A Psicologia: Conceito E Objetos De Estudo
Por: Vitória Mendes • 13/6/2023 • Artigo • 2.445 Palavras (10 Páginas) • 89 Visualizações
1. TEXTOS PARA LEITURA E ESTUDO
1.1 PSICOLOGIA: CONCEITO E OBJETOS DE ESTUDO
Conceituar psicologia não é tarefa das mais fáceis, ao contrário do que possa parecer num primeiro momento. Dizemos isto por existir certo consenso disseminado em manuais psicológicos de que o objeto de estudo da Psicologia seria o comportamento humano, conceituação esta bastante influenciada pelo comportamentalismo: mais uma entre tantas escolas em psicologia.
Não precisamos ir muito longe: basta utilizarmos esta, entre tantas possibilidades de definição, para constatarmos que até neste caso específico não nos deparamos com uma questão de fácil solução! O que devemos entender por comportamento?! O que pode estar por trás de nossos comportamentos? Seremos “senhores” de nossos comportamentos? Seremos capazes do controlar conscientemente tal comportamento?! Porque alguns, diante de uma mesma situação, se comportam de forma diferente?! E desde quando a ciência passou a interessar-se pelo comportamento, já que a psicologia, enquanto ciência, é um campo do saber considerado recente? Como a psicologia dos psicólogos definiria a psicologia?!
Autores como Japiassu (1995) e Bock (1999), ressaltam que a psicologia, embora sendo um campo de indagações que remonta à Antiguidade, só muito recentemente desvinculou-se da filosofia para atender ao que o paradigma vingente à época definia como ciência. Constituição esta, por si só, já bastante problemática.
Num momento histórico (século XVII) em que a ciência era concebida como um campo do saber rigoroso, objetivo, sistemático e preciso a respeito de um objeto específico, obtido através de um método próprio (geralmente a experimentação em laboratórios), buscava-se da ciência a possibilidade de previsão e controle de eventos da natureza. Mas como falarmos em possibilidade de previsão e de controle, como falarmos a respeito de objetividade quando estamos frente à psicologia, que em sua própria etimologia traz impressa a marca da alma e da subjetividade?!
Tornou-se urgente, então, fazer da psicologia um campo de saber objetivo e passível de experimentação. Neste primeiro momento, a aproximação da psicologia com a fisiologia era notória: medidas de tempo de reação, percepção, sensação... treino constante de sujeitos que relatavam em laboratório suas sensações diante de diversos experimentos.
Pouco tempo depois, no século XIX, nos Estados Unidos, os comportamentalistas aboliriam a subjetividade dos experimentos, já que o comportamento, e apenas este, constituia-se num elemento digno de investigação científica: pode ser observável, sem necessitarmos de inferências. Além disso, não só os seres humanos se comportam, animais igualmente se comportam e o estudo do comportamento animal poderia enriquecer a compreensão a respeito do comportamento humano.
Por outro lado, apenas para marcarmos mais o espaço diverso do saber psicológico, um último exemplo: o médico Freud (1856-1939), em Viena, preocupava-se não com experimentos em laboratório, ou fenômenos objetivamente observáveis, mas debruçava-se sobre o discurso do doente (neurótico) em busca de um sentido e postulava que o, ao contrário do que supúnhamos, não éramos tão conscientes assim de nossos atos.
Ironia científica: se para uma escola psicológica o comportamento era o objeto de estudo e a consciência uma dimensão a não ser investigada, sendo comparada a uma caixa-preta, para outra a consciência era apenas uma pequena fração da vida mental do individuo, já que o inconsciente constituiria a parcela maior do iceberg. Esperamos que agora seja notória a percepção de que a psicologia, como diria Garcia-Rosa (1977), constitui-se num campo de dispersão do saber, o que para Japiassu (1995) e Bock (1999) é reflexo da juventude da corrente ciência: diversos objetos, diversas áreas de atuação, diversos métodos dependendo da visão de homem e mundo adotada, dos problemas investigados, dos valores e crenças do cientista que, ao contrário do que postulavam os positivistas não são neutros, mas comprometidos com posições filosóficas, ideológicas..
É neste sentido que dizemos hoje não ser possível falar de psicologia, mas de psicologias! Psicologias que se situam no campo biológico, exato, humano, biológico...Considerando toda a problemática esboçada, Bock (1999) apresenta uma tentativa de definição das psicologias e seus objetos que não perde de vista a diversidade: a vida dos seres humanos em todas as suas manifestações - os fenômenos psicológicos interligando a fronteira dos subjetivos com o social e a constituição biológica humana.
UM POUCO DE HISTÓRIA: PSICOLOGIA NA ANTIGUIDADE
Se enquanto ciência a história da psicologia é relativamente recente, não podemos dizer o mesmo quando falamos dela enquanto campo de indagações e reflexões do saber humano. No trabalho de filósofos da Antigüidade Grega temas relacionados às formas e a possibilidade de se conhecer, sensação e o papel da percepção na forma de apreender-se a realidade já se faziam presentes.
Ademais, expressões artísticas e religiosas gregas traziam em seu bojo a representação da vida humana em sua complexidade. Exemplo disso, são obras poéticas como a Odisséia de Homero, teatrais como o Édipo de Sófocles, e a mitologia greco-romana, ainda hoje analisada pela psicanálise e a psicologia profunda (junguiana), na medida em que retratam questões seculares da vida humana como o amor, o ciúme, o narcisismo, a competição, a morte...
O próprio termo psicologia vem do grego psyqué, que significa alma, e logos, razão. Assim, etimologicamente a palavra psicologia significaria “estudo da alma”. Alma? O que os gregos pensavam a respeito desta questão? A alma, ou espírito, era considerada uma parte imaterial do ser humano capaz de pensar, amar, desejar, sentir, perceber...
O filósofo Platão, por exemplo, preconizava a existência de uma alma imortal e incorpórea que ANIMAVA o corpo, possuidora de muitos poderes, tais como memória, criatividade, atenção e sabedoria. Quando um ser humano nascia, uma alma se unia a seu corpo, imprimindo-lhe o sopro da vida. Ao morrer, esta alma se separava do corpo, que agora ficava inerte, buscando um novo corpo para unir-se, através do nascimento.
Para Platão, o verdadeiro conhecimento seria alcançado através do afastamento do mundo sensível, completamente enganoso, e do exercício de uma capacidade de raciocinar que se manteria distante das sensações. É ainda na Antigüidade grega que encontramos as contribuições do filósofo Aristóteles, discípulo de Platão.
Para Aristóteles a alma também era o princípio ativo da vida, mas diferentemente de seu mestre, não acreditava em um espírito imortal, que se unia ao corpo para depois separar-se dele. Para Aristóteles alma e corpo eram indissociáveis. Além do homem, tudo que se move sem a ação humana (animais e vegetais) também possuiria alma. No caso do ser humano, a diferença estaria no fato de que sua alma seria dotada da função pensante, sendo, portanto, racional. Na psicologia de Aristóteles a alma também coordenaria o corpo e suas diferentes partes, expressando alegrias e tristezas, amor e ódio.
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