A História da Historiografia
Por: Ângelo Oliveira • 28/11/2017 • Artigo • 1.459 Palavras (6 Páginas) • 182 Visualizações
Universidade Federal de Ouro Preto
Instituto de Ciências Humanas
Departamento de História
Disciplina: História da Historiografia
Docente: Thamara de Oliveira Rodrigues
Discente: Ângelo de Oliveira Gomes Teixeira – Nº de Matrícula: 13.2.9742
A partir das aulas e dos textos lidos, ofereça uma contribuição ao debate através de um texto que contemple as questões abaixo:
→ Como as filosofias da história e os historicismos (ou determinadas filosofias da história e determinados historicismos) contribuíram para a instituição da história enquanto disciplina? Ou se preferir, diante do enfraquecimento do topos “História Mestra da Vida” quais estratégias foram adotadas para o enfrentamento da mudança em relação a experiência temporal?
→ É possível que a história da historiografia (ou diferentes concepções de história da historiografia) contribua para o descongelamento de “experiências perdidas” ou minorizadas? Ou seja, a História da Historiografia pode cooperar para a prática de um ‘pensamento de risco’ relacionado à historicidade que produza o confrontamento de determinismos conservadores?
Durante muito tempo, até meados do século XVIII, o topos da história mestra da vida permaneceu intacto, durante esse período, há a concepção de um grande bloco contínuo no qual se encontrava toda a experiência e se condensavam passado, presente e futuro, oque conferia a história a capacidade de orientar. Segundo Koselleck, essa orientação só era possível devido a lentidão do tempo histórico que, de tão lento, permitia uma semelhança entre passado e futuro. Porém, durante o século XVIII, há uma crescente aceleração do tempo que rompe com essa possibilidade de uma similitude entre passado futuro e presente, aliado a isto tem-se também a revolução francesa que, por tratar-se de um fato inédito, o qual a história não previu, põe em cheque a utilidade da história como mestra da vida.
A partir desse cenário, se faz necessário encontrar meios para lidar com essa mudança de percepção temporal a fim de se reestabelecer o sentido da história. Tal sentido só poderia acontecer se se encontrasse uma justificativa para a história dentro dela própria. Então, essa justificativa se põe a acontecer, primeiramente, a partir de uma mudança lexical compreendida dentro da língua alemã, onde se esvazia o termo, que até então designava a história, Historie, passando a contemplar o novo termo Geschichte, sendo estes respectivamente entendidos como o relato e a história em si. Entretanto, Geschichte passa a designar tanto a história em si quanto o relato, assim como Historie também passa a designar a história em si. Porém, o termo Geschichte ganha força usual e exclui de vez Historie do vocabulário, oque acarretou na confluêcia de ambos os significados em Geschichte. Tal mudança lexical se fez imperceptível na prática, porém, fora fortemente discutida posteriormente. Assim, ao abarcar ambos os significados, a história se condensa no chamado "coletivo singular", que consistia num evento histórico e ao mesmo tempo linguístico, juntamente a este conceito, emergem as chamadas filosofias da história. Segundo Kosellec:
Não é por acaso que, nas mesmas décadas nas quais o conceito de coletivo singular de história [ Geschichte] começou a se impor, emergiu também o conceito de filosofia da história. É esse o momento em que proliferaram as histórias conjeturais, hipotéticas ou presuntivas. (...) A constituição da história [ Geschichte], no sentido que hoje nos é coerente, teve origem em um mesmo e único evento tanto do ponto de vista histórico quanto lingüístico. O surgimento da filosofia da história está associado exatamente a esse processo.
(KOSELLECK, p. , 2006)
Ainda segundo Kosellec, esta filosofia da história não deve ser compreendida como uma ciência particular, pois afirma, ao citar Koster, que "onde quer que se trate de uma parte da história ou de uma ciência histórica trata-se de nada mais nada menos do que a própria história em si".
Após isto, tem-se uma reestruturação da história, a partir da qual, mais uma vez se renuncia ao potencial de repetição da história, mas, dessa vez, reformula-se a história em forma de uma grandeza não natural. Assim, separa-se, conceitualmente, história e natureza. A partir disso, autores que já se recusavam a aceitar a medida de tempo natural, até então utilizada – o movimento dos astros e a sequência de dinastias – vem a descobrir e desenvolver um tempo especificamente histórico. Com isso, desaparece oque restava de "natural" na ciência histórica, e, nas palavras de Koselleck, "o progresso foi a primeira categoria na qual se deixa manifestar uma certa determinação do tempo, transcendente à natureza e imanente à história". Essa concepção de um tempo puramente histórico vem a ser, mais tarde, utilizada também pelo historicismo. Desse modo, o antigo topos é realmente superado, dando espaço a uma realidade atual que se permite modificar progressivamente.
Então, perante uma realidade de aceleração temporal, filósofos da história e historicistas se voltam a responder a questão colocada sobre a utilidade do conhecimento histórico (historiografia), a constituição de uma história que se funda sobre si mesma, a partir da qual se permite que a história se volte para ela própria e, apartir disso construa a noção de uma história que se modifica progressivamente, e a constituição de um tempo puramente histórico foram estratégias determinantes para a superação dessa realidade, além de, contribuirem de maneira definitiva para a constituição da história como disciplina atualmente.
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