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O Georg Duby Festas e Utopias

Por:   •  5/11/2016  •  Resenha  •  2.232 Palavras (9 Páginas)  •  476 Visualizações

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Referência: DUBY, George. História da vida privada. 2: da Europa feudal à renascença. São Paulo: companhia das letras, 1990.

Aluno: Ivan Máximo Casseb De Lima Filho – Lhn04

Disciplina: A Construção Da Modernidade

Professora: Maria Martins

A EMERGÊNCIA DO INDIVÍDUO

(Georges Duby)

  1. As pessoas eram muito próximas no período feudal, se tinha um segredo, era um segredo coletivo, pessoas entrelaçadas pelos laços de família e fraternidade o espaço privado encontrava-se em uma área em torno do lar e em um espaço público. no caso dos jovens de origem aristocrata, que saiam de suas casas com 7 anos, e eram inseridos ou nas escolas com o intuito de servir a Deus ou sobre a tutela de um patrono que o ligaria ao caminho das armas e das batalhas.
  2. No período feudal, vagar sozinho era sinônimo de loucura para o dito popular, pessoas que viviam isoladas, ou eram ligada ao ato criminoso, malicioso de morar no desconhecido, nas floresta, ou possuía um olhar heróico dos demais e da sua família, assim que chegasse da sua aventura sobre o misterioso, ganhando então o seu respeito como ser.
  3. As transformações do privado também esta relacionado no século XII aos requisitos da autobiografia, seguindo os modelos da antiguidade valorizando a perfeição, o homem e também a autonomia do casamento, sendo da vontade mutua de duas pessoas e dos agregados.
  4. As consequências dessas transformações estão relacionadas a separação das grandes famílias com o arranjo de emprego para os cavaleiros domésticos, das comunidades, do isolamento de cada um em sua casa e dos casamentos dos caçulas da aristocracia, mas todos os mecanismos individualizavam famílias e não pessoas.
  5. Em todas as categorias do edifício social, a tendência contínua durante a época feudal foi para a fragmentação, a dispersão, das células da vida privada. Tal movimento, no entanto, conduzia a individualizar a famílias, não pessoas. Estas permaneceram por muito tempo prisioneiras. Para aprender até o seu termo, até a liberação do indivíduo, os progressos incertos da segmentação, é preciso concentrar novamente a atenção em dois setores estreitos da sociedade. Antes do século XIV, esses pregressos não são claramente visíveis senão em dois níveis, o da instituição monástica, o dos sonhos e dos jogos da cavalaria.
  6. Vivendo em locais isolados, presenciando o distanciamento carnal e obtendo foco na ascensão espiritual, através de intensas orações e a utilização do silêncio, se comunicando através de linguagens gestuais. Eram assim que viviam os anacoretas (monges cristãos que viveram em retiros solitários no procedimento do apogeu espiritual).
  7. A partir do século XI, desencadeado pela de compartimentação do mundo e pela influencia das cristandades orientais e especificamente pela concepção de Bento da Núrsia, sendo tal concepção propagada inicialmente pela península itálica,  surgiu a mentalidade ligada a solidão, ao privado da pessoa na luta contra o demônio, ser maligno que entraria em um confronto individual com o religioso, encontrando dessa forma o auge da espiritualidade rumo aos locais desertos.
  8. No último terço do século XII, referente á posição do eremita sobre as narrativas do divertimento cavalheiresco, em que o ser que vive no isolamento desempenha a identidade da aventura, o cavaleiro errante solitário, levado só por seu desejo, no seu cenário silvestre e florestal,sendo um dos lugares de maior ação romanesca, desencadeando assim no imaginário dos jovens, a concepção de liberdade sobre o sistema de coerção feudal.
  9. A literatura cavalheiresca, focada na conquista individual do ser, em que, o cavaleiro para ser vitorioso passaria por várias etapas com momentos de perigos até obter a sua glória, sendo assim apreciado em dois cenários, o solitário na floresta perigosa e o povoado na corte. Na corte tal literatura tinha a função pedagógica de promoção cavalheiresca, sobre a autonomia individual do cavaleiro.
  10. O amor cortês, ocorrendo na aristocracia, relacionado a autonomia individual, pelo fato de ser um jogo da sociedade e ocorrer no privado doméstico, que tinha como uma de suas regras a discrição do casal, dando  o inicio ao entendimento intimidade, sendo uma intimidade longe dos olhos dos invejosos, pois se eles descobrem, o amor começa a deteriorar
