CLIMATOLOGIA GEOGRÁFICA À GEOGRAFIA DO CLIMA GÊNESE, PARADIGMAS E APLICAÇÕES DO CLIMA COMO FENÔMENO GEOGRÁFICO
Por: Cássia Regina Segnor • 13/8/2020 • Resenha • 1.391 Palavras (6 Páginas) • 417 Visualizações
1. SANT’ANNA NETO. Da climatologia geográfica à geografia do clima gênese, paradigmas e aplicações do clima como fenômeno geográfico. 2008.
A artigo de Sant’Anna parte de uma revisão conceitual de clima em busca de uma nova abordagem que supere o paradigma do ritmo e incorpore a construção de uma perspectiva que abarque a dimensão social à interpretação do clima na perspectiva da análise geográfica. A discussão também é motivada pela compreensão da influência dos fenômenos atmosféricos e dos padrões climáticos na estruturação do território e do cotidiano da sociedade, a partir da dimensão socioeconômica e ambiental nas questões relacionadas ao clima e ao urbano, agricultura, saúde e mudanças climáticas.
Em busca de um retrospecto teórico, o autor, relembra a ampla aceitação do possibilismo de La Blache na segunda metade do século XIX como nova concepção para definir as relações homem-sociedade em oposição ao caráter determinista de Ratzel. Nesse contexto a região passa a ser a categoria da análise na Geografia e o pensamento Lablacheano passa a influenciar outras áreas do conhecimento, como a História através de Lucien Febvre.
Com o cenário favorável à escola francesa de Geografia, surge Sorre como um sucessor do pensamento de La Blache, propondo a partir de 1930 uma Geografia que estudasse as formas como os seres humanos organizam o meio. A maior contribuição, contudo, de Sorre é a revisão conceitual das definições de tempo e clima que deixasse de utilizar as médias como método. Para ele é exatamente o ritmo da sucessão de tipos de tempo que deveria interessar, uma vez que expressaria de forma global a variação do clima. Entretanto, Sorre não desconsiderava a importância do uso dos valores médios nem do emprego da estatística nos estudos climáticos que, segundo ele, seriam fundamentais para as análises sobre a variabilidade climática.
Simultâneo a isso, nos EUA, Hartshorne retomando o conceito de Hettner (1890-1910) propõem uma terceira interpretação a Geografia que estudasse as inter-relações entre fenômenos heterogêneos apresentando-as numa visão sintética. Com caráter generalista (nomotético), as integrações obtidas a partir da análise (idiográfica) possibilitariam atingir padrões de variação através das comparações de áreas distintas.
Resultam disso a proposta de classificação racional do clima, partindo dos pressupostos de rendimento econômico e de padrões agronômicos por Thorntwaite (1948) e a proposta de classificação climática com incorporação dos aspectos dinâmicos de circulação atmosférica aos elementos estáticos regionais de Strahler (1951). A contribuição de Strahler foi a mais significativa na busca de uma classificação climática de base genética e dinâmica em contraponto a hegemonia da classificação de Köppen, ao agrupar os tipos de clima em função das áreas de domínios de massas de ar e elementos da circulação secundária. Junto com Thorntwait, vai contribuir para o caráter econômico da análise climática efetuada por Curry (1952) que introduziu o conceito de clima como recurso natural e principal regulador da produção agrícola. Para Curry, a noção de tempo seria o fato concreto de análise enquanto o clima representaria uma abstração.
A partir dos avanços da Meteorologia Sinótica das escolas de Bergen e de Chicago e interpretados em terras brasileiras por Adalberto Serra, além da revisão dos conceitos de clima efetuados por Max Sorre, na França e por Leslie Curry, nos Estados Unidos, Monteiro vai elaborar sua própria análise geográfica do clima. Incorporou também a perspectiva da abordagem episódica extraída da obra de Sternberg (1949), o excepcionalismo de Kant e as concepções científicas, quanto ao método, de Feyerabend (1975), além das influências que sofreu em sua formação acadêmica, do mestre francês Ruellan.
Monteiro contrapõem Pédelaborde, também influenciado por Sorre, ao preconizar estudos sobre o mecanismo de encadeamento dos tipos de tempo (ritmo) enquanto o francês se preocupava com a totalidade dos tipos de tempo. Monteiro revoluciona a Climatologia brasileira ao propor uso das cartas sinóticas para análise geográfica do clima além de incorporar a análise rítmica em detrimento às médias.
Dessa forma, somente com o ritmo analisado junto a sucessão dos tempos dentro da escala diária seria possível compreender os mecanismos atmosféricos em relação ao papel do clima como fenômeno geográfico de interferência nas atividades humanas e na organização do espaço. Resumidamente os elementos que Monteiro utilizou para seu conceito – e que vão culminar na “análise rítmica” – de clima vão ser:
- Utilização de dados reais e diários em oposição as médias;
- Cartas sinóticas para identificação dos tempos;
- Elaboração de um ciclo evolutivo da penetração da massa Polar Atlântica;
- Utilização de períodos padrão para análise;
- Utilização do ritmo para entender as variações locais dentro de uma região;
- Tentativa de classificação climática com base nos sistemas atmosféricos atuantes e sua repercussão no espaço geográfico.
A concepção geográfica do clima na organização do espaço deve ser vista, fundamentalmente, como a geradora de tipos de tempo cujas características são absolutamente dinâmicas, complexas e muito sensíveis a qualquer alteração imposta, influenciando cada parte do planeta, em função da interação entre as diferentes esferas do globo e da ação do homem.
Embora a concepção de Monteiro tenha representado um avanço e originado a Climatologia Geográfica no Brasil, na atualidade seu conceito
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