O CONTINENTE AFRICANO: DESAFIOS E PERSPECTIVAS
Por: Ivanildo Sachinski • 17/2/2016 • Ensaio • 2.869 Palavras (12 Páginas) • 1.670 Visualizações
O CONTINENTE AFRICANO: DESAFIOS E PERSPECTIVAS
RESUMO: O Continente Africano é entendido em diversos momentos como uma estrutura política única, sem costumes ou hábitos, qual justificaria consequentemente o processo de escravidão a partir dos olhos eurocêntricos. Dentro do território africano se percebe uma serie de elementos que se unem e se congregam na formação de uma estrutura formativa que emprega uma quantidade imensa de interações e construções políticas, religiosas e culturais. As estruturas africanas se fundem de tal forma em uma organização que mesmo em ambientes externos, mesmo que estes fossem de escravidão.
PALAVRAS-CHAVE: Diversidade; escravidão; manutenção
A sociedade contemporânea tem levantado discussões em torno das varias possibilidades de apropriação de culturas e dinâmicas direcionadas e organizadas em torno de políticas afirmativas impregnadas e discutidas a partir de uma concepção de exploração e espoliação de possibilidades de concorrência em real igualdade as classes até então dominadoras. A analise da possibilidade de inserção dessas classes encontra pontos de extrema saliência, sendo uma das mais relevantes para a sociedade brasileira a centrada nos afetados pelos mais de 300 anos de escravidão.
A História do Brasil e a História da África passam indiscutivelmente pelas possibilidades e dinâmicas relacionadas ao contexto escravista implantado através do regime mercantilista europeu. Estudar a possibilidade de inserção do negro e do descendente negro na sociedade é remeter a uma discussão muito mais profunda do que a simples opinião favorável ou não. As possibilidades levantadas pelos inúmeros estudos que focalizam essa problemática a partir dos diversos prismas nos colocam numa posição de investigação e confrontação de conceitos.
Dentro dessas possibilidades levantadas procuramos estruturar nossa discussão em três pontos básicos, primeiramente analisando as características primárias do continente africano e suas relações com o resto do mundo, passando ao levantamento de possibilidades de analise em torno das dinâmicas sociais e de justificação do contexto escravista, culminando com os processos de assimilação e preservação dos costumes africanos em contato com as novas formas, principalmente dentro do território americano.
Analisamos a África enquanto um continente formado por uma serie de povos que foram expurgados com extrema violência, centenas de milhares de pessoas usadas como mão-de-obra compulsória nos campos de exploração colonial, principalmente no contexto colonizador americano, e que nos é apresentado em diversos momentos como uma terra inóspita, com savanas enormes, florestas intransponíveis, populações tribais que não possuem nenhuma forma de organização considerada para o mundo ocidental como aceitável.
Contrariando essa perspectiva nossa discussão parte da analise dos elementos culturalmente formada em nossa sociedade, observando o Continente Africano como um emaranhado de relações que culminam numa organização complexa, formada a partir de relações internas e externas de reinos políticos, de formulações ideológicas e religiosas que não permitem analises simplistas e limitadas. O texto “África: Unidade e Diversidade” apresenta uma serie de elementos que nos possibilitam uma visão considerável do mundo africano desde a sua gênese até os momentos de contato maior com o exterior colonizador.
O surgimento do homem no contexto da África a formaliza como o berço da humanidade, visto que dentro de seu território aconteceram a organização necessária para que o processo de evolução humana acontecesse, desde o Australopithecus até o Sapiens Sapiens e que dentro das articulações e da necessidade proporcional gerou condições para que acontecesse o surgimento e o desenvolvimento de civilizações organizadas e estruturadas. Os fatores ambientais levaram os primeiros humanos a realizarem um deslocamento dentro do território de origem e a outros, como Ásia, Europa e América, originando novas fontes civilizacionais.
Dentro destes ambientes os humanos se constituíram em novas formas, se organizando nas questões políticas, econômicas e sociais, como podemos comprovar com a origem das diversas civilizações da Antiguidade. O autor do texto citado apresenta a perspectiva desses grupos não terem a denominação especifica que os identificasse como a conhecemos, a partir de seus continentes, como os asiáticos, os africanos, os americanos, somente passando a ter seus respectivos nomes a partir da chegada do europeu que no papel de conquistador se intitulam como tal, onde mesmo os europeus se convenceram que o eram e como se chamavam no contato com os demais povos.
O Continente Africano estrutura-se de uma forma complexa, desenvolvendo um sistema de ajuntamentos e experiências dentro de uma construção muita mais complicada do que a imagem construída pelo colonizador ocidental. Um dos exemplos mais fortes é o caso ligado internamente à existência de trocas entre as inúmeras civilizações que formavam e permeavam os vários espaços. Esse processo na sua gênese era realizado em pequena escala pela reduzida quantidade de excedentes e pelas dificuldades de transporte. O que não se pode desprezar é a importância do fortalecimento dessa estrutura comerciais e da fortificação de intensas rotas comerciais que passaram a ligar pontos específicos do continente num comércio onde, diferentemente dos conceitos ocidentalizados europeu, para o autor do texto “África: Unidade e Diversidade” existiam fortes sentimentos de solidariedade e consciência coletiva das comunidades.
Com o aumento das demandas os contatos entre os diversos povos foram se integrando num horizonte geográfico em rotas que com o passar do tempo se tornaram grande fonte de rendimentos e consequentemente foram aos poucos se tornando objeto de disputa entre os Estados, inclusive com o assenhoreamento de fluxos e de circuitos espaciais, aprimorando um contato muito próximo com o Oceano Pacifico, deixando de lado todas as teorias que discutiam e apresentavam o continente como algo fechado, sem contato com o exterior. Na mesma dinâmica encontramos uma estrutura muito sólida que explorava a passagem do Deserto do Saara, diferentemente dos europeus, o tendo como possibilidade e realidade de conquista de riquezas.
Para o autor de África: Unidade e Diversidade o que não se pode negar que dentro do continente africano existiam diferenças incalculáveis, como grupos majoritários, grupos linguísticos, religiões, que poderiam interagir ou disputar espaço através de conflitos. A imagem traçada pela influencia com o exterior pode ser constada com o grande contato com os povos de descendência árabes, onde, mesmo com estes tendo uma influencia grande nos países africanos eles não eram unanimidade, pois sempre existiram grupos que procuravam preservar mais suas raízes, mantendo sua estrutura básica nas questões políticas e principalmente religiosas, que para Márcia Amantino em seu artigo “Caxambu, Cateretê e Feitiçarias entre os escravos do Rio de Janeiro e Minas Gerais no século XIX” permanece constantemente representadas nas reações e representações dentro dos ambientes escravistas que se constituíam mesmo fora dos ambientes africanos.
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