A GEOGRAFIA TRADICIONAL
Por: janaaa12 • 2/7/2016 • Resenha • 4.660 Palavras (19 Páginas) • 1.117 Visualizações
A GEOGRAFIA TRADICIONAL Embora lançando raízes históricas ao longo dos séculos, foi somente no Século XIX que a Geografia começou a usufruir do status de conhecimento organizado, penetrando nas universidades. As primeiras cadeiras de Geografia foram criadas na Alemanha, em 1870, e posteriormente na França. Organizada e estruturada em função das obras de Alexandre von Humboldt e de Carl Ritter, desabrochando na Alemanha e na França, pouco a pouco a Geografia foi-se difundindo para os demais países. As contribuições e as idéias apresentadas pelos geógrafos alemães e franceses tiveram grande influência no desenvolvimento dessa ciência na primeira metade do Século XX. Se na Alemanha os trabalhos mais significativos são os de Alfred Hettner; na França os trabalhos básicos são os de Paul Vidal de La Blache. Tratar da definição da Geografia é assunto delicado. Em 1925, Alfred Hettner considerava como objetivo fundamental da Geografia o estudo da diferenciação regional da superfície terrestre. Esta definição foi acatada e elaborada de modo minucioso por Hartshorne, em 1939, em sua obra The Nature of Geography. Outra definição referia-se à análise das influências e interações entre o homem e o meio, que se expressou de modo claro na proposição de Albert Demangeon, em 1942: "é o estudo dos grupos humanos nas suas relações com o meio geográfico". Muito mencionada também é a definição elaborada por Emmanuel de Martonne, em sua obra Traité de Géographie Physique, cuja primeira edição surgiu em 1909 e a última em 1951. De Martonne ponderou que a "geografia moderna encara a distribuição à superfície do globo dos fenômenos físicos, biológicos e humanos, as causas dessa distribuição e as relações locais desses fenômenos". Embora houvesse acordo de que a superfície terrestre era o domínio específico do trabalho geográfico, essas definições e a prática da pesquisa geográfica estavam eivadas de contradições dicotômicas. Entre elas, duas merecem ser destacadas nesta oportunidade. A primeira dicotomia estava relacionada com a Geografia Física e a Geografia Humana. Representando os conjuntos meio geográfico e atividades humanas, a Geografia Física destinava-se ao estudo do quadro natural, enquanto a Geografia Humana preocupava-se com a distribuição dos aspectos originados pelas atividades humanas. Em virtude do aparato metodológico mais eficiente das ciências físicas e da esplêndida concatenação teórica elaborada por William Morris Davis, a Geografia Física rapidamente ganhou a imagem de ser a parte cientificamente mais bem consolidada e executada. Praticamente, não havia mais necessidade de preocupações metodológicas e conceituais a seu propósito. Destituída de aparato teórico e explicativo para as atividades humanas, assim como da imprecisão dos procedimentos metodológicos, a Geografia Humana sempre se debatia na procura de justificar o seu gabarito científico, e em estabelecer sua definição e finalidades como ciência. A esta dicotomia se juntava o conflito conceitual de ser a Geografia uma "ciência única" ou um conjunto de ciências. Os debates relativos a essa temática são contínuos e sempre reabertos, sem chegar a uma conclusão definitiva. Do artigo de Vidal de La Blache (1913) ao de Henri Baulig (1948), para exemplificar, esses assuntos são relevantes. A segunda dicotomia se refere à geografia geral e à geografia regional. Objetivando estudar a distribuição dos fenômenos na superfície da Terra, a geografia geral analisava cada categoria de fenômenos de maneira autônoma. Essa focalização resultou na geografia sistemática ou tópica e na subdivisão da geografia (geomorfologia, hidrologia, climatologia, biogeografia, geografia da população, da energia, urbana, industrial, da circulação e outras). Entretanto, deve-se lembrar que o designativo geral não se referia ao conceito da metodologia científica de procurar generalizações ou leis, mas se baseava no principio da "unidade terrestre" (La Blache, 1896) e na "escala planetária" (Cholley, 1951). Levava em consideração o ato de comparar constantemente determinado fenômeno em um lugar com "os fenômenos análogos que podem apresentar-se em outros pontos do globo, ... a fim de mostrar como é que as suas particularidades se explicam pelos princípios gerais da evolução" (De Martonne, 1954, p. 18). Tendo