GEOGRAFAR PARA EDUCAR: TRABALHANDO O USO DE IMAGENS NO ENSINO DA GEOGRAFIA TRADICIONAL E DA GEOGRAFIA CRÍTICA
Por: Bruno Tapajós • 25/9/2018 • Resenha • 3.344 Palavras (14 Páginas) • 415 Visualizações
UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE
PÓLO UNIVERSITÁRIO CAMPOS DOS GOYTACAZES
Disciplina: Fundamentos Teóricos e Metodológicos do Ensino da Geografia
Professor: Edimilson Mota
Campos dos Goytacazes, Outubro 2015
Aluno: Bruno Tapajós do Amaral Figueira
GEOGRAFAR PARA EDUCAR: TRABALHANDO O USO DE IMAGENS NO ENSINO DA GEOGRAFIA TRADICIONAL E DA GEOGRAFIA CRÍTICA
Resumo
Vivemos em uma época onde as Ciências Humanas são constantemente questionadas sobre o seu grau de relevância para a sociedade. A mais recente polêmica se deu no Japão, onde o ministro da educação questionou a importância das humanidades dentro do seio social. Esse artigo busca debater algumas propostas de ensino da Geografia, visando ressaltar e reafirmar a importância deste, a partir do uso de recursos visuais (imagens), apresentando ao docente alguns caminhos no direcionamento das suas aulas, abordando tanto a Escola Tradicional como a Escola Crítica, com ênfase maior nesta última, uma vez que entendemos a formação do cidadão consciente das problemáticas espaciais que perpassam o seu cotidiano como um dos principais objetivos da disciplina, senão o maior. Para tanto, buscamos referências em alguns autores que trabalha tais temáticas e procuramos estabelecer também um breve diálogo com a Arquitetura com o intuito de fazer uma análise crítica sobre a forma com que Indústria Cultural utiliza a imagem e a propaganda como forma de sedução visando manter a reprodução do capital no espaço geográfico.
Palavras-chave: ensino de geografia, uso de imagens, cidadania
Introdução
Dentre as disciplinas estudadas nas escolas, a geografia tem o costume de levar a fama de ser a única a oferecer um saber sem muita utilidade fora da instituição escolar. Lacoste (2012) aponta essa celeuma culpando a falta de criticidade que passou a acompanhar a ciência a partir da instituição, no final do século XIX, da geografia dos professores, primeiro na Alemanha e depois na França. O autor, expoente da escola crítica, surgida nos anos 70, chama atenção ao fato que ele chama de transformação de um saber estratégico - "que servia, antes de mais nada, para fazer a guerra" - num discurso apolítico e "inútil", de caráter meramente expositivo-ilustrativo, desprovido de dramas e tensões sociais que deveriam ser de interesse de toda a sociedade, transformação essa influenciada principalmente pelas ideias de Vidal de La Blache. Temos então, um geógrafo crítico fazendo uma crítica contundente à geografia tradicional.
Essa carência epistemológica que demonstram os geógrafos traduz, sem dúvida, mas de forma bem inconsciente, o mal-estar epistemológico original da geografia dos professores, a transformação de um saber estratégico num discurso apolítico e "inútil". Isso resulta, em boa parte, da influência das ideias "vidalianas" (Lacoste, 2012, p.99)
É interessante notar como a crítica do autor, datada dos anos setenta, ainda se mantém atual. Recentemente o ministro da educação do Japão sugeriu a extinção, ou uma diminuição, dos cursos de Ciências Humanas do país, com o argumento de que se deve dar prioridade a cursos mais “úteis”, no pensamento do ministro. Não é difícil compreender esse entendimento. As Ciências Exatas contribuem com tecnologias e grandes obras de engenharia, as Ciências Biológicas nos dão vacinas, remédios e transplantes ao passo em que as Ciências Humanas ainda são vistas por grande parcela da sociedade como uma área que não consegue dar um retorno prático à sociedade. Mas de quem seria a culpa desta falta de esclarecimento?
Uma rápida consulta na internet a respeito da pergunta “Para que serve a Geografia”? aponta algumas respostas curiosas:
“Serve para posicionar a pessoa no planeta, ao menos. O camarada que nem sabe apontar a Argentina no mapa múndi é demais! E uma outra que me perguntou, assustada, se o "Oriente Médio" fazia divisa com o Brasil? Outro, ao assistir na TV os conflitos em Mianmar, achou estranho que houvesse monges na Europa... Eu desisto! Em tempos de globalização, saber Geografia é o mínimo para não ser tachado de completo ignorante. A pessoa tem que saber ao menos discernir o hemisfério sul do hemisfério norte”
“A Geografia nos ajuda a compreender a realidade que nos cerca: saber como o espaço geográfico se formou, conhecer os motivos que o fazem ser como é hoje para podermos continuar transformando-o, pensando em uma melhor forma de viver para todos”
“Apesar de que eu não gosto,é importante você conhecer o seu país,o lugar onde você mora,pois se você quer viajar para um lugar que tenha praias,você não vai ir pra Minas Gerais, e sim pro Rio de Janeiro,Bahia, etc”
“Mas muita coisa que aprendemos na escola não vai servir para absolutamente nada na vida. Na verdade apenas tentam nos passar uma noção se tudo, porém, futuramente dificilmente nos lembraremos de alguma coisa, justamente por não usá-la. Isto é muito comum não só na Geografia como também na Matemática, comecei estudar Psicologia e descobri que são praticamente descartáveis no curso”.
“Serve para reprovar alunos que odeiam geografia como eu”
Nota-se que até os dias atuais, os próprios estudantes se confundem à respeito do objeto geográfico, demonstrando não só desconhecimento, mas também desinteresse, indiferença, chegando ao ponto de associar a disciplina com banalidades descartáveis. Para procurar entender e superar esses “desencontros”, trabalhando o ensino da disciplina de uma forma mais efetiva, o professor deve estudar as raízes e a história da ciência.
1 – Uma breve história do pensamento geográfico
Girão e Lima (2013) falam do surgimento da instituição escola na Europa, a partir do século XII, que tinha como uma das principais finalidades a divulgação do idioma pátrio, com a escrita assumindo o papel principal no que diz respeito à compreensão de mundo. Motta (2013) aponta que o ensino de geografia como disciplina se consolida na França sob a égide da geografia tradicional, “cujos paradigmas refletiam muito do discurso nacionalista daquele país, que difundia o projeto nacionalista e civilizatório com o domínio colonial na América, África, Ásia e na Oceania”. No campo do ensino, a geografia era trabalhada como uma disciplina que se limitava a descrever o espaço, desenvolvendo habilidades e competências de como aprender a região e imbuindo o sentimento de pertencimento ao lugar na criança. Era uma geografia então, de caráter apolítico, desprovida de criticidade e de reflexões sobre a organização do espaço e de injustiças sociais que se refletiam na dinâmica territorial. O papel do geógrafo então era a mera descrição da paisagem e de uma compilação de dados sobre recursos naturais, clima, vegetação, relevo e etc, e das formas com que o homem se adaptava ao “Milieux”.
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