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ÉTICA

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Por:   •  19/11/2014  •  1.390 Palavras (6 Páginas)  •  852 Visualizações

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O Princípio Responsabilidade de Hans Jonas

Prof. Ms. Gelson Leonardo Rech

Durante toda a história da humanidade até a época medieval, a Natureza

apresentava-se como duradoura e permanente, que sofria ciclos e alterações, mas era

sempre capaz de se recuperar sem dificuldade, inclusive das pequenas agressões que o

homem lhe causava com as suas localizadas intervenções.

Esta concepção mudou radicalmente com a ciência moderna e a técnica dela

derivada. Infelizmente o homem passou a constituir, de fato, uma ameaça para a

continuidade da vida na Terra. Não só pode acabar com a sua existência como também

pode alterar a essência do homem e desfigurá-la mediante diversas manipulações.

Tudo isto representa uma mutação tal no campo da ação humana que nenhuma

ética anterior se encontra à altura dos desafios do presente. Torna-se necessária uma

nova ética: uma ética orientada para o futuro. Tal não significa que seja concebida para

que a pratiquem apenas “os homens de amanhã”. Ao contrário, trata-se duma ética que

deve reger precisamente os “homens de hoje” de forma a garantir que haja “os homens

do futuro”.

É neste sentido que Hans Jonas dedicou-se a esta problemática, tendo proposto

uma filosofia baseada no Princípio Responsabilidade, apresentando um novo

paradigma ético, vocacionado para o nível coletivo e para ação dos agentes políticosociais,

grandes responsáveis e contribuintes para “regrar e orientar da ação humana”,

“uma ética atual que se preocupa com o futuro, que pretende proteger os nossos

descendentes das consequências das nossas ações presentes”.

O Homem define-se pela responsabilidade que assume em prol das gerações

futuras. Os problemas ecológicos, as consequências da biotecnologia e o relativismo de

valores impõem uma resposta moral forte, dado que o ser está em perigo. Essa resposta

terá necessariamente ancoragem no ser, reino da liberdade polarizada por um futuro que

exige a responsabilidade do homem solidariamente comprometido com a biosfera.

Como conciliar uma liberdade sem freios frente a uma exigência crescente de

responsabilidade face ao apelo do ser-valor em perigo? Qual o critério para pautar

nossas escolhas? Hans Jonas reformula o imperativo kantiano, enunciando um outro

princípio, mais adequado à condição da humanidade atual: "age de tal forma que os

efeitos da tua ação compatíveis com a permanência de uma vida autenticamente humana

sobre a terra". A responsabilidade transforma-se numa obrigação que tem como

paradigma a relação parental em que o cuidado é uma dádiva total, sem exigência de

reciprocidade. Como vimos, Hans Jonas apresenta-nos um imperativo (um dever fazer)

com a seguinte estrutura: Age de maneira que os efeitos de tua ação sejam

compatíveis coma permanência de autêntica vida humana sobre a terra;

ou

Age de maneira tal que os efeitos de tua ação não sejam destrutivos da

possibilidade de autêntica vida humana futura na terra.

Princípios provocadores, não?

Podemos até admitir que alguém queira o seu próprio fim mas, segundo Hans

Jonas ainda assim não no seria a legitimidade de arriscar a própria vida mas não nos é

lícito arriscar a vida da Humanidade!Mas será que existe uma obrigação para com

aqueles que ainda não existem e, não existindo, nem sequer podem exigir ou têm direito

a exigir uma existência?!

Porquê “homens no futuro”? Na visão da ética clássica e antropocêntrica,

temos o interesse (e obrigação) moral de defesa e manutenção da espécie humana, o que

remete para teses éticas indemonstráveis: no futuro deverá haver sempre um mundo

apto para que o homem o habite e que a humanidade sempre seja digna desse nome; a

existência dum mundo é melhor que a sua inexistência. Parte-se, então, deste axioma.

Voltando ao imperativo categórico de Kant, sendo dirigido ao indivíduo e ao

instantâneo (visão antropocêntrica), este convida a pensar no que poderia acontecer se a

“máxima” da nossa ação atual se convertesse em princípio de uma legislação universal.

Mas este “novo tipo” de ações e suas consequências não estão contempladas. Além

disso, o princípio não é o da responsabilidade objetiva mas subjetiva e hipotética.

Hans Jonas propõe como “guia de reflexão ética” o próprio perigo que se prevê,

possíveis desfechos no futuro, antecipação do impacto planetário, consequências para a

Humanidade, entre outros cenários, que podem orientar os princípios éticos e novos

deveres no novo poder. Chama-lhe a “heurística do temor”, isto é, só a previsão da

desfiguração e auto-destruição do homem nos ajuda a refletir sobre o que há que

preservar

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