em vista as concepções davisianas, De Martonne exemplificou com o caso da morfologia litorânea. Nessa circunstância, se possuía um modelo de evolução das formas litorâneas e a ele se comparavam as características dos casos cujas especificidade propiciavam classificar conforme as etapas da evolução ou de acordo com os tipos de influências externas (costas de emersão, costas de submersão; costas atlânticas, costas pacíficas etc). A Geografia Regional procurava estudar as unidades componentes da diversidade areal da superfície terrestre. Em cada lugar, área ou região a combinação e a interação das diversas categorias de fenômenos refletiam-se na elaboração de uma paisagem distinta, que surgia de modo objetivo e concreto. O estudo das regiões e das áreas favoreceu a expansão da perspectiva regional ou cronológica, que teve como êmulo e padrão as clássicas monografias da escola francesa. Preocupados em compreender as características regionais, o geógrafo desenvolveu a habilidade descritiva, exercendo a caracterização já estabelecida por La Blache, em 1913. Defrontando-se com os casos, a explicação baseava-se no destrinchar a evolução histórica e estabelecer a seqüência das fases que culminaram nas características atuais da referida área ou região. E, também, levando em conta as concepções de que o globo era um organismo coerente, com as suas partes funcionando de modo integrador, admitia-se que muitas unidades areais executavam uma "função" em termos do conjunto. O desenvolvimento da cultura canavieira no Nordeste brasileiro era para abastecer o mercado europeu; os paísescolônias são abastecedores de matérias-primas para os países imperialistas, e outras explicações similares podem ser arroladas para os mais diversos aspectos e categorias de fenômenos. Na perspectiva corológica, a região é unidade globalizada na qual há interpenetração de todos os aspectos, os físicos e os humanos. Ao estudar a região, o geógrafo podia compreender a totalidade. Esta totalidade, resultante da pluralidade das coisas, assinala a influência relativamente inconsciente que a visão da filosofia de Hegel teve no trabalho geográfico. Esta noção de pluralidade de fenômenos está no âmago do conceito de Landschaft e de paisagem e criava a possibilidade de considerar as regiões como entidades objetivas, independentes do observador, sendo "objetos concretos" da análise geográfica (Hartshorne, 1939, 1978). Uma questão paralela incidia sobre o procedimento metodológico. Analisando e compreendendo o conjunto inter-relacionado dos aspectos existentes em uma região, considerava-se que cada categoria de fenômeno, em particular, era o objeto de determinada ciência (Sociologia, Economia, Demografia, Botânica, Hidrologia e outras)l. Todas essas ciências executavam a análise sobre os assuntos particulares. À Geografia, considerando a totalidade, correspondia o trabalho de síntese, reunindo e coordenando todas as informações a fim de salientar a visão global e totalizadora da região. A vocação sintética tornou-se a responsável pela unidade do ponto de vista atribuído à pesquisa geográfica. É ela a responsável pela unidade da Geografia, fazendo com que a "Geografia tenha por objeto o conhecimento das relações que condicionam, em determinado momento, a vida e as relações dos grupos humanos. Essas relações colocam em jogo elementos e atos de essência múltipla, tão diferentes como a presença do granito ou a de uma fronteira" (Pierre George, 1961). Em virtude dessa concepção ampla, todos os eventos da superfície terrestre acabam pertencendo ao âmbito geográfico. A importância assumida pela síntese é tão grande que Jacque Iine Beaujeau Garnier, em 1971, observa que "o método geográfico visa analisar uma parcela do espaço concreto, isto é, pesquisar todas as formas de relações e de combinações que podem existir entre a totalidade dos diversos elementos em presença. Isto é a geografia global; a geografia tout court". Além de refletir no método, a síntese geográfica é plenamente atingida nos estudos regionais, permitindo a André Allix afirmar que "o estudo regional está no coração de nossos trabalhos. Nenhum geógrafo é digno desse nome se não se dedicar aos esforços da definição sintética das regiões... O estudo regional é a mais completa expressão do método geográfico". Como conseqüência do campo tão extenso e da perspectiva sintética, resulta que os "geógrafos chegam a acreditar que a