OS CONCEITOS GEOGRÁFICOS FUNDANTES PARA A PESQUISA: CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO TEÓRICO
Por: Karen_lolla • 3/2/2018 • Pesquisas Acadêmicas • 6.612 Palavras (27 Páginas) • 316 Visualizações
CONCEITOS GEOGRÁFICOS FUNDANTES PARA A PESQUISA: CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO TEÓRICO
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
O conhecimento é o conjunto de ideias estabelecidas e conectadas entre si, um processo de acumulo gradativo que está em constante alteração, que tem inúmeras formas de organização e compreensão da realidade, sendo a ciência uma das formas de apreensão do real, mas não uma verdade absoluta. Assim compreensão do que é ciência, a busca por objetos, territórios e demarcações cientificas, eram a trajetória que os cientistas percorriam pelos campos do conhecimento na busca para estabelecer teorias, métodos, técnicas e a abrangência de suas pesquisas.
Então o estudo e o conhecimento dos caminhos percorridos pela ciência geográfica assumem um caráter relevante, pois, somente através deles, é possível desenvolver capacidade de avaliar a importância e os papéis de tal ciência para a sociedade. Sendo que a geografia é uma ciência discutida desde seus primórdios na busca de sua identidade, seu objeto, seu método, passando por várias tendências e escolas de pensamento, como a tradicional, determinista e possibilista, positivista, crítica, tendo a tendência de uma compreensão mais completa, sistêmica ou holística que abre mais possibilidades e resultados a suas pesquisas.
A relação entre o homem e a natureza, vem desde antigamente para a construção da cultura humana, que evoluiu ao longo da história conforme os sistemas de relação mantidos pela humanidade com a natureza. Sendo que os sistemas de apropriação dos recursos e produção do espaço refletem, nas mais diferentes concepções filosóficas, e a evolução do processo de interpretação e apropriação da paisagem acompanhou essa evolução compondo-se conceitualmente da geografia física desde sua sistematização pela escola alemã com sua análise empírica e científica da paisagem.
Com a incorporação da teoria geral dos sistemas, nos pressuposto teórico-metodológico da geografia física, passa a estudar a paisagem segundo sua dinâmica, apontando sempre para sua funcionalidade e com interesse na organização derivada do jogo de interações e interdependências entre os atributos constituintes. Dessa maneira será apresentada a seguir uma discussão sobre a ciência e como a ciência geográfica se insere no contexto científico pela abordagem sistêmica, partindo daí será retratada uma discussão acerca da categoria paisagem para a ciência geográfica, e sua análise associada ao conceito de geossistema.
CIÊNCIA EM DIVERSAS APREENSÕES
Desde a origem do homem, ele tenta responder questões como: O que é o conhecimento? Como o adquire-se o conhecimento? Sendo neste sentido, que ao longo da história filósofos têm elaborado explicações para estas e outras questões. Como Platão acreditava que o conhecimento estava no espírito, era natural e que para se conhecer precisava voltar à contemplação do mundo espiritual; e John Locke acreditava que o conhecimento era exterior ao homem, sendo constituídos a partir de experiência direta com a natureza, os objetos e nas relações sociais. Então ao longo da história vieram várias concepções do que seria o conhecimento e que por fim acabariam influenciando os rumos da humanidade, pois os conhecimentos se tornaram úteis e necessários à preservação da vida, e a sua sistematização se tornar necessária para a organização dos saberes.
Chauí (1999) cita que a história da ciência pode ser dividida em três grandes momentos e rupturas, sendo estes a passagem do racionalismo e empirismo ao construtivismo, onde o racionalismo apresenta a ciência como uma representação da realidade verdadeira (tal qual é); o empirismo representa o objeto científico como um modelo construído, não a representação do real; e o racionalismo cuja ciência faz construções sobre a realidade sem chegar à realidade de fato. Essa autora ainda retrata uma segunda mudança nas ciências, sendo essa à passagem da ciência antiga que foi marcada pela necessidade da construção de teorias e sendo essa qualitativa para a ciência moderna mais tecnológica e quantitativa.
Tais mudanças são justificadas por Kuhn (2011) quando diz que a história da ciência apresenta momentos de estabilidade teórica e momentos de revolução científica, onde a estabilidade teórica se refere à pesquisa científica que tem por base um determinado eixo, sendo que nesse contexto de normalidade, as teorias não são refutadas em sua essência, mas reforçadas por hipóteses auxiliares; já o momento de revolução cientifica ou crise de paradigma refere-se às mudanças conceituais de visão de mundo e a insatisfação com os modelos vigentes, sendo que essas mudanças são provocadas por questões internas (resultantes do esgotamento teórico e metodológico de determinado fenômeno) e por questões externas (representadas pelas alterações socioculturais, ocorridas em dado período, que não mais aceitam os modelos teóricos disponíveis) (Marcondes, 1994). Que segundo Demo (1989) retrata como uma sucessão de fases onde novas perspectivas são criadas dentro de uma fase porque nela conflitos subjetivos e objetivos aparecem naturalmente no processo de evolução.
Esta dicotomia de ruptura e normalidade presente na oscilação da ciência apresenta uma interminável lista de teorias científicas permeadas por descontinuidades ou mesmo pelo que Chauí (1999, p. 257) aponta “... como resultado de diferentes maneiras de conhecer e construir os objetos científicos, de elaborar os métodos e inventar tecnologias...”. Sendo assim possível percebe que a ciência é dinâmica, um processo em constante mudança, pois sempre surgem novas perguntas, novos desafios, novas dificuldades e barreiras que necessitam de novas formas de estruturar e dar inteligibilidade aos fenômenos que se estabelecem.
Portanto percebe-se a ciência é autoquestionável, sofre críticas, mas visa demonstrar seus avanços, exigindo resultados que possam ser reproduzidos, busca procura e estudam evidências, fatos, experimentos, e confia nos testes e no pensamento analítico, que se mantém alerta em relação a falhas ou erros para corrigi-los numa sequência permanente de acréscimos de conhecimentos racionais e verificáveis da realidade.
Pode-se dizer então, que nenhum conhecimento produzido é inteiro, sendo capaz de abranger toda a realidade, mas sim este conhecimento é parcial, pois sempre existem novas possibilidades de compreensão de uma mesma realidade, assim, o conhecimento científico se torna válido quando colocado em discussão, para ser aceito ou refutado.
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