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A Resenha Critica

Por:   •  12/12/2023  •  Resenha  •  1.073 Palavras (5 Páginas)  •  53 Visualizações

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Universidade Federal do Rio de Janeiro

Instituto de História

Docente: Gabriel Holliver

Discente: Ana Beatriz Abreu Silva

DRE: 120131458

ABU-LUGHOD, Lila. “As mulheres muçulmanas precisam realmente de salvação? Reflexões antropológicas sobre o relativismo cultural e seus Outros”. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, v.20, n. 2, p. 451-470, maio 2012.

O presente artigo a ser analisado, “As mulheres muçulmanas precisam realmente de salvação? Reflexões antropológicas sobre o relativismo cultural e seus Outros”, publicado originalmente em 2002 pela American Anthropologist e traduziado para o português em 2012, foi feito por Lila Abu-Lughod, uma antropóloga que atua como professora de Ciências Sociais no Departamento de Antropologia da Universidade de Columbia em Nova Iorque. Ela se formou em 1974 no Carleton College e alcançou seu doutorado dez anos depois, em 1984, na Universidade de Harvard. Abu-Lughod possui experiência em pesquisas etnográficas no Egito e foca nas interseções envolvendo cultura e poder, assim como gênero e direitos das mulheres no assim chamado Oriente Médio. É relevante mencionar que esse artigo que será analisado abaixo, de 2002, serviu de alicerce para a escrita do seu livro de mesmo título que veio à tona em 2013, aprofundando os debates realizados nesse instigante texto anterior, manifestando que essa produção influenciou bastante a ótica dessa pensadora.

Investigando a ética da “Guerra ao Terrorismo”, a antropóloga supracitada, por meio de conhecimentos da antropologia, critica as justificações efetivadas sobre a intervenção no Afeganistão referentes ao ato de liberar ou salvar as mulheres afegãs, que precisariam desse auxílio de outros povos do mundo. A autora levanta uma discussão sobre cultura, uso do véu e como se pode transitar pela área incerta da dissimilitude cultural, e nota que os símbolos femininos das mulheres muçulmanas em geral, e das afegãs mais especificamente, foram mobilizados nessa “Guerra ao Terrorismo” de uma maneira que eles não foram em outros conflitos. Lila Abu-Lughod joga luz para o preciso desenvolvimento de uma ponderada avaliação das divergências entre as mulheres das mais plurais regiões territoriais do globo, chamando atenção para as particularidades históricas dos incontáveis contextos vivenciados pela humanidade no decorrer das suas caminhadas históricas. Ela argumenta que a busca por “salvar” outros está ligada a uma superioridade implicada por tal desejo, sem contar com a violência que isso geraria.

A necessidade de suspeitar quando ícones culturais são fixados sobre narrativas históricas e políticas desalinhadas é ressalvada por Lila. Além disso, essa antropóloga sustenta que os seres humanos devem permanecer atentos quando tropas militares, detrás de diferentes lideranças, conclamam estar salvando ou libertando mulheres muçulmanas.

Quanto à vestimenta das mulheres cobertas, cujo artigo em análise reserva grande espaço do seu corpo para edificar e problematizar essa temática, Abu-Lughod declara que é fundamental um olhar mais sensível. Os indivíduos, na realidade, vestem o modelo de roupa apropriado para as suas comunidades sociais e são orientados por padrões sociais compartilhados, crenças religiosas e pensamentos morais, a não ser que subvertam intencionalmente para sustentar alguma perspectiva de mundo ou não consigam efetuar o pagamento solicitado para uma cobertura apropriada. Existem incontáveis formas de cobertura, que variam muito dependendo de qual comunidade humana está sendo observada, e elas detêm inclusive distintos significados nas comunidades nas quais elas são utilizadas, além de o próprio emprego do véu não representar um padrão para a ausência de agência. O véu não é a quinta-essência dos sinais da inexistência de liberdade das mulheres, e Lila argumenta que muito provavelmente seria mais benéfico a desistência da obsessão estadunidense com o véu e buscar focar em outros assuntos mais sérios que as feministas deveriam estar mais atentas.

Abu-Lughod crítica o que chama de passividade anunciada pelo relativismo cultural muito conhecido nos antropólogos e sugere que demandemos olhar de bem próximo o que apoiamos e refletir acuradamente sobre as motivações que levaram a isso. O reconhecimento e o respeito da possibilidade de diferença são defendidos como essenciais, e essa distinção é enxergada como produto dos divergentes contextos históricos. Polarizações que reservam o feminismo ao lado do Ocidente são vistas como armadilhas nocivas, as quais precisam ser desviadas, para se ter uma análise mais aberta do feminismo e de suas potencialidades.

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