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O Segundo Sexo

Por:   •  6/10/2018  •  Resenha  •  1.934 Palavras (8 Páginas)  •  464 Visualizações

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Resenha por: Érika Francelino Vieira

Texto resenhado: BEAUVOIR, Simone de. O segundo sexo: I fatos e mitos. São Paulo, Difusão Europeia do Livro, 1970.

        

Simone de Beauvoir, que é formada em Matemática, Literatura e Filosofia, escreve nesse livro de forma bem específica e fundamentada sobre a Mulher. O recorte do texto proposto apresenta a visão da autora sobre as formas de subjugação da Mulher em termos gerais, seguidos da proposta da Psicanálise e do Materialismo Histórico sobre o que define a Mulher e qual o seu papel diante a sociedade.  

Sendo o texto dividido em três grandes partes, dividi essas em seções. A primeira seção da primeira parte do texto tem como objetivo nos indagar: o que é Mulher? Por que todo o ser humano fêmea é Mulher? Para ela, conceitualismos e as ciências biológicas e sociais não são capazes de responder essa pergunta, tão pouco negar a sua existência é a forma adequada de lidar com o ‘problema’, as diferenças entre os sexos são gritantes; construiu-se a ideia de que o homem é tipo absoluto de ser humano, enquanto a Mulher segundo grandes nomes como Sto. Tomás decreta que a mulher é um homem incompleto, retirando assim a nossa subjetividade, apresentando-nos como o Outro.

A segunda seção da primeira parte aborda essa construção da Mulher como o Outro, o que seria o Outro? Segundo Simone a categoria de Outro é tão original quanto a própria consciência, sempre houve e sempre haverá um determinado grupo de pessoas que se definirão como Mesmo, de tal modo que o encontro com o Outro causaria uma certa estranheza, aí está o problema, a Mulher nunca foi uma sociedade separada do homem, os sexos sempre conviveram juntos, por quê a existência dessa diferenciação? A autora usa Hegel ao dizer que descobre-se na própria consciência uma hostilidade fundamental em relação a qualquer outra consciência, desse modo transformando o Outro em inessencial, objeto. Se a Mulher é hoje o Outro foi porque aceitou tal submissão, o que não imputa a questões numéricas tendo em vista a equiparidade entre os sexos, não há também um evento histórico que causou essa diferenciação, Simone evidencia então uma coisa que é ao mesmo tempo clara e imperceptível, essa relação de dependência nunca aconteceu. De acordo com Simone, a Mulher ainda não conseguiu se identificar como Sujeito, não falamos Nós com propriedade, e é, ao meu ver, nessa emancipação que se encontra o verdadeiro feminismo. Não é possível cortar laços com os homens, a Mulher é o Outro de uma totalidade cujos dois lados são necessários um ao outro. Simone então mostra diferenças entre os sexos em áreas como o mercado de trabalho e expõe a relação de vassalagem da Mulher em relação ao homem.

Na próxima seção da primeira parte do texto a autora faz uma das mais importantes perguntas: como tudo isso começou? E por que certas coisas só começaram a mudar recentemente? Para ela o simples fato de ser a Mulher o Outro contesta todas as justificações que os homens lhe puderam dar. Homens exibem a satisfação de se sentirem os reis da criação, favoreceram seu próprio sexo criando leis e transformando-as em princípios segundo Poulain de La Barre, colocaram a Mulher como a causa de todo o mal através de mitos e lendas, pintaram suas ‘fraquezas’ e gratuitamente as hostilizaram desde a antiguidade. Somente no século XV||| alguns homens passam a colocar a Mulher como um ser humano assim como o homem; com a revolução industrial vem a tona um feminismo prático cujo moralismo burguês e medo da concorrência proletária fazem o possível para frear, buscando como subsidio além de questões teóricas teológicas a ciência biológica, psicológica e experimental. De forma objetiva Simone reconhece a inferioridade das Mulheres em relação aos homens e questiona se essa realidade deve continuar.

A quarta seção da primeira parte expressa a ‘ameaça’ que a emancipação feminina representa aos homens, tanto moral quanto aos interesses, tendo em vista que até mesmo um homem medíocre sente-se superior as Mulheres. A autora afirma brilhantemente que ninguém é mais arrogante em relação às Mulheres, mais agressivo ou desdenhoso do que o homem que duvida de sua virilidade, no fim das contas é uma questão de insegurança, atribuída exclusivamente às Mulheres em sua ‘fragilidade e sentimentalismo’. Esses mesmos homens numa tentativa de justificativa escolhem quando melhor lhes servem usar ou não desigualdade entre os sexos. Para Simone, é preciso deixar noções como superioridade e igualdade de lado e reiniciar as discussões, quem seria então o juiz no final das contas? Mulheres.

Na ultima seção da primeira parte a autora coloca questões existencialistas a serem discutidas, para ela a Mulher deve buscar transcendência, deixando de ser o Outro e alcançando assim a liberdade.

Avancemos então para a segunda parte do texto que tenta esclarecer o ponto de vista psicanalítico, na primeira seção da segunda parte Simone vê como um avanço considerar que não é a natureza que define a mulher: esta é que se define retomando a natureza em sua afetividade, e se prontifica a analisar essa perspectiva, afirmando que certas noções como sexualidade são vagas tanto em Freud quanto em Dalbiez, e que estes, querendo ou não, apoiam suas afirmações na metafísica, causando assim certas confusões.

Na segunda seção da segunda parte o texto aborda questões específicas sobre como Freud assume que a sexualidade da Mulher é tão evoluída quanto a do homem, porém não se dispõe a estuda-la, trazendo questões como o desenvolvimento da libido durante o crescimento e distinguindo o da Mulher entre clitoridiano e vaginal, cujo desenvolvimento dá-se respectivamente durante o estágio infantil e a puberdade. Conceitos como complexo de Édipo, complexo de castração e complexo de Eletra são mais artimanhas da psicanalise freudiana para o motivo do desenvolvimento da diferença entre os sexos durante as fases iniciais da vida.

Na próxima seção da segunda parte do texto a autora crítica essas afirmações, colocando que foi calcado sobre o modelo masculino, que são vagas, além de fazer generalizações. A Mulher não se sente castrada por não possuir um pênis, é imposto a ela esse sentimento, enquanto para o homem seu pênis é tanto um objeto quanto ele mesmo, para a Mulher ela é o objeto junto ao órgão sexual. Em seguida Simone nos apresenta a teoria de Adler que traz o complexo de inferioridade como base, segundo tal a Mulher é dividida contra si mesma muito mais profundamente do que o homem, aceitando assim que é Mulher, logo, que é inferior.

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