  11. O corpo era delegado sobre o entendimento de ser uma alma que era partilhada entre a carne e o espírito. E era um local perigoso, tentador, que ás vezes representava o mal, mas que também podia receber os castigos purificadores. Era visto pelo homem como um meio de desejos, de corrupção que poderia fazê-los, perder sua honra e na vida privada doméstica, como uma estrutura extremamente íntima e secreta que não pode ser rompida. E é dever dele, protegê-la de toda a forma, portanto, a mulher é dependente da delegação do homem desde o seu nascimento até á morte.
  12. Referente aos banhos, dando foco as classes abastadas que tomavam utilizavam os mosteiros clunisianos, ocorria uma estrição do contato entre a mulher e o homem durante tal ato, pois no banho, revelaria os locais tentadores do pecado. A limpeza dos monásticos, no qual recebiam restrições mais severas, ocorrendo á ação do banho durante duas vezes ao ano, nas festas de renovação, natal e páscoa.
  13. Ao menos, o corpo era objeto de um minucioso trabalho de ajuste. O essencial desse tratamento resultava em sublinhar a diferença dos sexos. Com efeito, era fundamental a obrigação, e os moralistas lembram-se incessantemente, de distinguir as “ordens”, de respeitar a separação primordial entre masculino e o feminino, portanto, de não mascarar em seu próprio corpo os traços específicos de um ou de outro: veemência contra os jovens dândia que afeminavam seu vestuário; repugnância diante das raras mulheres que ousavam vestir-se de homem.
  14. No inicio do feudalismo, era a obrigação dos monásticos, levar o povo a devoção divina ou melhor ao caminho divino, eles eram a voz e a reza cantante do povo. Já o príncipe assegurava a salvação do povo, pois se ele pecasse, seu reino era imediatamente atormentado.
  15. Algumas pessoas não queriam representantes para fazer suas orações e procuravam buscar autonomia espiritual de uma forma individual, essas pessoas eram definidas como heréticas perante o clero. E devido tal ato, a igreja além de confiar aos príncipes o enquadramento religioso no privado de suas capelas, também difundiu a palavra cristã entre o povo, de uma forma mais íntima e privada
  16. A igreja convocou os fiéis a ter uma responsabilidade individual na sua progressão espiritual, a prática cristã se realizou de uma forma lenta, se iniciou nos poderosos, pois os mesmos deveriam dar exemplo e depois se propagou para o povo. Até a leitura sacra que era lida em voz alta, após tais mudanças passou a ser lida em voz baixa e de forma individual.
  17. A interiorização religiosa resultava de uma pedagogia dos clérigos, dos sermões, tendo muitas das vezes uma grande platéia. Ocorriam histórias de pregadores, sobre a aventura de indivíduos que no meio da noite e em locais isolados faziam conversações privadas sobe suas escolhas pessoais, com a virgem, com um anjo ou com um fantasma ou até mesmo com o demônio.
  18. A escrita privada ou sobre o privado introduz incontestavelmente, quando os testemunhos se multiplicam, uma profunda mutação na atitude dos indivíduos em relação aos grupos familiares e sociais aos quais pertencem: uma preocupação de transmitir, no mínimo de descrever fenômenos vividos, sobre os quais as gerações precedentes se calavam.
  19. A vida privada pertence sem dúvida ao campo menos certo da história, aquele em que o estudo das estruturas econômicas, sociais, culturais corre o risco de ser um instrumento em pesado para abordar a diversidade irredutível dos sujeitos individuais; os historiadores são formados nas idéias gerais mais que na escuta das vozes do passado. Ser sensível à voz é deixar-se surpreender pela liberdade de uma confidência, pela audácia de uma expressão, pela fantasia que se desprende de um te4xto, pelo amor que exala de um queixume sobre uma criança morta.
  20. A confissão, o diário, a crônica, no final da Idade Média, fontes de informações em que o indivíduo apresenta por vezes sobre sua vida privada, isto é, sobre seu corpo, suas percepções, seus sentimentos e sua concepção das coisas, apanhados sinceros, tanto quanto pode dê-lo uma memória redescoberta que pretende “pintar o ser de frente e não de perfil”
  21. Mais que qualquer outra forma narrativa, a confissão incita à colocação em cena do individuo como protagonista de uma aventura espiritual.
  22. O autorretrato nos leva, num sopro, às misérias da vida privada, que Boccaccio, em seu retrato literário do grande homem, desvelou-se em apagar, assim como estendeu sobre suas próprias lembranças o véu dos lugares-comuns dos antigos.
  23. A atenção prestada aos fatos que, de perto ou de longe, constituem a trama de uma memória familiar acarretou, nos meios leigos acostumados a escrever, a conservação de papéis e de registros privados. Tabeliões e escrivães a serviço dos assuntos públicos, comerciantes de todos os níveis, do comércio varejista às grandes empresas internacionais, até mesmo alguns artesãos formam um grupo que se amplia, do século XIII ao XVI,  para o conjunto dos notáveis em todas as cidades da Europa.
