Uma tentativa de identificar as idéias básicas usadas na construção do pensamento neoembírico com uma visão mecânica no mundo e o hipotético método dedutivo de Descartes. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: gauttier • 30/5/2014 • Pesquisas Acadêmicas • 4.590 Palavras (19 Páginas) • 435 Visualizações
Revista Ciência & Educação, 1998, 5(1), 37–54
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FRAGMENTOS DA CONSTRUÇÃO HISTÓRICA DO
PENSAMENTO NEO-EMPIRISTA
Antônio Fernandes Nascimento Júnior *
Resumo: O presente trabalho procura identificar as idéias principais na construção histórica do pensamento
neo-empirista a partir da visão mecânica do mundo e do método hipotético-dedutivo de
Descartes. O método indutivo moderno é apresentado por Bacon e os empiristas ingleses colaboram na
questão do pensamento “a posteriori”. No século XIX surge o positivismo que exclui a metafísica e considera
a explicação dos fatos apenas como relações de sucessão e similidade. É nesse âmbito que se constroem
as bases do método experimental moderno. No início do século XX, se desenvolve a ciência neoempirista
cujas principais proposições são (1) a idéia da verificabilidade como forma de conferir a
veracidade das teorias a partir da indução e das probabilidades e (2) o crescimento contínuo e acumulativo
do conhecimento científico. Popper apresenta a impossibilidade de se obter grandes teorias oriundas
da indução e sugere a substituição da indução pela dedução e da verificabilidade pela falseabilidade.
Kuhn afirma que o conhecimento científico depende de paradigmas convencionais e Lakatos
explica que a ciência não é uma sucessão temporal de períodos normais e revoluções, e sim sua
justaposição.
Unitermos: Filosofia da Ciência, Epistemologia, Neo-empirismo, História da Ciência, Paradigma.
Abstract: The current paper tries to identify the main ideas used in the construction of the neo-empiricist
thinking from the world’s mechanical view and the Descartes’ hypothetical-deductivistic method. The modern
inductivistic method is presented by Bacon and the English empiricists collaborate in the question of the
thinking afterwards. In the XIXth Century arises the Positivism, which excludes the Metaphysics and considers
the explanation of facts only as relations of successions and similities. It is in this scope that is built the
experimental method basis. At the beginning of the XXth Century, appears the neo-empiricist science which
mains propositions are: (1) the idea of verifiability as a form to confer the theories’ veracity from the induction
and the probabilities and (2) the continuum and cumulative scientific knowledge increase. Popper presents
the impossibility of obtaining huge theories from induction and suggests the substitution of the induction
by the deduction and of the verifiability by the falseability. Kuhn argues that the scientific knowledge
depends on conventional paradigms and Lakatos explains that science is not just a temporal succession of normal
periods and revolutions but its overlapping.
Key words: Philosophy of Science, Epistemology, Neo-empiricism, History of Science, Paradigm.
UM MECANISMO EXPLICANDO O MUNDO:
O RACIONALISMO DE DESCARTES
Para a maioria dos historiadores, René Descartes e seu racionalismo mecanicista, é
considerado o fundador do pensamento científico moderno. Em sua obra Estudos de História
do Pensamento Científico, koyré afirma “e é sobre a base da física galileana e de sua interpretação
cartesiana, que se constituirá a ciência tal como a conhecemos, nossa ciência, e é sobre
essas mesmas bases que se poderá construir a grande síntese do século XVII, concluída por
Newton”, (p.55).
* Professor Assistente Doutor da Área de Pós-Graduação em Planejamento Urbano e Regional: Assentamentos Humanos
– Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação. UNESP. (e-mail: arq-gott@travelnet.com.br)
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A geometria cartesiana, deduzida a partir de formulação algébrica da geometria
euclidiana, permitiu a Descartes alcançar os axiomas fundamentais de toda a matemática conhecida.
O mundo geometrizado dos físicos da época foi assim reduzido as primeiras verdades,
verdades fundamentais, colocadas por Deus na alma dos homens na forma de intuição.
De sua matemática, Descartes constituiu sua física, e finalmente, sua visão mecanicista do
mundo, passível de compreensão a partir da redução a seus princípios fundamentais.
No discurso do método, Descartes explica que o homem, ao nascer já era munido
dos elementos básicos do saber bastava-lhe, por dedução, ampliar seus conhecimentos da compreensão
do mundo. Intuição e dedução para Descartes compunham a razão. Dessa forma,
parte-se de verdades inatas (matemáticas), intuitivas e, por dedução, ampliar-se a compreensão
do mundo. São as regras de inferência que permitem derivar as proposições de outras
proposições sendo os primeiros princípios estabelecidos pela intuição. A razão porém, não é,
suficiente para explicar o mundo. É preciso que a experiência confirme a conclusão vinda da
dedução. Assim, a experiência seria fundamental no contexto da justificativa da conclusão.
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