ÉTICA
Ensaios: ÉTICA. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: larissaorlandy • 19/11/2014 • 1.390 Palavras (6 Páginas) • 857 Visualizações
O Princípio Responsabilidade de Hans Jonas
Prof. Ms. Gelson Leonardo Rech
Durante toda a história da humanidade até a época medieval, a Natureza
apresentava-se como duradoura e permanente, que sofria ciclos e alterações, mas era
sempre capaz de se recuperar sem dificuldade, inclusive das pequenas agressões que o
homem lhe causava com as suas localizadas intervenções.
Esta concepção mudou radicalmente com a ciência moderna e a técnica dela
derivada. Infelizmente o homem passou a constituir, de fato, uma ameaça para a
continuidade da vida na Terra. Não só pode acabar com a sua existência como também
pode alterar a essência do homem e desfigurá-la mediante diversas manipulações.
Tudo isto representa uma mutação tal no campo da ação humana que nenhuma
ética anterior se encontra à altura dos desafios do presente. Torna-se necessária uma
nova ética: uma ética orientada para o futuro. Tal não significa que seja concebida para
que a pratiquem apenas “os homens de amanhã”. Ao contrário, trata-se duma ética que
deve reger precisamente os “homens de hoje” de forma a garantir que haja “os homens
do futuro”.
É neste sentido que Hans Jonas dedicou-se a esta problemática, tendo proposto
uma filosofia baseada no Princípio Responsabilidade, apresentando um novo
paradigma ético, vocacionado para o nível coletivo e para ação dos agentes políticosociais,
grandes responsáveis e contribuintes para “regrar e orientar da ação humana”,
“uma ética atual que se preocupa com o futuro, que pretende proteger os nossos
descendentes das consequências das nossas ações presentes”.
O Homem define-se pela responsabilidade que assume em prol das gerações
futuras. Os problemas ecológicos, as consequências da biotecnologia e o relativismo de
valores impõem uma resposta moral forte, dado que o ser está em perigo. Essa resposta
terá necessariamente ancoragem no ser, reino da liberdade polarizada por um futuro que
exige a responsabilidade do homem solidariamente comprometido com a biosfera.
Como conciliar uma liberdade sem freios frente a uma exigência crescente de
responsabilidade face ao apelo do ser-valor em perigo? Qual o critério para pautar
nossas escolhas? Hans Jonas reformula o imperativo kantiano, enunciando um outro
princípio, mais adequado à condição da humanidade atual: "age de tal forma que os
efeitos da tua ação compatíveis com a permanência de uma vida autenticamente humana
sobre a terra". A responsabilidade transforma-se numa obrigação que tem como
paradigma a relação parental em que o cuidado é uma dádiva total, sem exigência de
reciprocidade. Como vimos, Hans Jonas apresenta-nos um imperativo (um dever fazer)
com a seguinte estrutura: Age de maneira que os efeitos de tua ação sejam
compatíveis coma permanência de autêntica vida humana sobre a terra;
ou
Age de maneira tal que os efeitos de tua ação não sejam destrutivos da
possibilidade de autêntica vida humana futura na terra.
Princípios provocadores, não?
Podemos até admitir que alguém queira o seu próprio fim mas, segundo Hans
Jonas ainda assim não no seria a legitimidade de arriscar a própria vida mas não nos é
lícito arriscar a vida da Humanidade!Mas será que existe uma obrigação para com
aqueles que ainda não existem e, não existindo, nem sequer podem exigir ou têm direito
a exigir uma existência?!
Porquê “homens no futuro”? Na visão da ética clássica e antropocêntrica,
temos o interesse (e obrigação) moral de defesa e manutenção da espécie humana, o que
remete para teses éticas indemonstráveis: no futuro deverá haver sempre um mundo
apto para que o homem o habite e que a humanidade sempre seja digna desse nome; a
existência dum mundo é melhor que a sua inexistência. Parte-se, então, deste axioma.
Voltando ao imperativo categórico de Kant, sendo dirigido ao indivíduo e ao
instantâneo (visão antropocêntrica), este convida a pensar no que poderia acontecer se a
“máxima” da nossa ação atual se convertesse em princípio de uma legislação universal.
Mas este “novo tipo” de ações e suas consequências não estão contempladas. Além
disso, o princípio não é o da responsabilidade objetiva mas subjetiva e hipotética.
Hans Jonas propõe como “guia de reflexão ética” o próprio perigo que se prevê,
possíveis desfechos no futuro, antecipação do impacto planetário, consequências para a
Humanidade, entre outros cenários, que podem orientar os princípios éticos e novos
deveres no novo poder. Chama-lhe a “heurística do temor”, isto é, só a previsão da
desfiguração e auto-destruição do homem nos ajuda a refletir sobre o que há que
preservar
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