  24. Se existe uma evolução na descoberta do indivíduo no final da Idade Média, ela se deve aos procedimentos de análise do real, aos instrumentos e ao vocabulário; a prática da dissecação, o hábito da freqüente confissão, o uso da correspondência privada, a difusão do espelho, a técnica da pintura a óleo. Mas a multiplicação dos pontos de vista, o virtuosismo na imitação, a decomposição dos mecanismos do corpo não bastam para compreender o indivíduo em seu privado, assim como de vidro colorido não bastam para formar um mosaico.
  25. Espelhos uma dimensão suplementar do mistério do ser foi introduzida na pintura pela invenção do auto-retrato. É incontável o número dos pintores que, como os mestres esculpindo um fecho de abóbora, experimentaram a tentação de fazer conhecer seu rosto; de início eles se introduziram nos grupos e nas multidões piedosas que pintavam.
  26. O vestuário é uma das marcas essenciais da conveniência social, tanto que o hábito das assembléias e das procissões destina a cada parte do povo seu papel e seu lugar, localizável pela forma e pela cor. Em conseqüência, o vestuário é a aposta de um surdo conflito entre a ordem política e o movimento econômico; é incontável o número das cidades que publicaram leis suntuárias e aumentaram o rigor, nos séculos XIV e XV, à medida que a abastança dos homens de ofício e o luxo dos ricos faziam elevar-se a maneira de vestir.
  27. Suntuoso ou cômodo, o traje está estreitamente ligado ao íntimo: convencemo-nos disso pelo lugar que ocupa nos diários de despesa, assim como pelas imagens de si que suscita no final da Idade Média. E se é preciso voltar agora às conveniências e aos signos, é que não se esgotou seu sentido ao evocar os níveis sociais da aparência. O traje é sempre mais que o tecido e o ornamento estendem-se ao comportamento, determina este último tanto quanto o põe em evidência: marcam as etapas da vida, contribuí para a construção da personalidade, apura a distância entre os sexos.
  28. É efetivamente durante os anos de juventude e de formação que o vestuário permite exprimir sentimentos pessoas. O final da Idade Média não teve o privilégio exclusivo de indicar, por meio de detalhes codificados da aparência, gostos, intenções e desejos: seguir a moda é, em todos os tempos, curva-se à tendência dominante distinguindo-se ao mesmo tempo dos outros.
  29. A nudez é o sinal de uma regressão em relação à ordem coletiva, de uma ruptura com os círculos da sociabilidade medieval; mesmo nos tímpanos das catedrais, eleitos e condenados estão ainda vestidos. A nudez feminina é a luxúria, malsã e ruiva, tal como a vê Pisanello; é também a exibição forçada das prisioneiras cativas entre as quais um imperador de romance escolhe uma mulher, ou das cenas de violência ao clarão das tochas. Quanto à nudez masculina, está associada, nas representações literárias, aos fantasmas da loucura ou da vida selvagem: o menino-lobo, o cavaleiro privado de senso não têm memória nem gestos controlados, e uma nova pele os recobre.
  30. Perfeitamente privada por natureza, a união carnal foi cercada pela sociedade medieval de ritos publicitários, quando era ato fundador de uma família, até o leito nupcial em que os esposos penetram sob o olhar de seus próximos, até a alegre exposição dos lençóis no dia seguinte às núpcias consumadas.
  31. A lavagem do corpo já não provoca no final da Idade Média as prevenções do moralismo monástico; oi, pelo menos, a prática do banho e da sauna parece tão geral, e em todos os meios, que as reservas sobre a lavagem completa e frequente do corpo jaó não parecem admissíveis.
  32.  Mais que o olfato ou o gosto, a visão é implicitamente reconhecida como o sentido mais indispensável à testemunha que a história interroga. A medida do espaço, necessária à sua utilização, parte da visão mais próxima, a que o homem tem de seu próprio corpo, o palmo, a braça, o pé, e mesmo o arremesso de balestra e a légua têm uma relação direta com o íntimo, isto é, à relação consigo do homem do Ocidente, semeador, industrioso, combatente.
  33. No sentido espiritual, o retiro se define enfim como um movimento ascensional, para chegar a um lugar elevado, simbólico e íntimo.
  34. Lancemos um último olhar a esses objetos bem materiais, documentos e representações, cartas e crônicas, imagens humildes ou sublimes, livros de horas folheados, registros em tabelião interrompidos pela morte, restos de vestuário, pegadas frágeis e incertas deixadas irrefutáveis e definida, porque a busca dos vestígios do íntimo está longe de ter terminado.

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