Características dos textos de Ruy Moreira
Resenha: Características dos textos de Ruy Moreira. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: Kayame • 8/12/2013 • Resenha • 3.104 Palavras (13 Páginas) • 467 Visualizações
RESENHA
MOREIRA, Ruy. Pensar e ser em
Geografia. São Paulo: Contexto, 2007 (188
páginas).
Sandro de Oliveira Safadi
Geógrafo, Doutorando em Geografia e Professor
Substituto do Instituto de Estudos Sócio-ambientais
da Universidade Federal de Goiás.
E-mail: sosafadi@uol.com.br
Há muito tempo que Ruy Moreira está presente em nossas preocupações
geográficas, um autor vivaz e intenso em todas as suas ocupações intelectuais. Com a
ausência do grande Milton Santos, consideramos ser ele o maior responsável pela
reflexão que envolve os troncos do saber que constitui aquilo que reconhecemos como
geográfico. O título desta obra é a demonstração clara da atenção filosófica depositada
pelo autor para os temas que perpassam o universo geográfico, mas que não se encerram
nele. Ruy Moreira consegue sintetizar as angústias do nosso tempo na escolha do título
da obra. Estamos na encruzilhada em que a modernidade nos inseriu, entre o pensar e o
ser.
A obra é o retrato da caminhada deste autor nos últimos 30 anos, os textos se
referem aos trabalhos escritos entre 1978 e 2006. A organização dos capítulos da obra,
segue em três grandes eixos de discussão oferecidos por Moreira, mas que possuem
Ateliê Geográfico Goiânia-GO v. 2, n. 1 maio/2008 p.144-149 página 144
uma interface interna muito clara e precisa. No primeiro capítulo temos os textos que
demonstram interesse pelo desenrolar da história do pensamento geográfico, no segundo
capítulo temos os textos de caráter epistemológico e no terceiro capítulo os que
permeiam discussões ontológicas.
Desta forma, esta coletânea expressa uma variação no que se refere à
temperatura, desde textos que foram elaborados no calor dos acontecimentos do
movimento de renovação da geografia, tão sentido pelos geógrafos brasileiros no final
da década de 1970, até aqueles elaborados com a calma e por vezes, a frieza
característica das reflexões internalistas que permearam toda a obra de Moreira,
tratando do fundamento desta ciência.
Uma grande característica dos textos de Ruy Moreira é conseguir criar e firmar
pontes entre a geografia e os demais campos do saber, trabalhando de modo não usual e
com desconforto em relação ao comum e ao convencional. Seus escritos subvertem as
lógicas geográficas em muitos momentos, principalmente quando a geografia se vê
diante dos limites de suas próprias construções teóricas. Com maestria ele se aproxima
das artes, como no texto de abertura desta coletânea, “As formas da geografia e do
trabalho do geógrafo no tempo” escrito em 1993 e publicado em 1994, buscando no
lema maior do cinema novo “uma idéia na cabeça e uma câmera na mão”, um eixo de
discussão acerca dos limites da sanha geográfica pela técnica, afirmando que o geógrafo
“No passado, achou que a fotointerpretação era a interpretação da foto, quando era a
descrição do que estava fotografado. [...] E hoje acha que basta o programa de
geoprocesamento”. É um alerta para a necessidade de criação de uma base teórica para
pensarmos a imagem frente aos paradigmas espaciais do presente.
Neste texto e nos demais textos que tratam das questões da história do
pensamento geográfico percebe-se todo o furor comprometido e sistemático de suas
observações sobre o caminhar desta ciência. Baseando-se em autores como Henry
Lefbvre, Yves Lacoste, Pierre George, Massimo Quaini, Milton Santos entre outros, ele
busca a todo momento esmiuçar os componentes teóricos geográficos. No balanço dos
dez anos do movimento de renovação, que realiza no texto “A renovação da geografia
brasileira no período 1978-1988”, escrito em 1992 e revisado em 2000, ele aponta para
os diversos espectros da renovação, apresentando elementos das críticas em relação à
epistemologia, à ideologia e à afirmação do objeto geográfico, demonstrando a carência
Ateliê Geográfico Goiânia-GO v. 2, n. 1 maio/2008 p.144-149 página 145
do olhar ontológico em geografia e a preocupação com o sujeito, temas recorrentes em
seus textos e ausentes na geografia contemporânea.
O interesse de Moreira pela consagração do espaço como categoria central na
geografia e como construção teórica que permite as interfaces geográficas com o mundo
e com as outras ciências, é marcante e essencial para compreendermos sua obra. No
terceiro texto intitulado
...