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Forças indígenas, uma contribuição negada

Por:   •  12/6/2015  •  Trabalho acadêmico  •  1.088 Palavras (5 Páginas)  •  106 Visualizações

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Forças Indígenas: Uma contribuição negada

Eduardo Alves da Cruz

Acadêmico de História - UFRRJ

Enquanto fazia suas viagens, entre 1519 e 1526, Cortez escreveu de diversas cidades da Nova Espanha, cinco cartas destinadas à coroa espanhola e nelas registrou, dentre outras coisas, suas primeiras impressões a respeito da nova terra e dos nativos, além de registrar sua conduta durante as várias batalhas travadas. De modo geral, essas cartas relatavam detalhes do cotidiano do conquistador e de seus soldados na terra “recém-descoberta”, tais como conflitos, vitórias e derrotas e procuravam justificar o empreendimento do conquistador.

Com base nas cartas de Hernan Cortez [1], pretende-se, nesse trabalho, colaborar para a desconstrução de visões historiográficas, sobre o processo de conquista do México, que veem ou tendem a ver o indígena americano apenas como ator coadjuvante pronto a entregar as terras, de boa vontade, sem luta e com grande pacificidade, aos espanhóis.

        É importante fazer novas interpretações a respeito das cartas de Cortez, dando maior destaque à ação dos indígenas. Na fonte, podemos destacar trechos em que essas ações são de grande importância para as conquistas espanholas. Podemos afirmar que o processo de conquista não se deu única e exclusivamente pela ação dos espanhóis, pelo contrário, teve importantes participações dos nativos. Dessa forma, o que se busca destacar também nesta pesquisa é o importante, e complementar, papel e a contribuição dos índios, vistos por muitos, e semelhantemente aos índios brasileiros, apenas como “atores coadjuvantes agindo sempre em função dos interesses alheios” [2], para o processo de conquista.

Tomando como referência Frederico Navarrete Linares,[3] afirma-se que a conquista se desenvolveu não só pelas ações dos espanhóis, mas também pelas atividades dos próprios indígenas, como podemos observar na citação a seguir:

Neste desbaratamento em que nos envolvemos, os inimigos mataram trinta e cinco ou quarenta espanhóis, mais de mil índios nossos amigos e feriram mais de vinte cristãos, inclusive eu que saí ferido em uma perna. Também perdeu-se o tiro pequeno de campo que havíamos levado e muitas balistas, escopetas e outras armas. Todos os espanhóis que pegaram, vivos ou mortos, levaram para Tatebulco, que é o mercado. Ali os penduraram desnudos, abriram o peito e arrancaram o coração que ofereceram a seus ídolos. Os de Pedro de Alvarado puderam ver bem de perto o sacrifício dos corpos desnudos e brancos dos cristãos, tendo mergulhado em grande tristeza e desânimo e se retraído ao seu acampamento real, apesar de terem lutado muito bem aquele dia e quase conquistado o mercado, só não o conseguindo por vontade de Deus, que nos quis castigar por nossos pecados [4].

Com base nessa citação, destaca-se que, além do fato dos espanhóis não terem sido os únicos atores de todo o processo, a relação dos indígenas com o conquistador Hernan Cortez pode ser vista como uma relação complementar, onde a indiaria contribui ativamente para as conquistas de Cortez.

Para dar ainda mais ênfase no que antes foi exposto, podemos nos basear na escritora Júlia Priolli,[5] que ao se apoderar do acontecimento narrado por Cortez na segunda carta, enfatiza a participação dos tlaxcaltecas como apoiadores dos espanhóis:

[...] após perderem a guerra que se desenrolou na chamada Noite Triste, em 30 de junho de 1520, foram pólvoras contra lanças de obsidiana, canhões contra flechas. Os astecas teriam vencido, não fossem as forças tlaxcaltecas que vieram em socorro aos estrangeiros [6].

Mais uma vez os nativos tem papel fundamental para conquistas dos estrangeiros, pois segundo a autora e os próprios relatos de Cortez, na Segunda Carta, se não fosse a ajuda prestada pelas forças tlaxcaltecas, os espanhóis teriam perdido a batalha.

Mesmo com ajudas constantes por parte dos indígenas, Cortez não os via como atores ativos no processo de conquistas espanholas, mas como “participantes inexpressivos que apenas reagiam a estímulos externos” [7]. Em seu discurso, o conquistador prefere exaltar a superioridade bélica e religiosa dos espanhóis sobre a dos indígenas, colocando sua própria cultura como a certa, a aceitar os nativos como agentes ativos e transformadores nas conquistas espanholas. Navarrete Linares, sobre essa tentativa de superioridade espanhola, diz que os indígenas não compartilhavam do mesmo pensamento, pois “[...] los indígenas buscaban, de una manera u otra, reducir el impacto de la conquista española y demostrar la continuidad de su cultura por encima de ella[8]. Assim, Navarrete demonstra uma abordagem diferente na historiografia sobre a conquista, onde os indígenas não aparentam serem tão receptivos as crenças, pensamentos e costumes espanhóis.

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