sua maneira de trabalhar é única e exclusiva, e que a geografia não é uma ciência como as outras" (Reynaud, 1974). Daí as afirmações constantes para assinalar que a Geografia era caracterizada por possuir métodos próprios e distintos das demais ciências. A Geografia era uma ciência singular. A propósito da Geografia Tradicional, inúmeros são os trabalhos conceituais e metodológicos disponíveis em língua portuguesa. É da mais significativa importância salientar o trabalho e a preocupação assídua do periódico Boletim Geográfico em publicar traduções de artigos básicos elaborados por geógrafos de diversas nacionalidades. Publicado regularmente desde 1943, pelo antigo Conselho Nacional de Geografia e depois pela Fundação IBGE, constitui fonte preciosa de referências bibliográficas. Com o intuito somente de exemplificar, podemos lembrar os artigos de Boyé (1974), Cholley (1964), Davis (1945), James (1967), James e Jones (1959), Le Lannou (1948), Tatham (1959) e Whittlesey (1960), entre muitos outros. É óbvio, também, que a eles se somam muitos artigos de geógrafos brasileiros e portugueses. Dentre as obras publicadas em língua portuguesa convém mencionar as de Paul Vidal de La Blache (1954), Jean Brunhes (1962), René Clozier (1950), Jan Broek (1967), Olivier Dollfuss (1972; 1973), Pierre George (1972), Pierre George, R. Gughielmo, B. Kaiser e Y. Lacoste (1966), Richard Hartshorne (1978), Pierre Monbeig (1957), Gabriel Rougerie (1971), Hilgard Sternberg (1946), S. W. Wooldridge e W. G. East (1967) e a de Nelson Werneck Sodré (1976). A NOVA GEOGRAFIA (Teorética-Quantitativa) A denominação de "Nova Geografia" foi inicialmente proposta por Manley (1966), considerando o conjunto de idéias e de abordagens que começaram a se difundir e a ganhar desenvolvimento durante a década de cinqüenta. O surgimento de novas perspectivas de abordagem está integrado na transformação profunda provocada pela Segunda Guerra Mundial nos setores científico, tecnológico, social e econômico. Esta transformação, abrangendo o aspecto filosófico e metodológico, foi denominada de "revolução quantitativa e teorética da Geografia" por lan Burton (1963). Embora se possam encontrar indícios históricos desde a década de quarenta, a contribuição de Fred Schaefer, em 1953, sobre Exceptionalism in Geography: a methodological examination, marca cronologicamente a tomada de consciência dessas tendências renovadoras. Tentando superar as dicotomias e os procedimentos metodológicos da Geografia Regional, a Nova Geografia desenvolveu-se procurando incentivar e buscar um enquadramento maior da Geografia no contexto científico global. A fim de traçar um panorama genérico sobre a Nova Geografia, podemos especificar algumas de suas metas básicas: A - Rigor maior na aplicação da metodologia científica - baseada na filosofia do positivismo lógico, a metodologia científica representa o conjunto dos procedimentos aplicáveis à execução da pesquisa científica. Pressupondo que haja a unidade da ciência, todos os seus ramos devemse pautar conforme os mesmos procedimentos. Não há metodologia específica para uma ciência, mas para o conjunto das ciências. Há métodos científicos para a pesquisa geográfica, mas não métodos geográficos de pesquisa. Em cada ciência, o que a diferencia das demais é o seu objeto. Cada ciência contribui para a compreensão da ordem e da estrutura existentes e o setor da Geografia é o das organizações espaciais. A abordagem da geografia científica está baseada na observação empírica, na verificação de seus enunciados e na importância de isolar os fatos de seus valores. Ao separar os valores atribuídos aos fatos dos próprios fatos, a ciência procura ser objetiva e imparcial. Considerando a metodologia científica como o paradigma para pesquisa geográfica, a Nova Geografia salienta a necessidade de maio rigor no enunciado e na verificação de hipóteses, assim como na formulação das explicações para os fenômenos geográficos. E não se deve só explicar o existente e o acontecido, mas com base nas teorias e nas leis ser capaz também de propor predições. Desta maneira, cria-se a simetria entre o passado e o futuro. Por outro lado, no discurso explicativo há preferência pelas normas relacionadas com o procedimento dedutivo-nomológico. E, por essa razão, considerando-se certas hipóteses e determinadas condições, o resultado do trabalho geográfico deve ser capaz de prever o estado futuro