EDUCAÇÃO NA GRÉCIA CLÁSSICA E SUAS INFLUÊNCIAS NO SÉCULO XXI.
Por: Adriana Cavalcanti • 12/10/2016 • Trabalho acadêmico • 1.340 Palavras (6 Páginas) • 251 Visualizações
Os primeiros períodos da Antiguidade, marcados pela reestruturação da atividade econômica, tiveram a Grécia como grande referência. Instituída através dos povos helenos - onde antes era mais proeminente o sistema de divisão técnica de trabalho -, agora surgia com uma nova face, em que o poder era posto hierarquicamente através da divisão social de trabalho. Diante disso, o serventia escrava e o domínio patriarcal passaram a ser institucionalizados na Grécia Clássica. Esta que ainda não era formada por uma unidade política, era composta por cidades-estado, que se tornavam uno através das similitudes de seus povos devido a linguagem, religião, instituições sociais e políticas. A aristocracia grega estava formada e somente os homens livres[1] tinham direito e poder nas tomadas de decisões políticas e na transmissão de valores sociais. A educação também passou a funcionar como instrumento de socialização para o poder. Se antes o aprendizado se dava no núcleo familiar ou pelos poetas, e tinha como conteúdo os ensinamento dos mitos para a formação do conhecimento sobre os deuses, valores, língua e costumes, com a surgimento dos sofistas e do pensamento filosófico, a educação se volta para a formação do homem social, hierarquizado, rompendo quase que totalmente com a abordagem teocrática. O surgimento da democracia, a institucionalização da educação e o pensamento racional do ser sobre si também foram aspectos introduzidos indiretamente pela sociedade grega na cultura ocidental.
As diferentes cidades que compunham o que viria ser a Grécia se uniam momentaneamente, por vezes em favor de uma guerra. Foram tempos bem conflituosos e os intercâmbios constantes feitos nesses momentos facilitaram a criação de uma religiosidade, de uma língua e alfabeto, e de costumes civilizatórios em comum. Em um certo ponto, essas trocas resultaram em um mesmo formato mitopoiético no processo de socialização. As pólis gregas - que eram instrumentos políticos de troca, argumentação, manifestação e formação da consciência de cidadania - atuavam de acordo com os padrões políticos de cada lugar. A partir da noção de comunidade, a pólis nasce da junção dos ensinamentos que eram passados no interior das famílias nucleares, trazendo desses espaços a organização patriarcal de opressão e poder, mas também o olhar que agora valorizava a formação do ser para a convivência em conjunto. O espaço da pólis servia como uma “comunidade pedagógica”, na formação de homens para a guerra, integração social e reflexões acerca de valores e acontecimentos. Os instrumentos utilizados nessa educação da sociedade por ela própria era o teatro, com a tragédia e a comédia, em que eram retratados mitos, os quais tornavam legítimos as vivências do cotidiano, a estética do corpo e os papéis em que cada ser deveria atuar.
Duas cidades foram de grande importância na construção da Grécia Clássica, tanto a título político, como quanto aos costumes e à educação. Esparta, que tinha como estrutura política o totalitarismo, e presava pela formação física e militar de seu povo, admitia que o ensino da leitura e da escrita não tinham tanta importância, dessas habilidades só se deveria saber o essencial. Com a supremacia de Atenas na Grécia, o formato democrático proposto pela classe em ascendência - a qual buscava adquirir igual poder das classes dominantes - fez com que o modelo de educação popular tomasse força, e dessa forma ela assumiu papel chave de universalização dos saberes. Era necessário que todos os cidadãos livres pudessem alcançar o conhecimento, para que assim houvesse uma hierarquização social pelo aprendizado da oratória, da filosofia e da literatura. Aos escravos restava o aprendizado técnico e mecânico, vistos como inferiores. As mulheres também recebiam o direito de estudar, tornando a sociedade ateniense culta, preocupada com o desenvolvimento físico/estético e capaz de desenvolver o olhar sobre si mesma.
Nesse momento, surgem os sofistas, mestres da retórica que sistematizaram o ensino e compuseram as técnicas do discurso, ao mesmo tempo que romperam com o aprendizado teocrático, voltando-se ao saber científico. A existência desse novo formato foi de encontro aos princípios seguido pelo processo de socialização aristocrático-religioso, universalizando o conhecimento e tornando o ser como foco. A Filosofia nasce também como instrumento de aprendizado da oratória e da retórica, para a formação hierarquizada de governantes, guerreiros e produtores. Para esses últimos restavam o aprendizado para o trabalho. Já para os guerreiros eram destinados os saber da coragem e da força, enquanto para os governantes-filósofos eram adicionados também os prazeres do ócio, o pensar sobre si e sobre a sociedade, a dialética, a música e a literatura. O espaço utilizados para a disseminação desses saberes chamava-se paidéia, uma espécie de “Centro Teórico da Elaboração Pedagógica da Antiguidade”, onde acontecia um constante amadurecimento de si próprio através de reflexões, universalização do diálogo, formação do pensamento crítico e desenvolvimento físico. Eram estudos de cunho intelectualista e que tinham grande valor na época, diferente daquele que era dado aos paidagogos. Estes últimos eram os escravos que acompanhavam os aprendizes quando estavam adquirindo a habilidade de ler e escrever. Aqueles que trabalhavam na escola do alfabeto não tinham tanta importância, pois acreditava-se que a escrita e a leitura não tinham tanto valor quanto a memorização dos saberes construídos pela reflexão constante e intelectualista.
...