MÚSICA E RESISTÊNCIA: CONSIDERAÇÕES SOBRE A HISTÓRIA DO SAMBA NO BRASIL
Por: William Kleyton • 8/4/2018 • Trabalho acadêmico • 2.700 Palavras (11 Páginas) • 738 Visualizações
CENTRO UNIVERSITÁRIO BARÃO DE MAUÁ
MÚSICA E RESISTÊNCIA: CONSIDERAÇÕES SOBRE A HISTÓRIA DO SAMBA NO BRASIL
WILLIAM KLEYTON COSTA
WALDEMAR JOSÉ VEIGA NETO
HISTÓRIA
RIBEIRÃO PRETO – SP
2016
[pic 1]
Trabalho orientado pelo Prof. Ms. Ricardo Morais Scatena, ministrado na disciplina de História da Arte pelo Centro Universitário Barão de Mauá.
- O conceito “Indústria Cultural”: considerações iniciais
Theodor W. Adorno foi um importante filósofo da escola de Frankfurt que se preocupava com a arte, por entender ser ela responsável por mostrar ao homem o “belo”, o “natural”, e o “reino da liberdade”. Em uma de suas principais críticas, sendo esta, sua aversão a indústria cultural, juntamente a Horkheimer, acreditava que este processo de massificação da arte a fazia perder sentido e sua beleza, tornando-a produtos de bens que deveriam ser consumidos, sem a preocupação de entender as individualidades artísticas. Segundo Fernando Danner: “A indústria cultural, em última instância, acabou por falsificar uma concepção de homem capaz de determinar-se por si mesmo como ser vivente, transformando-o num simples meio para a obtenção de riquezas”.[1]
Na visão de Adorno, a indústria cultural de massas, está, diretamente, relacionado ao atendimento das necessidades do sistema capitalista, uma vez que neste sistema, o foco perpassa a venda produtos e a massificação do povo, tão pouco importa se a arte irá atender as necessidades íntimas das pessoas. O filósofo acreditava, que se tornava necessário um esclarecimento pela razão, possibilitando assim, que a população pudesse entender que a indústria cultural se relacionava com o propósito de massificar, ou seja, em generalizar uma cultura padrão. Segundo Adorno e Horkheimer, o esclarecimento, portanto, permitiria que a população não se alienasse:
Na modernidade, apenas o conhecimento das coisa não é suficiente, é preciso dominá-la, de modo que, neste período, somente se conhece a coisa dominando-a. Adorno e Horkheimer demonstram que, através do esclarecimento, tudo deve ser dominado, de modo que seria possível a partir deste, livrar o homem do medo e da alienação [...].[2]
O filósofo, sempre apoia a sua tese, como principal agente desta massificação da arte – o sistema capitalista, uma vez que este sugere através do cansaço gerado pelas longas jornadas de trabalho, a indústria cultural, acabava atendendo suas necessidades de satisfação momentânea, como por exemplo, no cinema pouco se preocupavam em mostrar filmes com história do cotidiano dos trabalhadores, ou roteiros pautados nos problemas sociais, mas sim mostrar um mundo idealizado e desejado por esta população. Assemelhando esta necessidade do trabalhador ao mito de Narciso, dizendo que o trabalhador vê em seu “espelho” - o cinema, a música, espetáculos – um mundo dito “belo”. Novamente nas palavras de Fernando Darnner:
Aquilo de que as pessoas carecem, devido ao cansaço gerado pelo trabalho no capitalismo, é o reforço de sua própria identidade, a satisfação de ter um eu engrandecido, forte, valorizado. Os indivíduos do capitalismo contemporâneo precisam, ao modo de Narciso, de um espelho em que possam recobrar o amor e o reconhecimento por sua própria imagem, tão comprometido pelo esforço de continuar a gerar valores financeiros. É por isso que Adorno afirma que a cultura de massa como um todo é narcisista, pois ela vende a seus consumidores a satisfação manipulada de se sentirem representados, por exemplo, nas telas do cinema e da televisão, nas músicas e nos vários espetáculos.[3]
Por fim, para Adorno a arte representa um instrumento que leva o homem a um caminho racional, sendo assim, equivocado adotar uma indústria cultural, ou seja, em outras palavras, a arte não deve ser tratada enquanto um simples “produto de consumo”, mas, como um importante instrumento da razão. Visto que, na visão do filósofo, através desta “não massificação da cultura”, todas a pessoas irão conseguir atingir uma satisfação plena, e não uma satisfação passageira, como a qual é produzida pela indústria cultural.
- Samba e Resistência: as influências da sociedade na produção musical
Extasiados pela modernização parisiense do século XIX, grandes centros urbanos ao longo de todo o mundo, inspiraram-se nas obras realizadas pelo então prefeito da capital francesas Georges E. Haussmann. Várias cidades brasileiras inseriram-se neste processo modernizador, imitando Paris em seu empreendedorismo urbanizador, progressista e moderno, em especial, São Paulo, Rio de Janeiro e até mesmo Ribeirão Preto. De acordo com Maria Fernanda Müller, este processo modernizador (do Rio de Janeiro especificamente) deu-se da seguinte maneira:
As ideias de progresso e modernidade permeavam a mentalidade das elites do Rio de Janeiro graças ao advento republicano e às influências do pensamento científico e positivista europeus, de progresso, higiene e civilização. Progresso e civilização eram conceitos que complementavam-se, e acreditava-se que o progresso material garantiria a civilização dentro do molde capitalista-industrial europeu.[4]
Imbuídas dos ideais de progresso e modernização, as elites locais, principais detentoras do grande capital e, é claro, principais influenciadoras do poder público administrativo dos centros urbanos, tomaram como princípio norteador modernizar suas cidades. A maneira como este fenômeno ocorreu, de fato, é muito semelhante ao longo de todo mundo, em especial, por serem influenciados pelas transformações urbanas de Paris. O processo modernizador/urbanístico consistia na reconstrução do centro da cidade em detrimento as demais áreas, ou seja, a elite local empenhava-se em “livrar” o centro de todas as mazelas, sendo elas: os pobres; os negros; os mendigos; as vielas; os becos; o lixo; os cortiços e demais estabelecimentos (tidos como antiquados), enfim, uma série de fatores que já não mais condiziam com os “tempos da modernidade”, pelo qual perpassavam os grandes centros urbanos. O professor Fransérgio Follis nos contribui com a seguinte citação sobre a modernização do Rio de Janeiro:
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