O RACISMO AO MEU VER
Por: Rô Andrade • 10/1/2022 • Ensaio • 465 Palavras (2 Páginas) • 105 Visualizações
O racismo, como muitos outros conceitos depreciativos de pessoas, tem suas bases em múltiplas intenções das classes dominantes. Ele foi cuidadosamente sendo construído, delineado, justificado e legitimado a partir de aspectos morais, científicos, religiosos etc., e foi se impregnando e alastrando no inconsciente social brasileiro de tal forma que se faz presente até mesmo em concepções, atitudes e anseios de pessoas que na verdade também são alvos dele.
Nesse sentido, não raro, vemos e ouvimos afrodescendentes se utilizarem de expressões e ações que não deveriam estar presentes sequer no imaginário de todo e qualquer ser humano que se compreenda como humano. Pois, expressões que ao denegrir o outro, na verdade, denigrem a todos os seres humanos por revelar sua incapacidade de reconhecer no outro um espelho de si mesmo como sujeito constituinte de uma mesma raça: a raça humana.
É, no mínimo contraditório ver um(a) descendente de negros e negras escravizados proferir asneiras como: “tem que clarear a cor!”; “aquela crioulinha!”; “tinha que ser preto!”; “fulano já é ruim e o cabelo ainda ajuda!”. Porém, chega a doer na alma presenciar uma cena em que crianças afro-brasileiras, em um templo cristão, riem de uma coleguinha de pele retinta, após uma delas dizer: “Você não é daqui! Você não é de Deus! Você é dos tambores! Seu lugar não é aqui!”.
Os exemplos acima descritos são uma pequena amostra de como está enraizada em nossa sociedade uma concepção do ser negro como algo ruim, desprezível e até demonizado. O que faz com que muitos não queiram se reconhecer como negros, não querem negros em suas descendências, e quando tem em suas relações algum negro com o qual se identifique de alguma forma, cuida logo de negar sua negritude: “Mas, meu amigo, você não é negro. Você é moreno!”
Tais concepções estão de tal forma imbricadas aos valores familiares e sociais que foram e são disseminados no seio familiar e em outros grupos sociais, nas comunidades, escolas, igrejas; e o que é pior, de forma tão natural e camuflada que, muitas pessoas, propagam essas concepções sem perceber que o que estão fazendo é difundir e cometer racismo. Nessa perspectiva, penso que, como professores e professoras, temos um importante papel no sentido de contribuir para um processo de desconstrução desses equívocos.
Para tanto, vejo como muito relevante o trabalho com as crianças, adolescentes e jovens, no contexto educacional, que se organize em torno do conhecimento e valorização de nossa ancestralidade, que pode se pautar no cumprimento da Lei 10.639/2003, levando aos nossos alunos conhecimentos sobre toda riqueza e diversidade dos povos africanos, seus conhecimentos, suas lutas, suas conquistas, seu passado mais remoto de que se tem conhecimento, seu passado mais recente, enfim, tudo o que contribui para a percepção do valor e da grandeza de nossas origens.
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