O Símbolo Dos Olhos Através Do “Paradigma Indiciário” De Carlo Ginzburg
Por: Matheus Alexssander • 25/11/2023 • Resenha • 1.192 Palavras (5 Páginas) • 83 Visualizações
GINZBURG, Carlo. Sinais: raízes de um paradigma indiciário.
In Mitos, Emblemas e Sinais. (texto 08) texto de 1979
QUESTÕES PRINCIPAIS
- – visão geral:
Pode-se dizer que o Paradigma Indiciário, de Ginzburg, se resume ao trabalho detetivesco, ou seja, o historiador italiano parte do pressuposto de que toda realidade está repleta de pequenos detalhes que permitem vê-la numa profundidade pouco costumeira. Assim, seu método pode ser resumido nesta passagem do texto que trabalharemos a seguir: “Se a realidade é opaca, existem zonas privilegiadas – sinais, indícios – que permitem decifrá-la”.[1]
Ginzburg é conhecido pela monumental erudição. Por isso, seus textos estão repletos de notas explicativas e de várias conexões com outros textos, inclusive das áreas que ele sempre está rondando, como antropologia, história da arte, psicologia, literatura, política cultural, linguística e geografia.
- – estruturação do texto:
Como a maioria dos artigos de Ginzburg, este texto está dividido em tópicos não intitulados, indicados com algarismo romano (I), e dentro deles, pequenos subtópicos, também não intitulados e apenas indicados com um número natural (1.). Desse modo, tive a ousadia de intitular os tópicos de acordo com o entendimento que tive de cada um e com o intuito de os títulos formarem, em seu conjunto, uma espécie de sumário-guia que contribui para o entendimento do texto como um todo.
Vale lembrar que Ginzburg raramente afirma ou toma uma posição apressadamente, mesmo num texto como este, de caráter teórico-metodológico. Sua estratégia narrativa constitui em fazer sempre uma relação com acontecimentos aparentemente dissociados, mas que, por fim, contribuem para o clareamento da realidade, volto a dizer, mesmo se o texto em questão tem como fim a apresentação e defesa de um método de investigação historiográfica. Para resumir, Ginzburg está sempre contando e analisando um período histórico: é assim que ele traz Giovanni Morelli (1816-1891), Sherlock Holmes (Arthur Conan Doyle (1859-1930)) e Sigmund Freud (1856-1931) para uma mesma trama histórica visando à exposição de um paradigma.
Pequena (e importante) introdução (p. 143)
- A primeira e importantíssima informação dada por Ginzburg refere-se ao fato de que o paradigma indiciário desenvolveu-se à sombra do paradigma iluminista, hegemônico no século XIX
– As raízes do método indiciário: Morelli, Holmes e Freud (p. 143-151)
- – o método morelliano: examinar os pormenores mais negligenciáveis.
- – método e inquérito em Holmes: relação de indícios imperceptíveis para a maioria.
- – o terceiro elemento: a investigação freudiana – da pintura ao gesto e às palavras
- – Morelli e a influência na psicanálise
- Ginzburg e a investigação no texto de Freud: indícios no discurso.
- a proposta geral – via Freud: “método interpretativo centrado sobre os resíduos, sobre os dados marginais, considerados reveladores”.[2]
- Individual x Universal: revelação das particularidades que escapam ao controle da consciência – poderíamos acrescentar: ao controle da norma.
5. – ligação entre Holmes e Freud – fechando o círculo: M 🡪 H 🡪 F 🡪 M: tudo isso redunda na semiótica médica.
- categorias indiciárias: sintomas (Freud); indícios (Holmes); signos pictórios (Morelli): os três – semiótica médica.
- Mas segundo Ginzburg, a interpretação sobre os sinais menos explícitos vem de bem antes
– Raízes das raízes: dos caçadores do neolítico à ciência do séc. XIX (p. 151-169)
1. – Indício venatório (universo da caça): “gerações e gerações de caçadores enriqueceram e transmitiram esse patrimônio cognoscitivo”[3] (se quisermos chegar até o historiador, lembra a declaração de Bloch sobre o ogro da floresta que fareja carne humana.)
- da narrativa venatória à divinatória (adivinhos mesopotâmicos)
- as ferramentas dos indícios: análises, comparações, e classificações
- “por trás desse paradigma indiciário ou divinatório [primitivo], entrevê-se o gesto talvez mais antigo da história intelectual do gênero humano: o do caçador agachado na lama, que escruta as pistas da presa.”[4]
- – as disciplinas Grécia, não-divinatórias (para além do oráculo), mas ainda assim dependente de um paradigma indiciário
- – o paradigma galileano (quantitativo e modelar), base do paradigma científico iluminista, soterra o paradigma indiciário.
- Porque a história nunca conseguiu ser efetivamente uma ciência aos moldes do paradigma galileano?[5] :
- O que é, para Ginzburg, o conhecimento histórico?[6] :
- A noção de abstração do texto
4. – segundo Mancini, médico contemporâneo de Galileu, há uma impossibilidade de rigor total na ciência.
– sintoma da modernidade: a escrita individual – elemento da própria noção moderna de individualidade.
- – discussão sobre a individualidade
- – a trajetória da ciência moderna em relação ao individual – opções: “sacrificar o conhecimento do elemento individual à generalização... ou procurar elaborar, talvez às apalpadelas, um paradigma diferente, fundado no conhecimento científico do individual.”[7]
– “a tendência a apagar os traços individuais de um objeto é diretamente proporcional à distância emocional do observador”. Ao paradigma indiciário foi sendo colocado o generalizante. Ou seja, operar, resgatando Aristóteles, sobre as “propriedades comuns”
- – as ciências humanas: problemas quanto ao paradigma generalizante. Vivendo das incertezas de uma ciência quantitativa e modelar...
- – a burguesia e o “novo destino” do individual através da imaginação artística, basicamente literária.
- – o exercício indiciário fora da ciência, dentro do romance moderno, através do romance policial.[8]
– O paradigma indiciário de Ginzburg (p. 170-179)
- – ainda um pouco de genealogia
- – o paradigma e a individualidade social e cultural
- – as sociedades e as distinções individuais – individualidade: o caso da identidade, da localização e controle social.
- – o não-abandono da totalidade pelo paradigma indiciário.
- visões de mundo.
- De acordo com Ginzburg,
os populares nem sempre aceitam a discriminação, investindo toda a sua energia em manifestações culturais, garantindo a expressão de suas necessidades, anseios e aspirações, nisto que a cultura configura-se como o principal veículo de coesão e de construção de uma identidade própria, especialmente num contexto que lhes exclui do reconhecimento de direitos. Inclusive, desde muito cedo, desenvolveram-se as trocas culturais, interpenetrando-se suas manifestações com aquelas dos segmentos mais elevados.[9]
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