MAPEAMENTO PARTICIPATIVO E DIAGNÓSTICO DE ÁREA DE RISCO URBANO: ESTUDO DE CASO NO BAIRRO SENHOR DOS MONTES - SÃO JOÃO DEL-REI, MG
Pesquisas Acadêmicas: MAPEAMENTO PARTICIPATIVO E DIAGNÓSTICO DE ÁREA DE RISCO URBANO: ESTUDO DE CASO NO BAIRRO SENHOR DOS MONTES - SÃO JOÃO DEL-REI, MG. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: gustavopyra • 20/3/2015 • 3.434 Palavras (14 Páginas) • 586 Visualizações
MAPEAMENTO PARTICIPATIVO E DIAGNÓSTICO DE ÁREA DE RISCO URBANO: ESTUDO DE CASO NO BAIRRO SENHOR DOS MONTES – SÃO JOÃO DEL-REI, MG
Gustavo Pyra Almeida¹; Silvia Elena Ventorini²
(gustavopyra@gmail.com; sventorini@ufsj.edu.br)
¹ Graduando em Geografia e bolsista PIBEX -UFSJ
² Professora Adjunto I do Departamento de Geociências da UFSJ.
Universidade Federal de São João del-Rei – Campus Tancredo Neves
RESUMO
Este artigo tem como objetivo apresentar a elaboração de mapas sistemáticos e participativos do Bairro Senhor dos Montes - São João del-Rei, MG. A fundamentação teórica-metodológica teve como base a Teoria Geral dos Sistemas Aplicada à Geografia e a perspectiva histórica e cultural. Os procedimentos aplicados e desenvolvidos foram: a) pesquisa teórica, b) elaboração de uma base digital de dados cartográficos, c) coletas de dados primários por meio de diálogos e questionários dirigidos junto a população; d) coleta de dados secundários e e) trabalho de campo. Os resultados e análises dos mapas gerados identificaram inúmeras residências situadas em áreas de risco, como topo de morros e encostas de alta declividade. Os dados coletados para o mapeamento participativo mostraram que há uma relação social, cultural e afetiva com o local, dificultando a aceitação por parte da população do risco que corre suas residências.
1. INTRODUÇÃO
Anualmente no Estado de Minas Gerais, inúmeros desastres naturais ocorrem, causando prejuízos ambientais, econômicos e sociais. Esses prejuízos acontecem devido à ocupação e crescimento urbano desordenado em áreas de várzea e vertentes. Especificamente sobre o município de São João del Rei –MG o Atlas Brasileiro de Desastres Naturais (período dos dados 1991 – 2010) no Volume Minas Gerais (2011), indica que o município foi atingido por inundações bruscas nos anos de 1997, 2001 e 2007. O documento não registra as enchentes ocorridas no ano de 2012. No referido ano, aproximadamente, 800 imóveis e 2.400 pessoas foram afetadas pelas enchentes, e pelo menos oito casas correram risco de desabarem, necessitando a remoção das famílias (PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOÃO DEL REI, 2012).
Localizado na mesorregião dos Campos das Vertentes, na porção centro – sul do Estado de Minas Gerais, o município está inserido na bacia do Rio das Mortes (GD2) cujas margens dos rios e das encostas foram e estão sendo ocupadas indevidamente e sem planejamento adequado. Tem seu relevo formado pelas serras do Complexo da Mantiqueira e clima tropical de altitude, tendo como período chuvoso de outubro a março com média mensal de 1.470mm. Além da área apresentar significativos processos de voçorocamento (BARUQUI et al, 2006) e movimento de massa. O município apresenta, ainda, um crescimento populacional significativo e de acordo com Pôssa, Ventorini, (2014, p12):
No período de 1991 a 2010 a população urbana do município cresceu 15%, segundo dados Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas - IBGE (1991, 2010). Por questões de classificação do IBGE, essa contagem populacional não inclui cerca de 10.000 universitários que estudam na Universidade Federal de São João del-Rei (fundada no ano 2002) e residem temporariamente na cidade. Estes fatos contribuem para o aumento da especulação imobiliária, que influência a dinâmica de ocupação da terra, desconsiderando aspectos naturais da região como, planícies de inundação, terrenos com incidência de voçorocas etc.
Somado aos fatos citados, há fatores históricos contribuintes para tal expansão urbana inadequada. O bairro Senhor dos Montes surgiu após a descoberta do ouro no local, intensificando cada vez mais o processo de povoamento desde o século XX. Com a escassez dos recursos minerais, após anos de exploração, sua população estabeleceu-se na localidade. O crescimento das famílias e a prática de ampliação das residências para conceber moradias a filhos e netos resultaram em relações culturais e afetivas com o local (ALMEIDA, VENTORINI, 2014). Fato que dificulta ou até impedem que os moradores acreditem que suas casas estão em áreas de risco a vida humana, conforme indicam os resultados do projeto de Extensão: Elaboração de mapas participativos do Bairro Senhor dos Montes- São João del-Rei – MG, cujo objetivo foi a geração de uma base digital de dados cartográficos sistemáticos e a aplicabilidade da cartografia social.
2. CARTOGRAFIA SOCIAL OU MAPEAMENTO PARTIVIPATIVO
O mapeamento participativo, denominado também de “cartografia social” valoriza a participação de grupos ou comunidades não especialistas na elaboração de documentos
cartográficos. Os resultados são apresentados em papel, brochuras ou em base digital, favorecendo procedimentos de atualizações e reelaborações, constituindo muitas vezes cartografias dinâmicas e situacionais (DAOU,2010). Seguindo a mesma linha, ACSELRAD, COLI (2008) diz que mapeamento participativo é um processo de representação do espaço que considera o conhecimento da comunidade sobre o local que vive e atua.
A cartografia social não inclui os grupos atuantes como objeto de estudo que possui informações, e sim membros da pesquisa que sancionam qual a realidade da área, confere a veracidade dos materiais produzidos nas oficinas, conflitos e necessidades da comunidade, pois o material produzido é utilizado para apoiar seus argumentos em negociações políticas e denúncias de problemas (MARQUES E CAINZOS, 2011).
Brodie e Cowling (2010) destacam que o uso da cartografia social como procedimentos teórico-metodológico e prático de investigação vem estendendo-se nos últimos 20 anos. Para os autores há no mapeamento participativo uma infinidade de princípios e métodos que podem ser aplicados em ampla variedade de contextos e para inúmeros fins de pesquisa em diferentes áreas.
Segundo Almeida e Júnior (2013) há dois importantes aspectos no trabalho de mapeamento social, o primeiro é a questão da etnografia, que requer um extenso e detalhado trabalho de campo com orientação acadêmica, técnicas de observação direta, descrições pormenorizadas e critério de seleção de informações. O segundo aspecto refere-se à ação dos agentes sociais, definindo o uso dos instrumentos, sua escolha, a seleção do que entra no mapa e, por fim, o resultado final de cada mapa situacional.
Este tipo de procedimento é utilizado em todas as partes do mundo desde os anos de 1990 e têm envolvido diversas instituições tais como
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