A Formação da Nobreza Indígena: Ascensão, Controvérsias e Decadência
Por: Andre Soares • 1/3/2019 • Resenha • 1.451 Palavras (6 Páginas) • 221 Visualizações
A Formação da Nobreza Indígena: ascensão, controvérsias e decadência
RAMINELLI, Ronald. “Nobreza indígena da Nova Espanha. Alianças e Conquistas”. Tempo, 27, volume 14, dezembro 2009, p. 83-96.
A obra “Nobreza indígena da Nova Espanha. Alianças e Conquistas” refere-se como foram os métodos utilizados pelos castelhanos para a conquista do chamado Novo Mundo. Neste texto, Ronald Raminelli discorre sobre o processo de dominação da população autóctone, inclusive desmitificando alguns pontos que, durante longos anos, foram conceitos admitidos pela historiografia, baseando sua argumentação em obras de outros autores como: Bernal Diaz del Castillo, Francisco Lopez de Gómara, Maria Elena Martinez, Charles Gibson, Margarita Menegus Bornemann, John H. Elliot, entre outros…
Em seu artigo, o autor discorre de como se procederam as conquistas das terras do chamado Novo Mundo. Neste trabalho, Raminelli conta que, além do uso da força, os castelhanos fizeram usaram de artimanhas políticas para a consolidação do poderio castelhano nestas novas terras. Inicialmente, como bem citou Tzvetan Todorov, a descoberta dos povos americanos, havia sido marcado por um grande sentimento de estranheza de ambos os lados, pois o isolamento daquele continente até então, fez com que europeus e nativos se ignorassem mutuamente até fins do século XV.
O autor, baseado nas crônicas de Lopéz de Gómora, reflete sobre a investida hispânica nas novas terras, recorrendo a novas estratégias para conquistar o império de Moctezuma. Para isso, Hernan Cortez empreende o ardil, com auxílio de interpretes, aliar-se ao chefe de Tlascallan, atingindo o êxito nesta empreitada.
Raminelli também destaca outra peça que ajudou a montar a conquista dos novos territórios pela Coroa Hispânica, com base nos argumentos de Maria Elena Martínez, tratou-se do apelo religioso da Igreja, desejosa em expandir o Cristianismo. Desta forma, podemos perceber que o fator missionário, açorado por levar o Cristianismo católico, além das terras europeias, norteou principalmente os franciscanos da Nova Espanha, que viram a oportunidade de levar o Evangelho àquele povo considerado, de uma certa maneira, puro por desconhecer a “Palavra de Deus”. Como bem disse o franciscano Gerónimo Mendieta, os indígenas seriam como páginas em branco e aceitariam prontamente a conversão por não estarem contaminados pelo islã e judaísmo. Desta forma, não haveria grandes resistências por parte dos indígenas quanto aos dogmas da Igreja. Sendo assim, com essa missão atingindo seu sucesso, a lealdade e a subordinação ao rei de Espanha, estariam garantidas.
Outro fator a ser considerado nesta conquista fora o impacto inicial do contato entre europeus e indígenas. Como bem salientado por Todorov, as formas de compreender o mundo eram bastante distintas entre indígenas e europeus. Para os indígenas, a vinda daqueles homens vindos do mar, estaria ligada a antigos mitos conhecidos e contados por gerações anteriores à chegada dos espanhóis. Muitos destes mitos falavam sobre o retorno de deuses civilizadores, o que, muito provavelmente, inicialmente, os europeus tenham sido confundidos com esses deuses, consequentemente tolhendo a capacidade de defesa dos indígenas.
A partir daí, com a conversão destes chefes tribais rivais, em especial os Tlascallan constituiu-se uma relação de vassalagem entre estes chefes e o rei, com o pagamento de tributos, mantendo a autonomia de seus domínios e conservando suas posições de liderança herdadas de seus antepassados. Estes chefes tribais participaram ativamente das campanhas de pacificação e evangelização de outros povos, obtendo, assim, a permissão de cobrar tributos aos índios comuns, chamados de maceguales(ou macehuales), que em troca, recebiam proteção destes chefes. Cria-se assim, uma espécie de nobreza indígena, que dentre outras coisas, salientado por Charles Gibson, queriam ter o privilégio de serem recebidos pelo rei em Madrid. Desta maneira, como forma de agradecimento aos serviços prestados, a Coroa concede permissão a estes chefes tribais de poderem usar espadas, armas de fogo, vestimentas espanholas, montar a cavalo e é criada pelo vice-rei don António de Mendoza a Ordem do Cavaleiros Tecles, constituindo assim a lealdade destes para com a Coroa e tornando estes caciques em aristocratas, com o direito de possuírem escravos negros. Este processo, além de consolidar o poderio da Coroa na Nova Espanha, possibilitou a disseminação do idioma castelhano entre os indígenas, segundo defende o autor, com base em Margarita Menegus. Além disso, esta autora cita a figura de Gerónimo de Santiago, cacique que descendia de antigos reis da região, como um dos grandes responsáveis pelo avanço da Coroa frente a resistência ameríndia.
Como estratégias de manutenção de poder, o autor cita os cacigazgos, que era o direito a posse de terras e cobrança de tributos, por parte dessa nobreza indígena. Charles Gibson e William B. Taylor acreditavam que os cacizgagos eram compostas de terras remanescentes do período pré-hispânico e por terras recebidas pela Coroa. No entanto, estes estudos carecem de um maior aprofundamento. Desta forma, pouco se sabe sobre como eram as cobranças de tributos, os serviços pessoais, os terrazgos, que eram os habitantes dos cacigazgos, e as formas de transmitir os bens vinculados.
Outro fator de dominação usado pelos espanhóis, foi a separação dos indígenas e espanhóis em repúblicas, o que causou o enfraquecimento político destes indígenas, pois além de não obterem artigos de cultura espanhola como vestimentas, cavalos e armas de fogo, os mesmos já não poderiam ter acesso às regalias como a isenção de impostos. Além disso, a constituição
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