dos sistemas de organização espacial e contribuir de modo efetivo para alcançar o estado mais condizente e apto para as necessidades humanas. Os enunciados geográficos assumem validade em função da sua verificação e teste. O critério de refutabilidade ganha importância. Em vez de a validade depender da autoridade do geógrafo que observou e descreveu o fenômeno (ou a região), passa-se a aferi-la conforme os procedimentos de verificação propostos pela metodologia científica. Com o intuito de cada vez mais se conhecer os aspectos e as questões relacionadas com a metodologia, os geógrafos passaram a se interessar pela filosofia da ciência. E as obras de Ernest Nagel, Gustav Bergmann, R. B. Braithwaite, Mario Bunge, Carl Hempel e de Karl Popper, entre muitos outros, começaram a ser mencionadas por geógrafos preocupados com essa temática. E sob essa perspectiva, duas obras geográficas ganharam maior realce: a Explanation in Geography, de David Harvey (1969) e a An introduction to scientific reasoning in Geography, de D. Amedeo e R. Golledge (1975). B) Desenvolvimento de teorias - a falta de teorias explicitamente expostas na Geografia Tradicional foi veementemente criticada por inúmeros geógrafos. Por essa razão, sob o paradigma da metodologia científica, a Nova Geografia também procurou estimular o desenvolvimento de teorias relacionadas com as características da distribuição e arranjo espaciais dos fenômenos. E deve-se notar a grande facilidade com que os geógrafos passaram a usar e a trabalhar com as teorias disponíveis em outras ciências, como as teorias econômicas, mormente as relacionadas com a distribuição; localização e hierarquia de eventos (as teorias de Christaller, von Thunen, Losch, Weber). Tendo em vista verificar a aplicabilidade de tais teorias, muitos geógrafos passaram a estudar os padrões de distribuição espacial dos fenômenos (estudo de distribuições pontuais, de redes ou de áreas), mas sem fazer estudo crítico e propor modificações ou substituições àquelas teorias. Não se encontra contribuição realmente significativa para a teoria geográfica das organizações espaciais. Se havia deficiência em teorias, essa lacuna ainda continua a existir. Por outro lado, com o estudo dos padrões espaciais aceitava-se implicitamente o espaço como a dimensão característica da análise geográfica e a superfície terrestre como o seu objeto de estudo. Basicamente, não havia nada de diferenciação fundamental com as definições propostas por Hettner e Hartshorne. Ao deslocar o foco de análise para o das organizações espaciais, estava-se propondo modificação substancial; mas a inércia da formação geográfica manteve-se e a transformação continua a ser almejada. Para esclarecer a perspectiva da transformação teórica, é útil lembrar o que aconteceu com o setor da Geomorfologia. A concepção teórica elaborada por William Morris Davis predominou de modo inconteste por quase meio século. Se muitas críticas Ihe eram endereçadas, não surgia outra proposição coerente e global capaz de substituí- la. Só no findar dos anos cinqüenta e na década seguinte começaram a aparecer indícios de nova estrutura teórica, que ganhou corpo com a teoria do equilíbrio dinâmico, de John T. Hack (1960), revivendo e ampliando antigas concepções expostas por Grove Karl Gilbert. Quase simultaneamente, Leopold e Langbein (1962) expunham as perspectivas da teoria probabilística da evolução do modelado terrestre. Estas teorias permitiram propor explicações diferentes aos mesmos conjuntos de fatos, substituindo as explicações davisianas, como no caso do perfil longitudinal dos cursos de água e sobre os problemas relacionados com as capturas fluviais e oscilações do nível de base (Ghristofoletti, 1977, 1978) C) O uso de técnicas estatísticas e matemáticas - o uso de técnicas matemáticas e estatísticas para analisar os dados coletados e as distribuições espaciais dos fenômenos foi uma das primeiras características que se salientou na Nova Geografia. E o seu carisma foi tão grande que se refletiu, na adjetivação empregada por muitos trabalhos, a denominação de "Geografia Quantitativa". Indiscutivelmente, o uso das técnicas de análise deve ser incentivado porque elas se constituem em ferramentas, em meios para o geógrafo. O conhecimento das diversas técnicas de análise (as simples, as multivariadas e as relacionadas com a análise seriada e espacial) é básico para o geógrafo. Entretanto, usar