Hans Staden - Resenha do livro
Por: 2117033 • 8/4/2016 • Resenha • 1.059 Palavras (5 Páginas) • 1.173 Visualizações
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Universidade Federal de Sergipe
Centro de Educação e Ciências Humanas-CECH
Departamento de História
História das Américas I
Luiz Eduardo Pina
Rafael Júlio Santos Rodrigues
Resenha do livro:
Hans Staden: Duas Viagens ao Brasil.
São Cristóvão, Novembro de 2015.
STADEN, Hans, ca. 1524- ca. 1576. Duas Viagens ao Brasil: Primeiros registros sobre o Brasil/ Hans Staden; [Tradução Angel Bojadsen; Introdução de Eduardo Bueno]. - Porto Alegre, RS: L & PM, 2010.
A obra aqui analisada teve seu lançamento em Marburgo, Alemanha, em 1557 e se trata do relato verídico do aventureiro e mercenário Hans Staden em sua estadia no Brasil entre os anos de 1548 e 1555, onde pode-se ler sobre o período de nove meses onde permaneceu em posse dos índios Tupinambás. Durante a obra são apresentadas diversas xilogravuras e impressões sobre os costumes dos nativos do litoral do país.
“Está tudo aqui. Ação, aventura e história, conjugadas como sempre deveriam estar. Antropologia e antropofagia; sangue e pólvora. Cenários luxuriantes, conflitos tribais, expansão colonial, guerreiros emplumados, piratas franceses, fé e ceticismo; desamparo e esperança; lealdade e perfídia. Tudo narrado pela ótica de um homem comum, um forasteiro – um estrangeiro em um mundo estranho.” (BUENO, Eduardo. p.8)
O recorte acima chama à atenção, no sentido em que não se deve falhar a memória durante a leitura de que toda a obra é a visão do colonizador sobre os nativos do Brasil. É inerente ao homem usar a sua cultura como um padrão para julgar as outras, desta forma, o Hans Staden traz ao leitor suas impressões de um homem que vivia em uma sociedade muito diferente e com diversas outras significações. O homem cristão inserido repentinamente na sociedade indígena ao ser confundido com o português, inimigo dos Tupinambá, onde foi pretendido devorá-lo em um ritual antropofágico, mas não sem que antes ele passasse por um processo de aculturação. O índio não mata alguém mais fraco, isto é feito apenas com um guerreiro igual a ele, Hans Staden deveria mostrar seu valor como guerreiro, aprendendo os costumes dos Tupinambás, para não morrer como um indigno. Este ritual, para os nativos, está repleto de significações de honra, onde comer a carne do guerreiro inimigo que feriu seus companheiros é como uma vingança que na sociedade do “homem branco” poderia ser entendida como justa.
O medo de ser devorado está presente na narração durante boa parte da obra e termos como cruéis, e sobretudo o selvagem. Entretanto é necessário salientar algumas particularidades a respeito dos nativos, como o fato de que estas sociedades têm seus próprios costumes e significações, que mudam de sociedade para sociedade, diferente do que muitos acreditam erroneamente, as sociedades indígenas não são homogeneizadas, tem línguas e costumes diferentes entre si, embora existam similaridades. Hans Staden cita alguns diferentes grupos indígenas, como os Tupiniquins, Maracajás, Guainás e Carajás. Outra característica indígena notável é a ausência de desigualdades sociais, a pobreza só existe na mesma medida em que há a riqueza como contraste, o que não existe nas sociedades indígenas. Uma noção de reciprocidade está sempre presente e é evidenciada pelo alemão capturado, ao dizer que aquele que tem de mais sempre partilha com aquele que tem de menos, assim como também a cultura de troca, o valor da troca simbólica, que fica evidente principalmente na relação entre os europeus e nativos. A falta de um governo centralizado também é outra característica indígena, não há um palácio central, os líderes não possuem poderes coercitivos e está sempre presente o respeito aos mais velhos. Todas essas particularidades foram fixadas através do tempo nas sociedades nativas e leva-se longos períodos até que mudem, pois a dinâmica cultural do índio é mais lenta.
Há duas outras características muito importantes a serem tratadas. Não existe nas sociedades indígenas os donos do meio de produção, o conhecimento de como realizar uma atividade ou a produção de um objeto é partilhada por todos, entretanto, é preciso ressaltar a figura do pajé, a qual este é conferido do conhecimento único da ligação com o mundo espiritual, onde notadamente se observa que a religiosidade está presente em todos os aspectos nas sociedades nativas, uma coletividade totalizada, mesmo quando o índio sai para caçar a religiosidade esta ali inserida. Percebendo isso, Hans Staden se utiliza da crença e da significação indígena a seu favor, tal qual, Jake Sully, o protagonista do filme Avatar faz ao montar o Toruk, onde ele gradativamente ressignifica a sua própria imagem em meio aos Tupinambás através de uma série de eventos, sejam coincidências ou providencias, como índios adoecendo que causa no nativo temor pelo Deus do europeu que estava se vingando deles por quererem devorar Hans Staden acaba por se transformar em uma espécie de pajé. No filme Avatar o protagonista muda sua significação não somente para um igual entre o povo Na’vi, mas também para um grande guerreiro que conseguiu montar o espírito indomável, Toruk e Hans Staden muda sua significação para o homem do mundo espiritual que está sobre a proteção de um Deus forte e vingativo. Se comparado com os acontecimentos do filme Como era gostoso o meu francês, esse é possivelmente a maior diferença entre os personagens. Onde o capturado apenas seguiu todo o processo de aculturação até o momento de ser feito o ritual, envolto de muitos cantos e danças, até ser finalmente devorado, mas o alemão, Hans Staden, percebe os aspectos determinantes da religiosidade indígena e consegue, com uma dose de sorte ou providencia, revertê-los em seu favor.
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