ANÁLISE DAS COERÊNCIAS E CONTRADIÇÕES DA NARRATIVA HISTÓRICA DA OBRA CINEMATOGRÁFICA “1942 A CONQUISTA DO PARAÍSO”.
Por: Ronildo Brites • 13/11/2021 • Artigo • 1.435 Palavras (6 Páginas) • 201 Visualizações
ANÁLISE DAS COERÊNCIAS E CONTRADIÇÕES DA NARRATIVA HISTÓRICA DA OBRA CINEMATOGRÁFICA “1942 A CONQUISTA DO PARAÍSO”.
Ronildo da Silva Brites
A obra “1492, A conquista do paraíso” , que tenta descrever o caminho percorrido por Cristóvão Colombo para a descoberta de um caminho que o levasse até as Índias, sem seguir o caminho habitual, discute os interesses envolvidos pelo reino de Castela em tal empreendimento.
No filme podemos encontrar contradições e coerências em relação à historiografia este deste período e desta história da conquista do “Novo Mundo” descrita por Colombo.
Se pensarmos, a princípio, na expressão “novo mundo”, já perceberemos que historiograficamente, pode não ter sido uma expressão cunhada pelo navegador. Ela é cunhada posteriormente pelo padre Italiano Pedro Mártir que se propôs a divulgar a façanha dos espanhóis no descobrimento destas novas terras. A descrição de Mártir sobre as novas terras não tem o mesmo teor apaixonado de Colombo, demonstrado no filme, mas é uma descrição que destoa dos conceitos sobre a nova terra descoberta por Colombo.
A expressão "Novo Mundo" surgiu junto com a conquista das terras da América pelos europeus. Foi usada pela primeira vez em 1493 pelo padre italiano Pedro Mártir, um dos mais importantes divulgadores europeus das atividades de descobrimento e conquista das Américas. O humanista Mártir nunca pisou nas Américas e não possuía, portanto, uma vivência empírica do que relatava. Mas viveu na corte de Castela, onde manteve contato estreito com navegadores que voltavam e contavam os detalhes das terras recém-descobertas. [...] Sem preocupação espiritual marcante nesses escritos, Mártir demonstrava uma flexibilidade para superar as ideias preconcebidas sobre as terras de além-mar. Rejeitava assim a ideia do navegador Cristóvão Colombo, que acreditara ter chegado às Índias, ou à ilha das areias de ouro.
O “novo mundo” dos europeus é, na perspectiva dos habitantes das terras recém-descobertas, cheio de novidades. Essas novidades, entretanto, não são agradáveis, ou com uma perspectiva de conquistas, como é para os europeus. O sentimento de serem os instrumentos de Deus para a salvação dos povos das novas terras, vivido por parte dos conquistadores, o que demonstra a coerência do filme com a história, produz nos conquistados marcas de violência, trabalho escravo e destruição de cultura.
Por não encontrar o metal precioso tão sonhado, os “índios” são obrigados a buscar o ouro e pagar tributos aos espanhóis. É emblemática a cena onde o nativo, afirmando que não conseguira encontrar outro, tem sua mão decepada.
Desta forma, aqueles que se consideram como civilizados, salvos, portadores do evangelho da salvação, se comportam como bestas feras, que, não tendo sua necessidade suprida, agem de forma covarde contra aqueles que diziam serem os pagãos.
Para os nativos, convertidos em índios pelos conquistadores, a chegada dos europeus também criou um Novo Mundo, marcado pela brutal queda demográfica, pela evangelização que marginalizava violentamente as culturas nativas e pela transformação radical, quase sempre, de antigos modos de vida e de trabalho.
Os conquistadores, com sua atitude destrutiva do povo, da fé e da cultura, acabam gerando neste povo, se não por desejo, mas por necessidade, uma postura de assimilar algumas realidades do conquistador europeu. A obra cinematográfica mostra que há nativos que tiveram que aprender o idioma dos espanhóis, ao passo que estes não se preocuparam em aprender o idioma daqueles. Este fato reflete uma coerência histórica.
Além disso, passaram a praticar suas devoções de forma oculta e alterar o número de membros de sua população, a fim de não satisfazerem as exigências em relação à mão de obra exigida pelos espanhóis. Dessas adaptações, somente a questão do idioma é demonstrada na obra cinematográfica.
[...] em meio a toda destruição material e cultural, os índios tiveram que realizar uma readaptação completa de suas antigas práticas: realizaram antigos cultos em segredo, aprenderam mecanismos jurídicos dos espanhóis para defender as terras de suas aldeias, alteraram cálculos de população de suas comunidades para driblar as exigências de braços para o trabalho por parte dos espanhóis. Antigos chefes do mundo indígena, por sua vez, aprenderam o idioma do conquistador e aderiram à nova ordem política para preservar alguns de seus antigos privilégios. O Novo Mundo dos índios foi um mundo de violência extrema e aniquilação, mas também de mestiçagens e de adaptações frente aos imperativos da conquista.
A descrição dos nativos da terra é outro fator importante, sendo também uma incoerência. Ávido por encontrar um novo caminho para as Índias, ao se deparar com os primeiros seres humanos após sua partida da Europa, estes recebem, por parte dos europeus a denominação de Índios, não havendo, entretanto, nenhuma descrição entre estes habitantes da nova terra descoberta.
O termo índio é fruto de um equívoco geográfico e de uma visão europeia generalizante sobre o complexo mundo dos nativos americanos. O equívoco geográfico deveu-se aos europeus terem imaginado, inicialmente, que haviam chegado às Índias Orientais, objetivo original das navegações dos espanhóis no final do século XV. E, ao chamarem os habitantes do continente de índios, os estrangeiros expressavam também uma visão generalizante, pois deixava de lado a enorme variedade e complexidade dos povos nativos.
Há uma questão que deve ser vista com outro olhar, e que no filme é mostrado como normalmente
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