técnicas estatísticas, por mais sofisticadas que sejam, não é fazer Geografia. Se o geógrafo coleta inúmeros dados e informações e os analisa através do computador (por exemplo, usando a análise fatoral ou a discriminante), sem ter noção clara do problema a pesquisar e se não dispuser de arsenal teórico e conceitual que lhe permita adequadamente interpretar os resultados obtidos, estará apenas fazendo trabalho de mecanização, mas nunca um trabalho geográfico. Infelizmente muitos trabalhos podem ser mencionados para exemplificar o mau uso das técnicas ou a sua escolha inadequada. Mas não se deve, por isso, confundir a deficiência do geógrafo com a incapacidade da Nova Geografia. Todas as técnicas, adequadas aos mais variados tipos de problemas, estão disponíveis. Se por ignorância ou por mera facilidade prática o geógrafo escolhe inadequadamente a técnica a usar, esse procedimento corresponde ao fato de um médico receitar ao paciente remédio impróprio é sua doença, pois é o que ele conhece e dispõe. Deve-se, por isso, estigmatizar a Medicina? Há muita celeuma em torno da quantificação em Geografia - é conseqüência da confusão que se faz entre a escolha e o uso das técnicas, com a própria ciência. Na composição curricular das universidades brasileiras vão sendo introduzidas, aos poucos, disciplinas relacionadas com a quantificação em Geografia. Se na literatura geográfica existem obras variadas e significativas para a formação "quantitativa" do geógrafo, ainda não dispomos, em língua portuguesa, de nenhum manual. Além de alguns artigos esparsos nas diversas revistas, a obra mais saliente é a recente publicação realizada pelo IBGE, sobre Tendências Atuais na Geografia Urbano-Regional: Teorização e Quantificação, sob a organização de Speridião Faissol (1978). D) A abordagem sistêmica - a abordagem sistêmica serve ao geógrafo como instrumento conceitual que lhe facilita tratar dos conjuntos complexos, como os da organização espacial. A preocupação em focalizar as questões geográficas sob a perspectiva sistêmica representou característica que favoreceu e dinamizou o desenvolvimento da Nova Geografia. A aplicação da teoria dos sistemas aos estudos geográficos serviu para melhor focalizar as pesquisas e para delinear com maior exatidão o setor de estudo desta ciência, além de propiciar oportunidade para considerações críticas de muitos dos seus conceitos. A bibliografia específica avoluma-se continuamente, abordando temas ligados às geociências ou às ciências humanas. No âmbito da Geografia, todos os seus setores estão sendo revitalizados pela utilização da abordagem sistêmica. Por exemplo, a introdução do conceito de geossistema, pelos geógrafos soviéticos, permitiu recompor e revitalizar o campo da Geografia Física (Sotchava, 1977). Na literatura em língua portuguesa, poucas são as contribuições disponíveis para favorecer ao leitor. Para amenizar essa lacuna, deve-se salientar a contribuição feita por Christofoletti (1979), elaborando a obra Análise de Sistemas em Geografia. Apresentando os conceitos básicos da teoria dos sistemas, o autor focaliza diversos itens da abordagem sistêmica e realiza útil levantamento bibliográfico sobre a questão. E) O uso de modelos - intimamente relacionada com a verificação das teorias, com a quantificação e com a abordagem sistêmica, desenvolveuse o uso e a construção de modelos. A construção de modelos pode ser considerada como estruturação seqüencial de idéias relacionadas com o funcionamento do sistema. O modelo permite estruturar o funcionamento do sistema, a fim de torná-lo compreensível e expressar as relações entre os seus diversos componentes. Para o geógrafo, o modelo é um instrumento de trabalho que deve ser utilizado na análise dos sistemas das organizações espaciais. Como na quantificação, não se deve prender à construção e ao uso de modelos pelo simples objetivo em si mesmo. Mas é um meio para melhor se atingir a compreensão da realidade. No artigo de Christofoletti sobre As Características da Nova Geografia encontramse diversas ponderações sobre o assunto, e não se torna necessário retomá-las. A obra de R. J. Chorley e Peter Haggett, sobre Models in Geography, publicada em 1967, e que se tornou contribuição clássica sobre o assunto, foi traduzida para a língua portuguesa e editada em três volumes durante os anos de 1974 e 1975.
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